Se observarmos bem, a Liturgia da Quaresma nos propõe cada dia, de maneira orante, as etapas do itinerário de preparação para a Páscoa. A Oração do Dia do 2º domingo da Quaresma chamou-me especificamente a atenção: “Ó Deus, que nos mandastes ouvir o vosso Filho amado, alimentai nosso espírito com a vossa Palavra para que, purificado o olhar da nossa fé, nos alegremos com a visão da vossa glória”. Aqui são lembrados três elementos essenciais da vida cristã: ouvir o Filho de Deus e alimentar-se com a sua palavra; purificar o olhar de nossa fé; buscar a visão da glória de Deus.
Como cristãos e discípulos de Cristo, devemos ter na Palavra de Deus nosso alimento diário e abundante; sem alimentar-nos, nossa vida espiritual vai se enfraquecendo, nossa mística no seguimento de Cristo vai perdendo a motivação e outras motivações vão tomando o lugar. Esta Palavra nos foi transmitida por ninguém menos que pelo Filho amado do Pai celeste, que veio ser nosso caminho, verdade e vida. É ordem do próprio Deus que escutamos o “Filho amado”.
Durante a Quaresma somos convidados a “purificar o olhar de nossa fé”; isso significa, aprender a ver as coisas como Deus as vê; ou, como Jesus pede a Pedro: “pensar conforme Deus” – “tu não pensas conforme Deus, mas conforme os homens”. Nossa fé, para ser pura e verdadeira, precisa traduzir-se sempre mais na adesão a Deus e na sintonia com sua vontade. Isso requer a alimentação nas fontes da fé, que são a Palavra de Deus, a Eucaristia, a oração e o testemunho dos Apóstolos e dos santos, que nos vem transmitido através da Igreja. Na Páscoa, renovamos a profissão da nossa genuína fé, que nos foi dada como um dom de Deus. Seria interessante perguntar-nos, durante a Quaresma: afinal, em que consiste a nossa, a “minha” fé? Ela é adesão sincera e integral a Deus?
A busca da visão de Deus, ou da glória de Deus, é outra referencia fundamental da vida dos cristãos, discípulos missionários de Jesus Cristo. Significa isso, alimentar a dimensão da esperança em nossa vida e o desejo de alcançar a meta última de nossa existência, que é a felicidade plena em Deus. O Papa Bento XVI faz uma pergunta intrigante na sua encíclica sobre a Esperança cristã (Spe salvi): será que ainda desejamos ir para o céu? Ou nos basta a terra e o que nós mesmos podemos oferecer-nos e assegurar para nossa vida na terra? A vida cristã é caminho para o Pai, seguindo Jesus Cristo, que vai à frente de todos e quer introduzir a todos na casa do Pai. A celebração da Quaresma, sobretudo mediante o jejum e a meditação sobre as verdades centrais d enossa fé – “purificado o olhar de nossa fé” – deve reavivar em nós o desejo de “ver Deus”, de estar com Ele na vida eterna.
No dia 19 de março, a Igreja celebra a festa de São José, com os títulos bonitos de Esposo da Bem-Aventurada Virgem Maria e Patrono Universal da Igreja. É diverso da comemoração de 1º de maio, quando o título é “São José, Trabalhador”, portanto, Patrono de todos os trabalhadores. A Igreja tem grande veneração, simpatia e confiança em São José, a quem Deus confiou “as primícias da Igreja”, ou seja, sua primeira manifestação e fruto, que é a própria Sagrada Família; este núcleo inicial da Igreja foi confiado por Deus aos cuidados desse homem humilde, justo, trabalhador, esposo e pai responsável. Por isso, a Igreja também aconselha as famílias a terem especial devoção a São José, seguindo seu exemplo e confiando-se a sua intercessão.
A Igreja inteira se confia a São José: como ele foi solicito e vigilante protetor da primeira “Igreja doméstica”, ela continua a velar também sobre a grande família dos filhos de Deus, para que esta, com sua intercessão e ajuda, possa levar o bom termo a sua missão.
Neste tempo em que nos esforçamos por abraçar de maneira renovada, a missão de Igreja para sermos uma Igreja “em estado de missão”, penso ser importante valorizar a presença de São José em nossas comunidades e, sobretudo em nossas famílias. São José, homem bom e prudente, homem santo, que teve o olhar puro da fé sobre sua vida e os acontecimentos que o envolveram, foi inteiramente devotado a Jesus e Maria; também hoje ele está inteiramente interessado na família maior dos “irmãos de Jesus”, a multidão dos “filhos” que Deus confiou à Mãe de Jesus. Sua intercessão é preciosa e eficaz. São José, rogai por nós e pelas famílias e pela Igreja de São Paulo!
Artigo publicado em O SÃO PAULO, ed. de 17.03.2009