Centenário da Arquidiocese de São Paulo

A diocese de São Paulo foi criada pelo papa Bento 14, no dia 6 de dezembro de 1745, com a bula “Candor lucis aeternae”; até então, fazia parte da diocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. E foi elevada em arquidiocese e sede metropolitana no dia 7 de junho de 1908 pelo papa São Pio 10º, com a bula “dioecesium nimiam amplitudinem”. Iniciamos, portanto, a comemoração do “ano centenário” da Arquidiocese de São Paulo. Com o mesmo ato, o papa São Pio 10º criava, como sufragâneas e fazendo parte da Província Eclesiástica de São Paulo, as dioceses de Campinas, Taubaté, Botucatu, São Carlos e Ribeirão Preto, que também estão comemorando seu centenário, como dioceses. É impressionante observar que as demais 40 dioceses do Estado de São Paulo, além das 3 circunscrições de rito oriental (maronita, grecomelquita e armeno-católica), foram todas criadas nesses últimos cem anos. Hoje, elas estão distribuídas em seis províncias eclesiásticas. É um fato que a organização da Igreja, não apenas em São Paulo mas no Brasil todo, só conseguiu deslanchar depois da separação total entre a Igreja e o Estado, em 1889, com a proclamação da República. O regime do padroado, que vigorou no tempo colonial e também durante o período do Império brasileiro, confiava ao Estado o cuidado da Igreja; na verdade, porém, essa situação manteve a ação da Igreja atrelada às decisões e interesses do Estado e, de certa maneira, sufocou a Igreja no desempenho de sua missão. O fim do padroado, com a proclamação da República, gerou protestos por parte da própria Igreja, mas revelou-se bem depressa como uma grande vantagem: a Igreja, livre da tutela do Estado, ganhava liberdade e podia desenvolver-se com dinamismo próprio. Durante o século de sua existência, a Arquidiocese de São Paulo já foi governada por seis arcebispos: dom Duarte Leopoldo e Silva (1907- 1938), dom José Gaspar D’Afonseca e Silva (1939-1943); o cardeal Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta (1944-1964); o cardeal Agnelo Rossi (1964-1970); o cardeal Paulo Evaristo Arns (1970-1998); o cardeal Cláudio Hummes (1998-2006). Cada um deles marcou São Paulo com o testemunho de sua caridade pastoral, deixando-nos uma rica herança de vida eclesial. Este ano o centenário é uma boa ocasião para recordar a história da nossa Arquidiocese, de seu caminho evangelizador e pastoral, dos pastores que a guiaram e serviram, animando-a no cumprimento de sua missão. Aquilo que a Igreja é hoje, com sua organização e suas estruturas pastorais, foi construído pelas gerações que nos precederam. Lembro com gratidão a Deus todos os meus predecessores que ocuparam a cátedra da Sé de São Paulo; as igrejas e paróquias de nossa cidade foram construídas e servidas, antes de nós, por tantos párocos e por pessoas, que trabalharam generosamente e ali deixaram seu testemunho de fé; da mesma forma foram constituídas muitas obras sociais, educacionais e culturais, que hoje fazem parte do patrimônio de nossa cidade e de nossa Arquidiocese. É hora de acolher e valorizar, com renovada consciência, o patrimônio inestimável da fé e do testemunho cristão daqueles que nos precederam. É tempo de agradecer a Deus pelas graças e bênçãos recebidas. Por outro lado, este jubileu centenário lembra-nos que a Arquidiocese de São Paulo, hoje, está em nossas mãos e a realização de sua missão no meio desta metrópole agora depende de nós. A evangelização é uma tarefa jamais concluída e precisa ser retomada e zelada constantemente. E isso não significa apenas zelar e manter edifícios religiosos ou um patrimônio cultural, mas construir a Igreja viva e ajudar a edificar convivência humana da cidade de acordo com o desígnio de Deus. São Paulo é uma cidade cosmopolita, pluralista e globalizada; nela convivem todas as raças, etnias e religiões; nela, coexistem riqueza e miséria, as tecnologias mais avançadas junto com as formas mais rudimentares e improvisadas de organização da vida. Nossa missão eclesial é ajudar a cidade a valorizar suas raízes e a permanecer uma cidade humana e vivível; o Evangelho de Jesus Cristo precisa ser comunicado às novas gerações com convicção e alegria, para permear os novos ambientes de convivência e de organização da sociedade. Ao longo deste ano centenário da Arquidiocese, teremos a ocasião de rever e avaliar nossa presença eclesial na cidade de São Paulo, para continuarmos hoje, com renovado ardor, o trabalho evangelizador daqueles que nos precederam nesta Igreja Particular.

Publicado em O SÃO PAULO, Ed de 12/06/2007