A família brasileira vai a Aparecida!

No próximo domingo, dia 24 de maio, por iniciativa da CNBB, será realizada a peregrinação nacional em favor da família ao santuário nacional de Aparecida. De todo o Brasil, famílias e organizações pastorais da Igreja voltadas para a família, acompanhadas de bispos, padres e religiosos, colocarão no coração e nas mãos da Mãe Aparecida as alegrias, angústias e esperanças das famílias brasileiras, para pedir bênção, conforto e proteção à Padroeira do Brasil. A peregrinação quer ser um manifesto vigoroso em favor da família, de sua missão e de suas necessidades, como já o fizeram os bispos durante a assembleia da CNBB, em Itaici, em abril passado. Convido também as famílias paulistanas, a Pastoral da Família, os Movimentos e outras organizações familiares a que se unam, em romaria e prece, a essa grande manifestação nacional, em Aparecida. Quem não for até lá, poderá acompanhar os romeiros pelos meios de comunicação, rádio e TV. Alguém poderia perguntar, porque a Igreja bate tanto nesta tecla, fala da família e a defende contra as ameaças de sua destruição, continuando a afirmar sua importância? Não significa isso ir contra a corrente? A Igreja não vai contra os fatos da realidade, que mostram que “a família já era”, ou perdeu sua importância, sendo substituída por outras formas de convivência? A Igreja não estaria “atrasada” no tempo, fechando-se num conservadorismo cego? Essas são algumas das observações que se lêem e ouvem com frequência; a Igreja não as ignora, nem desconhece os problemas concretos e reais que muitas famílias enfrentam em nossos tempos. Ela sempre se interessou pela família e tem consciência também de que seu discurso, muitas vezes, vai contra certa corrente, que não dá importância à família, ou que pretende substitui-la por outras formas de relacionamento e de convivência. E aí a pergunta ser e propõe: por que a Igreja debate tanto pela família? Não é uma causa perdida? Qual é o interesse dela? Antes de tudo, vamos desmistificar esse discurso de que “a família já era”. Ainda existe muita família! Famílias que vivem bem e estão felizes, mesmo com as inevitáveis dificuldades; famílias que lutam com problemas e crises, mas continuam acreditando que a família é fundamental; famílias destruídas, que se reconstituíram, de alguma forma, porque sentiram que, apesar de tudo, ainda é melhor ter família que não tê-la. A família existe, sim. E os jovens, mesmo conhecendo as crises e histórias de frustrações familiares, continuam namorando, noivando, casando e sonhando comum a família bonita e feliz. A Igreja vê na família uma obra de Deus e não, simplesmente, uma invenção da sociedade. É verdade e que a sociedade e sua cultura vão moldando a instituição familiar e lhe dão formatos diferentes ao longo da história e no desenvolvimento das civilizações. Mas a família está inscrita na natureza humana e faz parte de um desígnio de Deus; como cristãos, nós o percebemos e reconhecemos ao longo de toda a história da Revelação bíblica. Portanto, a Igreja vê a família com um olhar de fé, indo além dos dados objetivos da situação atual da instituição familiar; ela continua apontando o desígnio de Deus sobrea família e sua missão, mostrando qual é o ideal que deve nortear o casamento e a vida familiar. Ela não faz um discurso conformista com a realidade, mas encoraja, conforta, abençoa e assiste as famílias em suas situações concretas. Esta é a missão da “pastoral da família”. E não conta apenas com famílias que conseguem viver plenamente o seu ideal, mas tem um olhar atento e misericordioso para todas elas, também às que têm problemas e histórias difíceis. Se a família está no desígnio de Deus, então devemos concluir que sua razão de ser e sua missão precisam ser levadas a sério, por fidelidade a Deus e à sua vontade, manifestada na criação do homem e da mulher e na Revelação. Na verdade, o papel da família é insubstituível na vida das pessoas, em todas as fases da vida, da infância à velhice; em todas as situações da existência humana, “na alegria e na tristeza, na saúde e na doença”, mas especialmente nas situações de fragilidade, onde o amor gratuito e generoso é a expressão mais genuína daquilo que Deus pensou para a família. A sociedade, como um todo, e o Estado não substituem a família. A família é anterior ao Estado e célula básica do corpo social; baseada na própria natureza da pessoa humana e suscitada pelo amor espontâneo, ela não existe por imposição da lei ou pela coerção social. A sociedade organizada depende muito da família e conta com ela, mesmo sem saber ou sem o reconhecer. Dá para imaginar o que seria da convivência social se a família desaparecesse deum momento para outro?!A Igreja defende a instituição familiar e pede que o Estado a proteja e promova mediante leis eficazes e políticas públicas que favoreçam a sua estabilidade e o cumprimento do seu papel social. A sociedade, como um todo, e o próprio Estado sairão ganhando mito com isso. Mas, descuidando a família, muitos problemas sobrarão para a sociedade e o Estado. Na peregrinação de Aparecida, isso e muito mais será proclamado novamente e colocado também nas mãos da Mãe e Rainha das famílias brasileiras.

Artigo publicado em O SÃO PAULO, ed, de 19.05.2009