A festa está preparada. Muitos presentes já estão embrulhados, os Correios estão repletos de cartões de felicitações, Papai Noel está com listas e listas de encomendas e a ceia de Natal, com ou sem peru, já está organizada. No ar, sente-se um clima de festa, mesmo sem saber bem o motivo. Afinal, o que ou quem é o festejado? É Papai Noel, ou o mito do “bom velhinho”? É a projeção dos bons desejos que afloram ao menos uma vez ao ano e são celebrados coletivamente? São as doces recordações da infância e da comidinha de Natal na casa da vovó? Há um pouco de tudo isso no Natal e muito mais ainda.
Dá para fazer propaganda no mercado do Natal, sem mencionar uma vez sequer o nome de Jesus. Para quem é cristão, o Natal é uma celebração densa de significado, cujo centro é Jesus Cristo, Filho de Deus, nascido humanamente da Virgem Maria. Celebramos o Mistério da Encarnação, sublime mistério da fé, que fala de uma realidade impossível ao homem, mas não a Deus. O evangelista São João, no prólogo do seu Evangelho, resume essa verdade profunda nesta frase lapidar: “O Verbo se fez carne e veio habitar no meio de nós” (Jo, 1,14). Deus, que no passado enviou ao mundo seus mensageiros, os profetas, envia, agora, seu Filho, a própria Palavra da verdade, “esplendor da glória do Pai e expressão do seu ser” (Hb 1,3).
Essa mesma palavra, que estava com Deus desde o princípio de todas as coisas e por meio da qual tudo foi feito, veio ao mundo na pessoa do Filho eterno de Deus, que não achou humilhante para si unir-se à criatura para enriquecê-la de seus dons divinos. O Natal celebra a proximidade de Deus, que “tanto amou o mundo, ao ponto de lhe entregar seu Filho único”, para que todos tivessem a vida por meio Dele (cf. Jo 3,16). E celebra a ternura e a compaixão do nosso Deus (cf. Tt 2,11), que assume a condição de uma criança frágil e indefesa para que ninguém tenha medo de aproximar-se Dele.
Com razão, a Liturgia do Natal canta: “Ó grande mistério”, no qual Deus não é empobrecido nem diminuído, mas o homem ganha uma incomparável dignidade. Assumindo a nossa pobreza, Ele a enriquece com sua divindade. Que maravilhoso intercâmbio de dons entre o céu e a terra: o céu nos dá o que tem de melhor: o próprio Filho amado do Pai! E a terra retribui esse presente, oferecendo também o que possui de melhor: a nossa pobre humanidade! E a Igreja reza, maravilhada e agradecida: “Ó Deus, que admiravelmente criastes o ser humano e mais admiravelmente restabelecestes a sua dignidade, dai-nos participar da divindade do vosso Filho, que se dignou assumir a nossa humanidade” (Missa do Natal).
Os sentimentos e atitudes que deveriam acompanhar a celebração do Natal são a humildade, a alegria, a ação de graças, o louvor e a adoração. A humildade porque o grande Deus se fez pequenino e, por isso, não cabe mais nenhum sentimento de soberba ou autossuficiência. A alegria porque o nascimento de Jesus é um grande dom para toda a humanidade, conforme o anúncio do anjo aos pastores de Belém: “Eis que vos anuncio uma grande alegria, que será também para todo o povo” (Lc 2,10). De ação de graças porque Deus é muito bom para conosco e deu novo sentido à existência humana a partir do Natal. De louvor e adoração porque isso convém a Deus e é nosso dever, depois de conhecer sua grandeza e bondade.
Neste ano, a celebração do Natal coincide com a abertura do Jubileu dos 2025 anos do nascimento de Jesus. O Papa Francisco abre o Jubileu na vigília do Natal, na Basílica de São Pedro para o mundo inteiro. E, em cada diocese do mundo, o bispo diocesano abre o Jubileu para a sua diocese no domingo, 29 de dezembro. Também nós, em São Paulo, o faremos, iniciando às 15h com uma peregrinação a partir do Largo São Francisco até à Catedral, onde será celebrada a missa. Teremos, depois, o ano todo para as diversas iniciativas programadas para celebrar o Jubileu, que terá como tema a esperança: somos “peregrinos de esperança”, de uma esperança “que não decepciona”.
Dom Odilo Pedro Scherer