Fortaleza das santas mulheres

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20/04/2017 - 14:15

Ao contrário do que se costuma dizer, “a mulher é mais forte do que o homem, e mais fiel na hora da dor” (Caminho, n. 982). Isto se vê com muita clareza durante a Paixão de Cristo. No Calvário há uma série de mulheres que já conheciam Jesus há mais tempo. Algumas eram discípulas. Quantas mulheres havia? É difícil saber, porque os evangelistas citam algumas, sem dizer que fossem as únicas. Assim, sabemos, com certeza, que estavam presentes a Virgem Maria, Maria Madalena, outra Maria, mulher de Cléofas e também a mãe de Tiago e João (o único dos apóstolos presente).

De fato, quando revivemos a Via-Sacra, nos surpreendemos ao verificar que, durante os passos de Jesus em direção ao Calvário, somente as mulheres permaneceram a seu lado. Exceto João, os que fogem e traem Cristo são os homens. Eles haviam prometido permanecer junto de Jesus até o fim, como, em seu nome, disse Simão Pedro a Jesus logo que Ele anunciou que seria entregue à morte: “Ainda que seja preciso morrer contigo, não te renegarei. E todos disseram o mesmo” (Mt 26,35). As mulheres dão provas de fortaleza e fidelidade maiores que as dos homens. São capazes dessa grande fidelidade porque amam decididamente Jesus e não têm medo de demonstrar esse amor diante de quem quer que seja: “Seguia-o uma grande multidão de povo e de mulheres, que batiam no peito e o lamentavam” (Lc 23,27). Nos versículos seguintes, Lucas explica que Jesus se deteve no caminho do Calvário, com a Cruz às costas: “Voltando-se para elas, Jesus disse: Filhas de Jerusalém, não choreis sobre mim, chorai sobre vós mesmas e sobre vossos filhos. (...) Porque se eles fazem isto ao lenho verde, que acontecerá ao seco?” (23,28; 31).

Ainda no caminho do Calvário, há outra mulher determinada e decidida, que não receia passar dos sentimentos à prática. Como sabemos, esse relato não está no Evangelho, mas consta de uma piedosa e antiga tradição, incluída na 6a estação da Via Sacra: “Uma mulher, de nome Verônica, abre caminho por entre a multidão, levando um véu branco dobrado, com o qual limpa piedosamente o rosto de Jesus. O Senhor deixa gravada a sua Santa Face nas três partes desse véu.” (Via Sacra, São Josemaria). O que o gesto de Verônica nos ensina? Por um lado, a compaixão. Sente as dores de Jesus e não se detém em furar o cerco dos soldados e se colocar diante dele. Com seu lenço, carinhosamente, alivia o sofrimento do Senhor. Também aprendemos dela a coragem para enfrentar a hostilidade dos que tramam contra o Filho de Deus, a decisão de vencer o medo, de manifestar externamente o seu amor e a sua fidelidade. Verônica também nos ensina a procurar o rosto de Cristo. Olhar nos seus olhos, desejar ver a face de Jesus. Também nós deveríamos conhecer cada vez melhor o rosto e o olhar de Cristo, para atingir a compaixão com os seus sentimentos e viver mais profundamente o Tríduo Pascal. Nosso Senhor sentiu-se de algum modo confortado e agradecido pelo seu amor: recebeu o consolo do seu amparo no momento difícil da agonia e do sofrimento até a morte. Por isso, é lógico que serão essas mulheres as primeiras pessoas a receber a notícia da Ressurreição.

Ao percorrermos os últimos dias de Jesus na Semana Santa, devemos aprender do exemplo dessas mulheres e entender que a vida cristã consiste em apaixonar-se por Cristo, que entrega sua vida na Cruz pela nossa salvação, em redenção dos pecados de todos os homens e ressuscita para nos dar a vida eterna. A santidade não se reduz à luta contra o pecado, ainda que isso seja obviamente necessário; a santidade não consiste em fazer coisas cada vez mais difíceis, mas seguir uma pessoa divina: Jesus. Morrer com Ele, para, juntamente com Ele, ressuscitar.

Deus quer contar com um novo grupo de homens e mulheres fiéis. Estejamos nós também dentre eles.