Parábola, desconcertante - Raul de Amorim

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06/11/2015 - 00:15

Lc 16,1-8

O evangelho de hoje traz uma parábola que trata da administração dos bens e que só existe no evangelho de Lucas. Será que era um problema do dia a dia na comunidade? É conhecida como: “A parábola do administrador desonesto”.

Lc.16,1-2 : Um fato da vida tirado do mundo do comércio  e do  trabalho. Um caso de corrupção. O patrão descobriu e decidiu demitir o administrador desonesto. Este, de repente, se vê numa situação “lascada” obrigado a pensar uma saída para poder sobreviver. Não dá para não se lembrar da situação de algumas pessoas corruptas de nosso país. Vamos mergulhar no texto.

“Então o administrador pensou: Meu senhor vai me tirar a administração. O que vou fazer? Trabalhar na terra? Não tenho mais força. Mendigar? Tenho vergonha. (Lc. 16,3) Ele começa a refletir para descobrir uma saída. A cabeça dele vai a mil! Analisa as possibilidades. Um turbilhão de pensamentos! Acha que não tem mais forças para trabalhar como empregado. O que os amigos iriam pensar?! Depender dos outros e pedir, nem pensar, sente vergonha!

Depois de calcular bem as possíveis saídas, começa a arquitetar um plano: “Já sei o que vou fazer para ter quem me receba na própria casa quando eu for afastado da administração. (Lc.16,4) Trata-se de garantir o seu futuro. Ele é coerente dentro do seu modo de pensar e viver.

Dentro de sua total falta de ética, o administrador descobre que sua condição de sobrevivência passa pelo “cuidado” com gente endividada! “Quanto você deve ao meu senhor”? Ele respondeu: “Cem barris de óleo”. Disse-lhe então: “Pegue sua conta, sente-se logo e escreva cinqüenta”. Depois disse ao outro: “E você, quanto deve?” Ele respondeu: “Cem sacas de trigo.” Disse-lhe: “Pegue o recibo e escreva oitenta”. (Lc. 16,5-7) O critério de sua ação não é a honestidade e a justiça, mas é o próprio interesse. Ele quer se garantir!

Nessa “manobra” desonesta ele rouba mais de 50 barris de óleo e 20 sacas de milho! Diante do texto e da realidade de nossos dias, o desânimo toma conta da gente: “Puxa vida desse jeito não dá! Todo mundo é corrupto, a sociedade não tem jeito! Não tem político que se salve! Parece que a coisa vem de longe!"

O versículo final é o que mais nos espanta. Na parábola, o administrador desonesto recebe um elogio do senhor. Como entender isso? Parece nos querer dizer que o saber desembaraçar-se é preferível à honestidade. É a Bíblia ligada à vida e a vida ligada à Bíblia! A parábola se refere ao uso adequado dos bens e recursos disponibilizados, num cenário de forte desigualdade social.

Certamente o evangelista não quer nos dar, como modelo, um corrupto. Essa realidade vivida pela comunidade de Lucas quer nos ensinar que existem pessoas que conseguem, com muito empenho e criatividade, praticar desonestidades. “Os filhos deste mundo são mais espertos no trato com sua gente do que os filhos da luz”. (Lc.16,8)

Precisamos urgentemente de mulheres e homens criativos que tenham o mesmo empenho, a “mesma garra” para obter fins honestos e acabar com esses abusos. É diante dos desafios que devemos procurar “brechas” para mostrar que somos filhos da luz.