“Deus habita esta cidade”(Sl 47,9)
Ex.mo Sr. Dr, José Serra, Governador do Estado de São Paulo
Ex.mo Sr. Dr. Gilberto Kassab, Prefeito de São Paulo
Ex.mo Sr. Dr. Desembargador Bellocchi, Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo
Rev.mo Dom Mathias, Abade do Mosteiro de São Bento?
Ex.mos senhores Bispos,
Demais Autoridades presentes,
Rev.mos sacerdotes, Rev.das Religiosas/os
Senhoras e senhores,
Sinto grande alegria em poder saudar a todos os presentes e manifesto minha viva satisfação por encontrar pessoalmente tantas autoridades e personalidades tão representativas da cidade de São Paulo.
Desde logo, quero manifestar meu profundo agradecimento pela organização deste encontro; na pessoa do Reverendíssimo Abade Dom Mathias, agradeço à Comunidade do Mosteiro de São Bento, que nos acolhe; e na pessoa do Deputado José Carlos Stangarlini manifesto minha gratidão a todos os demais colaboradores/as, que muito se empenharam para que este encontro fosse viabilizado.
Ouvimos um trecho da alegoria do bom pastor, no Evangelho de São João. Jesus fala da proximidade e da relação de confiança que se estabelece entre o pastor e as ovelhas: ele as conhece, chama pelo nome cada uma delas, tem interesse pessoal pelo bem de todas elas, defende-as, caminha à frente delas e as conduz por caminhos seguros, para pastagens abundantes. As ovelhas, por sua vez, conhecem o seu pastor, reconhecem sua voz e o seguem tranqüilas.
A belíssima alegoria do bom pastor, evidentemente, refere-se à relação estreita que se estabelece entre Jesus e seus discípulos. Mas a Igreja entende que a imagem do bom pastor também se presta bem para falar da missão do bispo; por isso, ele também é chamado pelo povo como “nosso pastor”; ele, de fato, está diante da sua comunidade diocesana como servidor de Jesus, o verdadeiro Pastor bom da Igreja e de toda a humanidade. E na sua missão, o bispo deve ter diante sempre dos olhos a imagem de Jesus, bom pastor. Por essa razão, o bispo usa o báculo pastoral, que lembra justamente o bastão que os pastores de ovelhas costumam ter em sua mão para conduzir, estimular e defender seu rebanho.
A feliz circunstância desta noite oferece-me a ocasião de apresentar-me como novo Arcebispo de São Paulo e de conhecer tantas pessoas, que desejei muito encontrar e saudar pessoalmente. Aplicando a parábola do Bom Pastor, esta é uma bela ocasião para que pastor e ovelhas possam conhecer-se reciprocamente.
Estou para completar o 1° ano de minha posse como Arcebispo de São Paulo. Em nome da Igreja e, como cremos, em nome de Jesus Cristo, Senhor e Pastor da Igreja, Sua Santidade, o Papa Bento XVI enviou-me para ser o pastor desta Igreja metropolitana de São Paulo. Aqui vim para suceder e dar continuidade ao trabalho já realizado por grandes e zelosos pastores e desejo fazê-lo com todas as minhas energias; tenho bem consciência da grandeza da missão e dos seus desafios e seria presunção descabida pretender realizá-la sozinho. Confio na graça de Deus e na generosa colaboração de tantos outros servidores da Igreja; e também conto com o apoio de todos os católicos e das numerosas organizações da Igreja em São Paulo.
Neste primeiro ano, muitas coisas já aconteceram; evidentemente não por mérito meu, mas pelo dinamismo e o significado próprios da cidade e da Igreja em São Paulo. Apenas 10 dias após minha posse na Sé Catedral, tivemos a honra e o privilégio de acolher em São Paulo a visita apostólica de Sua Santidade, o Papa Bento XVI. Foram dias memoráveis e, entre os vários momentos felizes da visita, assistimos à canonização de S.Antônio de Sant’Ana Galvão, primeiro santo nascido em terras brasileiras. A sacada do Mosteiro de São Bento ainda guarda a recordação dos encontros do Papa com a multidão e com a cidade, que o acolheu e pediu sua bênção. Também para o Papa, foram dias felizes que ficaram gravados em sua memória: pessoalmente, fui testemunha, em diversas ocasiões, de sua intensa satisfação por essa visita.
Vivemos o ano centenário da criação de nossa Arquidiocese e estamos recordando nossa história e o significado da presença da Igreja na cidade de São Paulo Esta metrópole, de fato, nasceu em torno de uma missão dos padres jesuítas entre os indígenas que povoavam o planalto de Piratininga, em meados do século XVI; entre os valorosos missionários, recordamos sempre o beato Pe. José de Anchieta e Pe. Manuel da Nóbrega. Não houve bispo em São Paulo até que o Papa Bento XIV, no dia 6 de dezembro de 1745, criou a diocese de São Paulo.
