No próximo domingo, dia 31 de maio, a Igreja celebra a solenidade litúrgica de Pentecostes. Jesus ressuscitado e glorificado junto do Pai enviou o Espírito Santo sobre os apóstolos, como havia prometido: “recebereis o poder do Espírito Santo, que virá sobre vós, para serdes minhas testemunhas (…) até os confins da terra” (At 1,8). Nas palavras de Jesus, para os apóstolos, o Espírito Santo é “consolador”, defensor”, poder, luz…. É o próprio Espírito de Deus, “dom do alto”, a melhor companhia que Jesus podia deixar com a Igreja nascente, enviada como sua mensageira e testemunha para o meio dos povos.
E foi na força e com a ação do Espírito de Deus que aquele pequeno grupo de homens, antes fracos e medrosos, iniciou a missão recebida; quase todos os apóstolos foram até o derramamento do sangue no martírio, dando testemunho por Jesus e pelo Evangelho. A eles juntaram-se Paulo, Barnabé, Timóteo, Lucas, Marcos, Estevão, Lino, Cleto, Clemente, Cipriano, Ágata, Inês, Agostinho, Francisco, Domingos, Teresa… E ao longo de 2 mil anos, até hoje, um número incontável de servidores do Evangelho continuou a levar a sério a missão que Jesus confiou aos apóstolos, assistidos pelo Espírito Santo.
Por graça e providência de Deus, somos nós a mais recente geração desses discípulos missionários de Jesus Cristo: recebemos com alegria e reconhecimento a “herança apostólica”, transmitida de geração em geração, com generosa fidelidade, por aqueles que nos precederam na Igreja. O Evangelho e a riqueza da fé e da vida eclesial iluminaram o caminho de pessoas e de povos, em particular, produzindo frutos de santidade, graças à ação misteriosa e fecunda do Espírito de Cristo.
Apesar dos pecados, que acompanham a condição humana dos discípulos de Cristo, a Igreja não esmoreceu ao longo da história porque nela vive e age o Espírito Santo: “Não vos deixarei sós”, prometeu Jesus; “eu estarei sempre convosco, até o fim dos tempos” (Mt 28,20). E isso explica como a Igreja atravessou perseguições, muitos problemas de todo tipo, graves crises e momentos de divisão, sem perder o rumo. Se contasse apenas com nossas capacidades humanas, a Igreja teria submergido e desaparecido há muito tempo, como aconteceu com tantas instituições humanas que nasceram, tiveram seu esplendor, declinaram e morreram. Ela conta com o Espírito, sábio conselheiro, força, divino amigo. Ele sempre assegurou à Igreja o rumo certo, o “poder do alto”, mediante o qual, para além de toda lógica humana, a Igreja encontra novas energias e faz fortes os frágeis e medrosos mensageiros do Evangelho.
Não fosse assim, quem poderia explicar que a Igreja, ainda criança, tenha sobrevivido às implacáveis e sistemáticas perseguições dos imperadores romanos? Ou aos funestos desvios da fé cristã e aos movimentos heréticos dos primeiros séculos do cristianismo? Ou à confusão social e cultural do fim do império romano, com as migrações dos povos bárbaros? Ou à dissolução dos costumes, dentro da própria Igreja, no período renascentista? Ou ao sarcasmo intelectual virulento de Voltaire e às pretensões absolutistas da razão iluminista nos séculos 18 e 19? Quem duvida que a Igreja vai superar também a atual crise vinda do mundo pós-moderno?
O Espírito de Cristo é hábil em preparar surpresas, como em Pentecostes… Continua a renovar a face da terra, a suscitar novas criaturas, a fazer florescer a santidade em meio ao pecado, a fazer resplandecer sua luz nas trevas, a mostrar a beleza e a preciosidade do Evangelho e da vida nova em Cristo. E sempre encontra corações abertos e generosos, como o de Maria, que dizem seu “sim” e se tornam colaboradores nas obras do Espírito. Cristo conta com pessoas que sejam dóceis ao Espírito Santo e se deixem orientar por esse sábio “Divino amigo”.
Ao falar em renovação missionária da Igreja, é preciso lembrar que isso depende dessa atenção e colaboração com o Espírito de Cristo, bem mais até que dos métodos, estratégias e planos de ação. É Ele que age nos corações e suscita mudanças de atitudes e comportamentos. É ainda o Espírito de Cristo que confere sua força à ação da Igreja, quer na pregação, quer na vida sacramentaria; é o Espírito Santo que dá a sabedoria e o discernimento verdadeiro sobre todas as coisas, ajudando-nos a fazer as escolhas acertadas.
Na solenidade de Pentecostes, invoquemos sua especial ajuda para sermos corajosos e criativos discípulos missionários de Jesus Cristo nesta cidade imensa! Que sua ação benéfica se faça sentir na Igreja e em toda a comunidade humana de São Paulo, para edificarmos juntos a convivência social na fidelidade aos desígnios de Deus.
Artigo publicado em O SÃO PAULO, ed, de 26.05.2009