O Dia Mundial das Missões, celebrado no último domingo, dia 24, teve uma bela mensagem do papa Bento 16, com este tema: “a construção da comunhão eclesial é a chave da missão”. A mensagem destaca mais uma vez a natureza missionária da própria Igreja e de todas as suas iniciativas e organizações. Todas as nossas atividades pastorais devem ter um cunho claramente missionário.
Nisso o papa retoma uma vez mais a reflexão já feita na Conferência de Aparecida sobre a conversão pastoral e missionária de nossa Igreja, de todos os seus membros, de suas iniciativas, instituições e organizações: É preciso passar de uma pastoral de mera conservação e manutenção para uma pastoral decididamente missionária. Se a Igreja ficasse ocupada apenas consigo mesma, deixando de ir ao encontro do mundo e suas realidades, ela deixaria de ser fiel à vontade de seu divino fundador, expressa claramente no envio missionário dos apóstolos: “Ide por todo o mundo, anunciai o Evangelho a todos os povos” (cf Mt 28,19). A luz que recebemos no Batismo deve brilhar, e não ser escondida; o sal não deve ser guardado, mas misturado com os alimentos, para dar-lhes sabor; o fermento guardado na prateleira ainda não cumpre sua finalidade, mas apenas, quando colocado na massa…
A ação missionária é vital para a Igreja e a renova. Se deixasse de ser missionária, a Igreja tornar-se-ia como uma árvore que não mais recebe água: tal árvore começaria a perder vitalidade, a murchar e perder folhas; finalmente, morreria. Uma Igreja que se faz missionária, é como árvore bem irrigada: cheia de vitalidade, mas permanece sempre verde, produz flores e frutos sempre novos… A missão realiza-se no anúncio e testemunho do Evangelho e na comunicação da fé; pode ser um processo lento, com diversos passos, mas só alcança seu objetivo quando as pessoas são levadas ao encontro pessoal e vital com Cristo. Este é, sem dúvida, o objetivo final da missão da Igreja.
Mas o papa aponta algo mais na mensagem missionária deste ano: a missão será tanto mais eficaz, quanto mais houver unidade entre os cristãos. Trata-se da unidade na mesma fé e adesão a Jesus Cristo e, por meio dele, da adesão a Deus Pai, no dom do Espírito Santo; mas também da unidade na comunhão eclesial, que nasce do nosso comum encontro com o Senhor Jesus Cristo e com seu Evangelho. Nele e em torno dele se constrói e realiza a comunhão eclesial. A missão não pode ser feita com pregações desencontradas, ou com personalismos que fazem aparecer mais o pregador do que o próprio Cristo e seu Evangelho; e uma Igreja dividida perderia sua credibilidade perante o mundo. A ação missionária não é obra de uns poucos, mas de todos os membros da comunidade eclesial.
Com o encerramento do mês das missões não cessa nossa preocupação missionária; A conversão pastoral e missionária, justamente, deve ajudar-nos a ser uma Igreja em permanente estado de missão. Esta mesma é também a preocupação de nossa Igreja, em São Paulo, que nos conclama, no 10º Plano de Pastoral, a sermos discípulos e missionários de Jesus Cristo “na cidade de São Paulo”; este é o nosso espaço missionário permanente. O mês de outubro nos ajudou a uma nova tomada de consciência da amplidão e urgência do desafio missionário. E a recente Assembleia das Igrejas, em Itaici, nos estimulou a abraçarmos a Missão Continental e a lhe dar muitas expressões na nossa Igreja em São Paulo.
O esforço missionário requer a conversão pessoal a Cristo e seu Evangelho, mas também inclui a conversão da mentalidade e a revisão do ritmo de nossas ocupações e programas. Poderia ser que nossa ação pastoral tenha perdido vitalidade e já não consegue mais despertar o interesse de quase ninguém pela Boa Nova… Poderia também ser que gastamos a maior parte do nosso tempo em questões periféricas e não no essencial de nossa missão; poderia ainda ser que haja pouca colaboração e interesse em participar da vida e da missão da Igreja, ou que esta tenha perdido o seu foco; neste caso, seria necessário retomar e aprofundar a formação cristã do povo e dos colaboradores na missão. Pode ser também que nos resignamos perante as dificuldades econômicas e com a escassez de recursos para o trabalho missionário…
Nada que não possa ser resolvido, quando existe “ardor missionário” e a consciência de que somos “colaboradores na obra de Deus”. De fato, a obra missionária não é feita por assalariados, nem com metodologias fora do alcance: é obra, sobretudo, dos “amigos” de Jesus, que o deixaram entrar em suas vidas e ficaram fascinados por Ele. Estes são capazes de enfrentar qualquer obstáculo ou cansaço, sem medir esforços e sacrifícios; serão capazes até mesmo de entregar a vida por Cristo.
Publicado em O SÃO PAULO, ed. de 26.10.2010