Quaresma e Campanha da Fraternidade de 2008

A Quaresma é o tempo de preparação da Páscoa, durante o qual a Igreja convida nos a fazer intensos exercícios de penitência, para a renovação da nossa adesão a Jesus Cristo ressuscitado e ao seu Evangelho.

Três são os exercícios quaresmais indicados pela Igreja, neste tempo: o jejum, a esmola e a oração. Pelo jejum exercitamo-nos no desapego aos “apetites terrenos” e na busca do alimento da Palavra de Deus, lembrados de que “não só de pão vive o homem”; pela esmola exercitamo-nos na justiça e na caridade fraterna, pois a religião sem amor ao próximo seria falsa, uma vez que o amor a Deus é inseparável do amor ao próximo; pela oração, buscamos a Deus, único a dar sentido verdadeiro à nossa existência, e superamos a tentação da soberba da vida.

Também a Campanha da Fraternidade é um exercício quaresmal bem concreto, que  nos ajuda a voltar a atenção para algum aspecto fundamental da convivência humana. Neste ano, com o tema – Fraternidade e defesa da vida -, e com o lema – escolhe, pois, a vida (Dt 30,19), a Campanha quer afirmar mais uma vez o valor intocável da vida de cada ser humano, desde o primeiro instante da sua existência no seio da mãe até seu fim natural, e esclarecer os motivos pelos quais devemos respeitar e defender a vida humana.

É impressionante o número de assassinatos cometidos no Brasil todos os anos e não faltam casos de violência e ameaças à vida humana. Também são muito numerosos os casos de abortos provocados e se fala em legalizar também a eutanásia. Mas esta Campanha da Fraternidade não quer restringir-se à reafirmação clara da posição da Igreja na defesa da vida humana; ela vem para suscitar uma discussão ampla no Brasil sobre os motivos pelos quais devemos assumir a defesa firme da vida humana e pelos quais não podemos aprovar as várias formas de agressão direta contra a vida humana, como o aborto, a eutanásia e o uso de embriões humanos na pesquisa científica.

Além disso, é preciso superar as causas da violência; a principal delas é a indiferença e a insensibilidade diante da violência e dos assassinatos, que acabam sendo vistos como “fatos corriqueiros”. É preocupante quando a cultura e a convivência absorvem a violência como parte do dia-a-dia. Quando se perde a noção do valor da vida e da gravidade de cada morte provocada, uma grave ameaça pesa sobre a vida de todos; mas o risco mais sério sobra para as pessoas indefesas e frágeis, em todos os sentidos.

A vida do próximo é um bem precioso e inviolável, que não nos pertence, nem pertence à sociedade ou ao Estado, mas por estes deve ser tutelada, como o primeiro e mais fundamental direito dos cidadãos; desprezado esse direito, ficam ameaçados todos os demais direitos humanos. A inviolabilidade da vida humana é definida pela Constituição brasileira e pela Organização das Nações Unidas (ONU). Não podemos aceitar leis contrárias à vida humana. Acima de tudo, o respeito à vida humana é claramente estabelecido pelo 5° mandamento da Lei de Deus: “não matarás”.

Não pode haver dúvidas nem vacilação em relação à defesa da vida humana diante de toda forma de agressão direta e voluntária a ela, ainda mais quando se trata de tirar a vida de um outro ser humano. Defender a dignidade da pessoa e a inviolabilidade d e sua vida é uma ação importantíssima de fraternidade e caridade, que decorre da ética humana e da nossa fé em Deus. Isso significa também valorizar e defender a própria vida.

A Campanha coloca-nos diante do dilema: escolher a vida ou a morte. E, com a Palavra de Deus, a Igreja nos convida a escolher a vida; é a única atitude que convém para valorizar a vida do próximo e a própria existência.