Como Paulo, Arquidiocese e cidade são interpeladas: ‘O que devo fazer, Senhor?’

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A Santa missa foi concelebrada pelo arcebispo emérito de São Paulo Cardeal Paulo Evaristo Arns
Publicado em: 03/02/2015 - 13:45
Créditos: Edição nº 3036 do Jornal O SÃO PAULO – página 24

No domingo, 25 de janeiro, a Igreja celebrou a solenidade da Conversão de São Paulo Apóstolo. Saulo, perseguidor dos cristãos, após um encontro pessoal com Jesus, vive um processo de conversão, passa a se chamar Paulo e se torna um dos principais pregadores do Evangelho e propagadores da fé cristã.

Na Catedral da Sé, centenas de fiéis, renderam graças a Deus pelo testemunho deste santo que é o Patrono da Arquidiocese de São Paulo. A celebração foi presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano, concelebrada pelo arcebispo emérito Cardeal Paulo Evaristo Arns, bispos auxiliares, padres e diáconos.

Na missa, que também comemorou o aniversário da fundação da cidade de São Paulo, estavam presentes, além de fiéis e religiosos provenientes de diversas comunidades paroquiais, autoridades civis e militares, entre as quais, o prefeito Fernando Haddad acompanhado pelos secretários municipais Gabriel Chalita (educação); Eduardo Suplicy (direitos humanos); Alexandre Padilha (relações governamentais). Também marcaram presença o presidente da Câmara dos Vereadores, Antonio Donato, o vice-governador Márcio França e o ministro Gilberto Kassab, do Ministério das Cidades.

A conversão de São Paulo

Comentando a narrativa da conversão de São Paulo em Atos dos Apóstolos durante a homilia, o Cardeal destacou que a luz que Paulo vê – “uma luz tão forte” –, é a luz do encontro pessoal com Jesus Cristo ressuscitado e que tornou-se uma referência para o resto de sua vida. “A fé de Paulo não foi a conclusão de uma discussão filosófica; não foi a leitura de muitos livros e nem de muitas ideias, como bem explicou o Papa emérito Bento XVI em sua encíclica Deus caritas est, mas sim do encontro com uma Pessoa: Jesus”.

Paulo não percebe isso imediatamente. Como a luz que o fez cair por terra era muito forte, explicou o Cardeal, ele ficara cego, e nada via. O apóstolo então fez duas perguntas: “Senhor, quem és tu?” Quem és Tu que fala? Sobre esta questão, Dom Odilo destacou que essa é uma pergunta que todos os homens trazem no coração.

“Porque todos de uma forma ou outra, sentimos nossa pessoa, nossa consciência, nossa vida interpelada. E Quem é que nos interpela?, perguntou Dom Odilo. – Quem nos interpela e nos pede enfim? Podemos dizer, sim nossos deveres, nossa sociedade, meu cargo, meu encargo, minha tarefa me interpela, e é verdade, mas em última análise, são situações transitórias essas, e a nossa vida continua sendo interpelada e nós somos confrontados com essa voz. Quem és Tu que me interpelas, que és Tu que me dizes para fazer o bem e não o mal; quem és tu que me pede para ser justo e não injusto? Para ser honesto e não desonesto? Para tratar bem os outros e não tratar mal? De nossa parte, somos interpelados a procurar a resposta verdadeira sem nos enganarmos a nós mesmos com respostas superficiais”, concluiu o Cardeal.

A outra pergunta de São Paulo: “o que devo fazer para realizar a Palavra que me interpela? Segundo Dom Odilo, essa é uma pergunta que todos devem se fazer todos os dias para serem guiados em suas decisões e fazer o que é justo e correto. São Paulo ouve uma resposta rápida: é encaminhado a uma pessoa da comunidade cristã nascente – Gamaliel – que o ajuda na caminhada e que lhe dá conselhos. É importante “ouvir o conselho das pessoas sábias, de quem nos pode ajudar a achar respostas”, concluiu o Cardeal.

O aniversário da cidade

 Na segunda parte de sua homilia, o Cardeal Scherer evidenciou os objetivos dos jesuítas ao fundarem a vila que deu origem à cidade. Segundo Dom Odilo, os missionários jesuítas desejavam construir uma sociedade humana, sem violência, em que todos pudessem conviver em paz, receber educação, ter saúde. Uma comunidade humana e cristã, na qual Deus fizesse morada. “Estamos hoje diante desta metrópole com tantos desafios. A cidade depende de muitos: dos governantes, da população, de suas organizações, da sociedade civil. Todos são chamados a trabalhar para fazer com que essa cidade seja uma cidade boa para todos os seus habitantes”, enfatizou o Cardeal.

A saudação do Prefeito Fernando Haddad

Na saudação dirigida no início da celebração, o prefeito Fernando Haddad destacou que, por várias razões, o 25 de janeiro é uma data importante para os paulistanos. Ao contar a história da cidade, Haddad destacou que ela foi fundada por “padres jesuítas e por algumas dezenas de pessoas”, e após 461 anos, abriga 12 milhões de pessoas. “Lembrar a fundação de São Paulo é lembrar de todos aqueles que escolheram São Paulo para morar e ter sua família e se desenvolver”, afirmou.

O prefeito lembrou do espírito microempreendedor dos paulistanos, destacando que, muitas vezes, esse se sobrepõe “aquilo que nos faz membros de uma comunidade” ou seja,” a ação comunitária que nos faz viver em harmonia na cidade que escolhemos”. E concluiu, fazendo um apelo: “No aniversário da cidade nós devemos reforçar os laços comunitários que nos traz a esta missa. Lembrar o que devemos fazer por São Paulo, lembrar-se de nossas obrigações para com a cidade, da educação de nossos filhos, de nossa saúde, nossa cidadania e a construção de um ambiente de paz e fraternidade”.

Educação

O recém-nomeado Secretário Municipal de Educação, Gabriel Chalita, em entrevista ao O SÃO PAULO, manifestou contentamento pelo fato de tanto o Cardeal Scherer quanto o prefeito Haddad terem enfatizado em suas falas a urgência da educação e disse considerar muito positivas as parcerias entre a prefeitura e a Igreja Católica nesse setor. “Temos que trabalhar juntos, trabalhar com os professores, ter um canal de diálogo com os educadores e com as comunidades. Contar com parcerias. A Igreja, por exemplo, tem muitas creches conveniadas que fazem um lindo trabalho”.

Inclusão

A Pastoral da Pessoa com Deficiência mais um ano se fez presente na celebração do Patrono da Arquidiocese e da cidade, dessa vez com uma novidade: intérpretes de libras e áudio transmissão via FM, possibilitando que qualquer pessoa sintonizasse a faixa e ouvisse a celebração. O coordenador da Pastoral da Pessoa com Deficiência, Carlos A. Campos, destacou que o apóstolo Paulo serve de inspiração para ele e para todos os agentes da pastoral, pois os impulsiona a desenvolver meios para que a Igreja seja mais acolhedora e inclusiva.

Edcarlos Bispo