O Dia da Pátria evoca o momento histórico da independência do Brasil. O Grito do Ipiranga tem quase 190 anos e, naquele momento, despertou no coração dos brasileiros sentimentos de liberdade, patriotismo e ufanismo nacional. E ainda agora, todos os anos, esses sentimentos se renovam nas comemorações do Dia da Pátria. Mas também caímos na conta de que ainda há muito por fazer para que esses sonhos e aspirações se tornem realidade para todos os brasileiros.
A dependência colonial do País continua ainda hoje, embora de formas diferentes, camuflada na trama das políticas econômicas, financeiras, comerciais e até culturais; independência e autonomia permanecem sonhos distantes na vida real de muitos brasileiros, que vivem na miséria, ou em condições de grave precariedade econômica. A vida política continua dominada por poderosos interesses de grupos, sem estar voltada para os interesses mais amplos da população, sobretudo daquelas camadas sociais mais necessitadas do Poder Público para sua proteção e a promoção de sua dignidade. A independência do Brasil ainda tem etapas a percorrer; certamente estão sendo dados passos na direção justa, mas o povo precisa participar e estar atento para que este processo não passe por cima de suas cabeças e frustre seus justos anseios.
As próximas eleições são uma ocasião para a participação consciente de todos nas decisões sobre os rumos do Brasil nos próximos anos. Votar bem é contribuir com a própria parte para que o Brasil vá bem. Nesse sentido, os Bispos do Estado de São Paulo, em sua assembléia anual de junho passado, elaboraram uma lista de orientações. Votar bem ainda não é tudo; mas deixando de fazer as escolhas certas agora, estaremos colaborando para que o Brasil seja mal governado, leis injustas e desajeitadas sejam aprovadas, a riqueza nacional seja administrada mal, ou até desviada de sua legítima destinação e o atraso de vida se prolongue por mais tempo.
Os cidadãos têm força política e é do povo que o poder político emana. Na democracia, são os cidadãos que escolhem quem faz leis e governa. Por isso, o exercício desse poder, pelo voto, é importante para o País. Por sua vez, quem for eleito, deve exercer o poder político como um serviço ao País e ao povo, de quem recebeu o mandato Por isso, é bom verificar se os candidatos estão comprometidos com as grandes questões, que requerem ações decididas dos governantes e legisladores, como a superação da pobreza, a promoção de uma economia voltada para a criação de postos de trabalho e a melhor distribuição da renda, a educação de qualidade, saúde, moradia, saneamento básico para todos, respeito à vida e defesa do meio ambiente. Governar bem é governar para todos, e não apenas para grupos, que se beneficiam do governante ou legislador para alcançar ou proteger seus interesses particulares.
Político bom está comprometido com o bem comum, que se expressa na liberdade, justiça e solidariedade social, segurança pública e cultura da paz, no pleno respeito à dignidade da pessoa e seus fundamentais direitos, em especial, na inviolabilidade da vida humana desde a concepção até à morte natural. São valores são fundamentais e irrenunciáveis para o convívio social. Isso também requer a promoção de condições econômicas para a satisfação das necessidades básicas e a vida digna da população, bem como o reconhecimento da legítima posse de bens, preservada a dimensão social da propriedade.
As eleições são o momento bom para escolher cidadãos dignos, probos e capazes de governar e legislar com sabedoria e prudência; momento também de não conferir esta responsabilidade pública tão importante a cidadãos que não tenham “ficha limpa”. Isso requer um esforço dos eleitores para conhecer os candidatos e para não votar de maneira inconsequente. Alguém entregaria as chaves de sua casa a um zelador não-confiável? Ou a senha do cofre a um ladrão comprovado?
Bom é lembrar ainda que o voto não é mercadoria e não deve ser vendido; isso seria corrupção eleitoral. Voto não tem preço, é secreto e pessoal, mas não é assunto particular, pois é o exercício de uma responsabilidade pública e tem consequências para a coletividade. Voto não se dá em troca de favores, mas representa a liberdade e a dignidade de cada eleitor. Não se deve vender barato (nem caro) a própria dignidade! É preciso examinar a história pessoal dos candidatos, suas idéias e as propostas defendidas por eles e seus partidos; partidos são importantes, pois amarram a autonomia dos mandatários. Nas urnas, o eleitor deposita um “voto de confiança” nos candidatos. Confiança é dada a quem a gente conhece.
Algumas questões não devem ficar fora da consideração dos eleitores cristãos e católicos. A religião pertence à identidade de um povo; dê seu voto de confiança a políticos comprometidos com a liberdade religiosa e de consciência, o respeito pelas convicções religiosas dos cidadãos, seus símbolos e instituições religiosas e a livre manifestação de sua fé. A Família é um patrimônio da humanidade e um bem insubstituível para a pessoa. Nosso voto pode fazer com que o Poder Público promova o casamento e a família bem constituída, proteja a família contra sua destruição e lhe assegure condições para cumprir bem sua missão. Mas nosso voto também pode ter o efeito contrário, dependendo de quem escolhemos. O casamento e a família natural são patrimônio da humanidade e a sociedade que descuida da família destrói suas próprias bases.
Já escolheu seus candidatos? Eles se enquadram nas suas convicções? Se forem eleitos, o que pode ser feito para acompanhar o exercício do seu mandato e ver se cumprem o que prometeram e se fazem jus ao voto de confiança que receberam?
Publicado em O SÃO PAULO, ed. de 07.09.2010