Na velhice, não me abandones

No dia 26 de julho, festa de São Joaquim e Sant’Ana, avós de Jesus, temos há muito tempo a tradição popular de comemorar o dia dos avós. Recentemente, há 4 anos, o Papa Francisco instituiu o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, a ser comemorado sempre no 4º domingo de julho. Neste ano, será no dia 28 de julho. A data ficará sempre próxima da comemoração de São Joaquim e Sant’Ana, quando não coincide com ela.

A iniciativa do Papa Francisco é original e vai ao encontro da cultura e da religiosidade popular. Mas o Pontífice tem em mente algumas questões importantes, relativas aos avós e idosos, e não se trata simplesmente de cantar os parabéns e de levar um presentinho para o vovô e a vovó, embora isso também tenha sua importância. A constatação geral é que aumenta muito o número dos idosos, porque há menos crianças e jovens e porque há melhores condições de vida e de saúde, que prolongam a vida. No entanto, o prolongamento da vida traz consigo várias consequências, como o maior tempo de cuidados mais ou menos intensivos com a saúde, o aumento das enfermidades relacionadas com a idade avançada, as dificuldades econômicas com as aposentadorias pouco condizentes com as suas necessidades, a solidão, o abandono… Para muitos idosos, a sua velhice não significa “melhor idade”, mas um tempo de sofrimentos.

Por isso, a iniciativa do Papa quer ser uma ajuda para a sociedade em geral e para as comunidades da Igreja, em particular, para a valorização dos idosos e avós, chamando a atenção para a importante contribuição que eles já deram e ainda têm a oferecer para os âmbitos da família e da educação, da cultura e outros aspectos do convívio social. Com as mensagens para a comemoração anual desse dia, o Papa vem abordando diferentes aspectos da situação dos idosos, como apelos à consciência e à sensibilidade humana e religiosa em relação às pessoas idosas.

O título da mensagem deste ano é tomado dos Salmos da Bíblia: “na velhice, não me abandones” (cf. Sl 71,9.18). É a prece de uma pessoa idosa que sente suas forças diminuírem, vendo-se no meio da perseguição e da provação, mas que renova sua confiança em Deus: “em ti me tenho apoiado desde o seio materno, desde o ventre de minha mãe és o meu protetor” (Sl 71,6). A velhice é, naturalmente, um período de “solidão existencial”, quando a pessoa sente que o mundo ao seu redor vai perdendo aquele brilho que tinha antes e ela mesma sente mais e mais suas limitações. É inevitável que surjam questionamentos que podem levar ao vazio e à amargura ou a um sereno aprofundamento da fé e confiança em Deus: “em ti, Senhor, espero, não serei confundido para sempre” (v.1).

Pede o Papa na sua mensagem que os idosos não sejam “descartados”, como “material que já não serve mais para nada”. Essa seria uma atitude cruel, fruto de uma cultura materialista, que mede a importância das pessoas a partir da sua capacidade produtiva ou da lógica do “custo-benefício”. Seria uma medida inadequada, que não leva em conta que as pessoas idosas são seres humanos, cujo exemplo e trabalho dedicado lançou as bases sobre as quais se edifica o presente. O mundo não iniciou com a geração produtiva contemporânea, que tem um dever de reconhecimento em relação às mãos calejadas e os cabelos brancos, muitas vezes deixados no abandono. O Papa recorda, nesse sentido, que é preciso reconhecer e valorizar a dignidade de cada pessoa, para além de toda circunstância e em qualquer situação em que se encontre.

A mensagem do Papa também tem um recado aos jovens e à geração produtiva. Hoje, acentua-se muito a realização pessoal e a autonomia numa dimensão individualista, sem levar em conta a recíproca pertença, que está em crise na cultura contemporânea. Não cultivar laços fraternos e solidários agora, pensando apenas na própria realização e felicidade, pode resultar numa tremenda solidão pessoal no futuro, quando a velhice chegar. É ilusão pensar que não precisamos de ninguém e que podemos viver sem vínculos. Na velhice, precisa-se dos outros e se depende de sua ajuda para tudo. Na primeira e na derradeira fase da vida, dependemos da atenção, do amor e da dedicação dos outros. Por isso, durante a fase produtiva da vida, vivamos essa amorosa dedicação a quem se encontra nessa condição de dependência.

Na comemoração do Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, o Papa concede a indulgência plenária a todos os idosos e às pessoas que, nesse dia, acompanharem a Missa presencialmente, se confessarem e comungarem (se possível) e rezarem nas intenções do Papa e da Igreja. Aos idosos que não puderem ir à igreja, a indulgência também é facultada se, ao menos, acompanharem a Missa pelos meios de comunicação e rezar com a comunidade que celebra. A indulgência plenária também é concedida aos que cuidam e visitam as pessoas idosas nesse dia, cumprindo as condições habituais para receberem a indulgência.