O Fariseu e o Publicano (Lc 18, 9-14)

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28/04/2016 - 13:00

Jesus dirige a parábola do fariseu e do publicano a alguns que se presumem “justos” diante de Deus e “desprezam” os outros. Os dois protagonistas que sobem ao Templo para rezar representam duas atitudes contrapostas e irreconciliáveis. Mas qual é a postura correta diante de Deus? É esta a pergunta de fundo.

O fariseu é um praticante fiel de sua religião. Confia em seus “méritos”. Reza de pé e com a cabeça erguida. Uma oração de louvor e de ação de graças. Mas não dá graças a Deus por sua bondade, por sua misericórdia, e, sim, pelo que há de grande e bom nele próprio, fariseu. Não experimenta a salvação como dom, mas como mérito, como algo conquistado por ele próprio (auto-salvação). Com sua própria história cheia de méritos; não sente necessidade de ajuda; não precisa de Deus (…). Não pede nada a Deus. Basta-se a si mesmo. Reza a si mesmo (monólogo). Adora a si mesmo. Esse homem, na verdade, não reza, pois falta-lhe “humildade”: a verdade sobre si mesmo.

Falta ao fariseu humildade; saber reconhecer suas “virtudes” e também seus “defeitos”. Deus nos conhece profundamente; sabe de que “barro” fomos feitos, pois foi ele quem nos fez. O salmista expressa muito bem esta realidade humana: “Senhor, tu me sondas e me conheces, sabes quando me sento e me levanto. Penetras de longe meus pensamentos, (...) sabes todas as minhas trilhas. A palavra ainda não me chegou à língua e tu, Senhor, já a conheces totalmente” Sl 138 (139), 1-4. Deus conhece a “verdade de nosso ser”, isto é, o que de fato somos. É, portanto, uma grande bobagem tentar enganar Deus!

Diante de Deus, devemos nos apresentar como realmente somos, sem dissimulações. Apresentar a ele tudo de bom, e também de negativo, que há em nossa vida. Nosso “lodo existencial” também deve ser tema de nossa oração. É preciso evitar o “perfeccionismo”. O perfeccionista procura viver apenas com os melhores fragmentos de si mesmo, aqueles que estão em conformidade com o que os outros esperam dele. O resto, as fraquezas são recusadas e negadas. Desse modo, a “ferida escondida” vai supurando e contaminando a vida. Esse foi o erro do fariseu e, infelizmente, é o erro de muitas pessoas ainda hoje.

A oração do publicano é diferente. Ele sabe que sua presença no Templo é malvista por todos. Seu ofício de cobrador de impostos é odiado e desprezado. Ele é humilde, honesto consigo mesmo. Reconhece que é pecador: “Deus, tem piedade de mim, que sou pecador” (Lc 18, 13b). Sabe que não pode vangloriar-se. Tem pouco a oferecer a Deus, mas muito a receber dele: seu perdão e sua misericórdia. Em sua oração há autenticidade, existe abertura à graça divina. Sente que precisa da ajuda de Deus.

Os dois sobem ao Templo para rezar, mas cada um traz em seu coração sua imagem de Deus e seu modo de relacionar-se com Ele. O fariseu fechado numa religião de méritos. O publicano, pelo contrário, abre-se ao Deus da misericórdia: suplica o perdão, sem vangloriar-se de nada e sem condenar ninguém.

Revelar ao mundo o verdadeiro rosto de Deus, é o objetivo principal do Ano Santo. Deus é misericórdia. O nome de Deus é misericórdia. Anunciar ao mundo o verdadeiro rosto de Deus. Por isso mesmo, a organização deste Jubileu foi confiada pelo Papa Francisco ao Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, para que possa animá-lo. Sejamos com nossas palavras e especialmente com o nosso testemunho de vida, mensageiros da misericórdia divina!

 

Dom José Roberto Fortes Palau