Na conclusão dos seus trabalhos,dia 26 de outubro, em Roma,12ªAssembléia Geral Ordináriado Sínodo dos Bispos emitiu umabelaMensagem, na qual relacionaPalavra de Deus com quatroconceitosbíblicos muito significativos.A Palavra de Deus não serestringe àBíblia, mas é anteriorao texto escrito e manifesta-seno mundo,antes de tudo, como”voz”. Moisés recorda a manifestaçãode Deusno Sinai, onde o povonão viu Deus mas ouviu o somde sua voz (cfDt 4,12); o próprioMoisés, no alto do Horeb, tambémnão viu o vultode Deus mas ouviusua voz, que o chamava do meioda sarçaardente. Já na criação, étambém a voz criadora de Deusque dáorigem e existência àscoisas e ao próprio ser humano (cfJo 1,1-3;n 1,27). Essa mesmavoz de Deus entra na história efala através dosprofetas; só depoistorna-se testemunho escrito etexto sagrado.APalavra de Deus tambémtoma um “rosto” concreto emJesus Cristo:”ninguém jamaisviu a Deus, mas aquele que desdesempre estevena companhia doPai no-lo revelou” (Jo 1,18). Porele, “rosto humanode Deus”, aPalavra eterna adquire um jeitohumano, caminha pelasestradas,entra nas cidades, vai ao encontrodas pessoas, acolhe,perdoa, conforta;as pessoas aproximam-seela, podem tocar e são por elatocadas até o íntimo da consciênciae do coração. Em Jesus,a Palavraeterna e poderosa também assumenossa natureza frágil,nossos limitese sofrimentos humanos, paratudo curar e vivificar.Ea mesma Palavra divina quese faz carne também se fez livro,revestiu-se de palavras e conceitosda cultura e das linguagenshumanas; por isso, ela necessitaser buscada e compreendida comaajuda de métodos adequados,para desvelar seu rosto verdadeiroepara, além do texto, encontrarAquele que nos dirige sua Palavra.AIgreja afirma que o centro da Revelação divina é Jesus Cristo, luzecritério principal para a compreensãoautêntica da SagradaEscritura;essa compreensão não se temapenas através deconhecimentoscientíficos do texto sagrado, masno encontro da fécom a pessoae Jesus Cristo, que deu um rostohistórico à Palavra de Deus (cf Deus caritas est, 1).A Palavra de Deus não estálonge deninguém, mas tem endereçocerto e deixa-se encontrar;sua “casa”é a Igreja, a comunidadede fé, lugar próprio para seracolhida,compartilhada, vivida proclamada. A Igreja, desde os apóstolos, édiscípula e servidorada Palavra, guardiã de sua retainterpretação(cf LG 13). Nos Atosdos Apóstolos, esta casa da Palavra,acomunidade de fé, aparece edificadasobre quatro pilares: “eramperseverantes no ensinamento dosapóstolos, na comunhão fraterna,na fração do pão e nas orações” (At2,42). Sem esquecer que aIgrejaestá alicerçada sobre Cristo, pedraangular dessa casa; é eleque continuaa manifestar-se àqueles que sereúnem em seu nome ecaminhamcom ele, dando-lhes a compreensãodas Escrituras. Aliturgia, apregação homilética, a catequesee a leitura orante daBíblia são momentosespecialmente propícios àpartilha da Palavrasanta.Mas a Palavra de Deus não é sópara aqueles que já são “decasa”,por isso ela sai da casa, se faz “caminho”e impele para amissão, paralevar também aos de longe a BoaNova. Em JesusCristo, a Palavranão tem parada, sai do templo, vaipara as ruas epraças, de aldeia emaldeia, entra nas casas, interpela econvida aquem encontra; sai embusca das pessoas individualmente,mastambém das multidões edas instituições da sociedade. E,felizes,reconhecem: “Deus visitouo seu povo!” E não deve parar poraí:Jesus enviou os apóstolos emmissão “a todos os povos”, para lheslevar o belo anúncio.A Igreja, cada um de nós, somosconvidados afazer caminho coma Palavra, fazendo-a ressoar nasesquinas epraças, nas famílias eem cada lugar de trabalho. Enriquecidoscomela, dela também nostornamos servidores, para que esse”pão davida”continue sendo partilhadocom generosidade e alegria.Nossascidades, por vezes, podemparecer indiferentes diante deDeus, masnelas vive um povo quetem fome e sede de ouvir a Palavrade Deus.Nossa pastoral precisa seruma resposta às suas buscas.