A diocese foi elevada à condição de arquidiocese e sede metropolitana no dia 7 de junho de 1908 pelo Papa São Pio X. Durante o século de sua existência, esta arquidiocese já foi servida por 6 grandes arcebispos: D. Duarte Leopoldo e Silva (1907-1938), D. José Gaspar D’Afonseca e Silva (1939-1943); o Cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta (1944-1964); o Cardeal Dom Agnelo Rossi (1964-1970); o Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns (1970-1998); o Cardeal Dom Cláudio Hummes (1998-2006). Cada um deles marcou São Paulo com o testemunho de sua caridade pastoral. Como 7° arcebispo, tenho a missão de honrar e de levar avante a rica herança de vida eclesial que meus predecessores deixaram nesta Arquidiocese.
O ano centenário está sendo uma boa ocasião para recordar nossa história, para render graças a Deus por todo o bem prestado à população de São Paulo, quer no serviço estritamente religioso, quer também na educação, na saúde, na promoção da dignidade humana e na assistência social, quer ainda na participação, com outras organizações da sociedade e com o Poder público, na defesa e promoção das grandes causas do bem comum.
Ao mesmo tempo, este ano centenário leva-nos a uma nova tomada de consciência sobre nossa presença e missão na São Paulo dos nossos dias, imensa e vibrante, rica e pobre ao mesmo tempo, cosmopolita e pluralista do ponto de vista étnico, cultural e também religioso. A São Paulo de hoje é bem diversa da cidade provinciana que foi, há 100 anos. E nos perguntamos sobre qual é nosso lugar e nossa missão nesta metrópole fascinante e poderosa, problemática e desafiadora!
No seu centenário, a Igreja de São Paulo proclama: “Deus habita esta cidade!” Este lema das celebrações do centenário manifesta nossa convicção, é um anúncio cheio de esperança e representa, para todos os que crêem em Deus, um compromisso para com a cidade de São Paulo. É desejo e missão nossa, como certamente o é de todas as religiões, anunciar a presença e a ação de Deus nesta cidade e na vida de cada pessoa; e isso quer ser uma boa e confortadora notícia, significando que não estamos sozinhos a nos debater com os problemas e angústias do dia-a-dia.
É nossa missão ajudar esta cidade e cada um de seus habitantes a acolherem a Presença amorosa e providente, rendendo-lhe adoração e louvor, sobretudo através de uma vida que seja do agrado de Deus. Não poderíamos imaginar São Paulo como uma cidade sem Deus; menos ainda, que excluísse Deus do seu meio. Ninguém tenha medo de Deus, que não é estranho à cidade dos homens, nem é contrário ao bem e à felicidade do ser humano. Cremos ser importante que Deus habite esta cidade. É bom e faz bem para todos os seus habitantes. Que ninguém tenha medo de Deus! Ele nada tira do homem daquilo que é bom, belo e nobre.
No entanto, se olharmos ao nosso redor com realismo, poderemos constatar que há muitas situações que falam mais da ausência de Deus do que da sua presença. Onde acontece a violência e o desrespeito à vida das pessoas, onde o egoísmo impera e os cidadãos mais fracos e indefesos são esmagados, onde existe o fechamento diante da dor e dos sofrimentos do próximo, ali a presença de Deus está sendo negada. A pobreza e a miséria humilhante de tantos habitantes desta cidade, certamente não falam da glória de Deus. E também depõem contra a glória de Deus, as injustiças sociais persistentes, a violência e os fatos de desrespeito à dignidade e à vida da pessoa humana, bem como o abandono em que se encontram tantos filhos e filhas de Deus.
O compromisso da Igreja e de todos os seus membros e organizações com São Paulo é o de ajudar esta cidade a ser morada digna de Deus; e será morada tanto mais digna de Deus, quanto mais for respeitosa da obra de Deus manifestada em toda a natureza e nos seres humanos; quanto mais for justa e solidária com todos os filhos e filhas de Deus que nela habitam.
É, pois, missão de pessoas que crêem em Deus, de nossas Igrejas, paróquias, comunidades e demais organizações, bem como de nossas obras sociais, educacionais e culturais, serem sinais da presença amorosa de Deus com o povo de São Paulo. E a Igreja, em São Paulo, confia muito no dinamismo de seus membros, os leigos, presentes em todo o tecido social, contando especialmente com aqueles que têm liderança e desempenham missões de especial responsabilidade social. Deus, que habita esta cidade, convida todos a serem colaboradores generosos na construção de uma cidade boa para todos.
Agradeço mais uma vez a presença de todos e sobre cada um invoco a bênção de Deus. Que o apóstolo São Paulo, daqui por diante, Patrono de nossa Arquidiocese, interceda por nós e seja para todos um estímulo na realização da missão grandiosa que Deus nos confia.