Os efeitos pascais da sinodalidade: conversão, comunhão, participação e missão

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21/04/2022 - 10:15

     “Não é que o nosso coração ardia, enquanto ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras? (Lc. 24, 32)

                                                                             

A ressurreição de Jesus de Nazaré é a força propulsora de nossa fé. Todas as coisas estão sob o seu impulso. Todas as coisas são renovadas por sua força restauradora. Mesmo que ninguém tenha assistido ao ato da ressurreição, todos os aspectos da fé cristã são iluminados por esse evento salvífico.

A ressurreição de Jesus de Nazaré confirma o seu projeto de cura, libertação e salvação plena. É a resposta de Deus para reanimação dos projetos humanos que estejam em sintonia com a vida e a dignidade humana. Na ressurreição de Jesus de Nazaré, o crucificado torna-se o primogênito entre os mortos que ultrapassa as barreiras da humilhação humana e da destruição do corpo reafirmando a fé e a esperança na vida como dom de Deus.

A ressurreição do carpinteiro de Nazaré é dom de Deus que espera uma resposta do ser humano para fazer acontecer seus efeitos no cotidiano de nossas vidas. A ressurreição de Jesus de Nazaré é dom e tarefa! É continuidade da obra de Jesus, revestido de pelo poder do Pai, na ação transformadora do Espírito. A ressurreição torna-se assim, ação da Trindade Santíssima, comunidade de amor agindo na comunhão.

Um dos efeitos da ressurreição de Jesus de Nazaré é a transformação das relações humanas. Das trevas, do ódio, das separações, dos preconceitos, das rivalidades, é possível caminhar juntos. As barreiras sendo destruídas e o ser humano se aproximando um do outro. E ainda, se dispondo a fazer a sua caminhada humana em sintonia com os/as outros/as pelas estradas da vida.

O processo pelo qual nos permite caminhar juntos/as chama-se de sínodo. E isto implica em deixar para trás o homem e a mulher velhos e avançar na direção do homem e da mulher novos. É muito mais do que um jogo de palavras, mas é um compromisso batismal tornado realidade nas labutas da existência humana. Pertencer a uma comunidade sinodal equivale a afirmar a nossa fé no retorno dos discípulos de Emaús para Jerusalém (Cf. Lc.24, 33). Isto é, confirmar a nossa disposição em enfrentar os conflitos do mal na imensa Jerusalém: cidade que persegue e mata. Deixar Emaús para trás é o mesmo que se comprometer com uma espiritualidade que enfrenta dos conflitos com base na Palavra e na força do ressuscitado que caminha com sua Igreja.

A espiritualidade sinodal exige de nós um processo permanente de:

Conversão: A conversão é o processo constante da caminhada do cristão.

Esta se encontra no início do anúncio do Evangelho proclamado por Jesus de Nazaré (Cf. Mc. 1, 15). É também o apelo reforçado do início de cada quaresma para nos inserir na caminhada rumo à páscoa de Jesus.    

A conversão pessoal poderá ser sentida em todas as instâncias onde as pessoas, em processo constante de conversão, se encontram. É pela conversão pessoal que chegaremos a uma conversão estrutural da sociedade manifesta na mudança das relações sociais. Portanto, para termos conversão pastoral faz-se necessário escutar o Espírito de Jesus e dar espaço a uma criatividade ancorada no que a Igreja nos pede, como ação sempre atualizada do Evangelho.

Estar em constante processo de conversão exige estarmos atentos à comunhão, à participação e à missão. A conversão nos permite deixar para trás um coração fechado e egoísta. E abre-nos a um caminho novo proposto pelas exigências cristãs. Conversão é sinônimo de abertura à outra pessoa que caminha conosco. É caminhar juntos (caminhar com). Também é cuidar das outras pessoas, principalmente dos mais frágeis e vulneráveis. É preocupar-se com nossa Casa Comum. É a conversão que nos permite retornar ao caminho do bem comum e do bem viver. Não sozinho. Mas, juntos, um animando o outro.

Comunhão: o entendimento da comunhão se dá pelo acolhimento à revelação de Jesus de Nazaré, quando o mesmo nos revela o Pai e o Espírito Santo. Comunhão é unidade, partilha, solidariedade, compaixão, estar juntos, caminhar juntos. Como consequência da conversão, a comunhão nos conduz a uma atitude que prioriza a vida da outra pessoa dando-lhe a devida importância a partir do reconhecimento de sua dignidade. Fazer comunhão é preocupar-se com os mais pobres e afastados, aqueles que se encontram distantes. E precisam ser reencontrados (Cf. Gn. 4, 9; Lc. 6, 8; 15, 31 – 32) e reconduzidos para o centro. Por isso, é necessário sair, procurar. Fazer acontecer a “Igreja em saída”.

Participação: As nossas lideranças solicitam maior participação nas estruturas paroquiais. E em alguns lugares, realmente, necessitam. Mas, já temos os conselhos paroquiais. A verdadeira participação dos/as batizados/as deverá acontecer no cotidiano de nossa participação social. Uma Igreja mais participativa exige maior escuta e despojamento. Não é fácil se observar humildade e despojamento em nossas comunidades. Nem por parte das lideranças e nem de muitos presbíteros, ambos obcecados pelo clericalismo. Uma constatação, é de que quem está à frente de algum grupo, não deseja largar a coordenação. E outra realidade, é o desinteresse e a apatia de uma grande parcela dos participantes de nossas comunidades. São pessoas que não querem vínculos. São participantes que não passam de meros usuários dos serviços sacramentais e outros. Para acontecer maior participação do Povo de Deus na vida das comunidades, é urgente aprendermos com a comunhão a atitude evangélica de repartirmos a ação dos dons e serviços.

Missão: A nossa missão é continuidade da missão de Jesus. Acertamos em nossas atividades missionárias, quando nossa missão é a mesma missão iniciada por Jesus. Para essa realidade missionária acontecer de fato, é importante voltarmos ao Evangelho de Jesus. É aqui que temos a verdadeira instrução para uma missão adequada e eficaz. Então, faz-se necessário escutar o que o Espírito Santo nos diz e nos orienta. A missão não deve acontecer a partir de nossos projetos doentios, mas dentro da perspectiva do projeto de Jesus que essencialmente é de vida e dignidade para todas as pessoas. Se quisermos ser concreta comunidade de Jesus, não podemos deixar de trilhar o verdadeiro caminho aberto por Jesus.

À nossa frente se abre uma estrada, a qual somos convidados a trilhar junto com o Senhor ressuscitado. Os efeitos pascais da sinodalidade analisados a cima não se dão de forma estanque e isolados, mas juntos, misturados no dia a dia de nosso crescimento na fé. Eles acontecem conjuntamente e nos permitem vivenciar a nossa conversão contínua.

A igreja, desde sua origem, é sinodal. É comunidade que cresce no caminho, no processo, seguindo os passos de Jesus. E isso não o fazemos isolados uns dos outros. Ser comunidade sinodal significa estar em um contínuo processo velho e sempre novo de conversão na comunhão, na participação e na missão. Todas essas características nos pedem que consideremos o nosso grau de discípulos/as do projeto de Jesus ressuscitado que passou fazendo o bem (Cf. At. 10, 38).

Padre Gilberto Orácio de Aguiar

Pároco na Paroquia Imaculado Coração de Maris, Setor Conquista. É Doutor em Ciências Sociais (Antropologia) pela PUC/SP; Mestre em Ciências da Religião pela PUC/GO, com especialização em Espiritualidade pela UNISAL/SALESIANOS (ossumanebr@gmail.com).