A 12ª Assembléia Geral do Sínodo dos Bispos, em Roma, está na sua 3a e última semana de trabalhos. Agora, os padres sinodais elaboram as propostas que serão entregues ao papa, como resultado dos trabalhos; depois de algum tempo, ele publicará a Exortação Apostólica pós-sinodal sobre o tema a “Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”. Tenho a certeza que será um documento de grande repercussão. Uma mensagem breve, porém, já será emitida no final dos trabalhos sinodais, que serão encerrados no domingo, dia 26 de outubro, com a concelebração da missa do papa junto com os padres sinodais, na basílica de São Pedro. Houve insistência sobre alguns temas nas intervenções dos participantes do Sínodo. Um desses temas foi o da “revelação divina”, fundamental quando se trata do caráter religioso da Sagrada Escritura e de sua relação com outros livros de sabedoria humana. A revelação é uma ação divina, mediante a qual Deus dirige-se ao ser humano e este, em plena liberdade, responde com a obediência da fé (cf DV 5); a iniciativa no ato revelador não é humana, mas de Deus, embora o autor humano expresse, depois, em conceitos humanos aquilo que recebeu de Deus por revelação. É por isso que a Igreja é muito criteriosa em relação a supostas “revelações privadas”: estas são muito diversas da revelação bíblica, reconhecida pela Igreja nos textos que formam o elenco, ou cânon dos livros inspirados da revelação divina. Em Jesus Cristo Deus falou aos homens sua palavra mais clara e definitiva, por isso, Cristo é o centro da Escritura e ao mesmo tempo o critério decisivo, ou “chave”, para entender as Escrituras. O cânon bíblico está fechado e não se acrescentam outros livros ou textos supostamente inspirados por Deus. Significa isso que Deus calou e não fala mais aos homens? De forma alguma! A Igreja ensina que a Palavra de Deus continua viva e atual, de muitas maneiras; ela deve ser buscada, acolhida e interpretada mediante a constante leitura e atenta escuta dos textos sagrados, “com fé”, nacomunidade eclesial, A Palavrade Deus permanece para sempre e cabe a nós acolhê-la de formas sempre novas, em situações e contextos diversos, sintonizados com a Tradição viva da Igreja. Deus não se contradiz. O Sínodo recordou que a Palavra de Deus não nos vem unicamente através da Sagrada Escritura, mas também através da Liturgia, da Sagrada Tradição e do Magistério da Igreja. A Palavra de Deus, em última análise, é o próprio Cristo, Verbo/Palavra de Deus que se fez “carne” e veio habitar no meio de nós, e que permanece vivo na Igreja, seu “corpo”; pela ação do Espírito Santo, a Palavra da salvação continua viva na Igreja e se dirige sem cessar ao mundo e às pessoas. A própria Igreja, comunidade de fé, é a primeira destinatária e ouvinte da Palavra divina e, pelo seu magistério, ela tem a missão de zelar para que a Palavra seja proclamada a todos e retamente interpretada. S.Agostinho dizia que a Igreja é a voz e Cristo é a Palavra. Toda a comunidade eclesial deve acolher com fé e alegria esta Palavra da salvação, traduzindo em vida aquilo que ouve; ao mesmo tempo, também é tarefa de cada batizado transmitir aos outros a Palavra de vida, de muitos modos, de acordo com as condições e as responsabilidades de cada um na Igreja e no mundo; muito importante é o papel dos pais e da família para iniciar os filhos na acolhida amorosa e interessada da Palavra de Deus. Também os catequistas e os religiosos e religiosas têm um papel importante. Mas é tarefa preponderante dos ministros ordenados, diáconos, padres e bispos, zelar para que a Palavra do Senhor “não se torne rara”, como se dizia em certas ocasiões nos tempos bíblicos, mas seja amplamente proclamada a todos. Esta é nossa missão primeira. Teremos que trabalhar muito sobre isso em nossas comunidades e, se for preciso, também rever práticas e métodos pastorais. No mundo secularizado e, muitas vezes, desorientado, há verdadeira fome e sede da Palavra de Deus e nós devemos partilhar o Pão da vida com fé e viva esperança, com largueza e criatividade. Para isso, é necessário comunicar ao povo o apreço pela preciosa Palavra; ao mesmo tempo, preparar e educar os anunciadores da Palavra de Deus, para comunicarem ao povo a alegria do encontro com a Palavra vivificadora de Deus: “Senhor, tu tens palavras de vida eterna!”.