COMO NOS DIAS DE NOÉ... - Raul Amorim

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16/11/2018 - 00:00

Lc. 17,26-37>

O tempo de Deus corre invisível dentro do nosso tempo. Nós não podemos interferir no tempo, mas devemos estar preparados para o momento em que a hora de Deus se fizer presente dentro do nosso tempo. Pode ser hoje, pode ser daqui mil anos. O que nos dá segurança, não é saber a hora, mas sim a certeza da presença da Palavra de Jesus presente na vida. O mundo passará, mas a palavra dele não passará ( cf.Is.40,7-8) O evangelho de hoje continua a reflexão sobre a chegada do fim dos tempos...

Lc. 17,26-29: “E como aconteceu no tempo de Noé, também acontecerá nos dias do Filho do Homem. Eles comiam, bebiam, casavam, e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. Então veio o dilúvio e fez morrer todos. Como também aconteceu nos dias de Ló. Eles comiam, bebiam compravam, vendiam, plantavam e construíam. Mas no dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu do céu fogo e enxofre, e destruiu todos”.

A vida corre normalmente: comer, beber, casar, comprar, vender, plantar, colher... A rotina pode envolver-nos de tal modo que já não conseguimos pensar em outra coisa. O consumismo contribui para aumentar em muitos de nós esta total desatenção à dimensão mais profunda da vida.

Com exemplos da história antiga do povo de Deus, Jesus alerta seus seguidores para que estejam atentos e se mantenham vigilantes. Não podemos interferir no tempo, mas devemos estar preparados para o momento e que a hora de Deus se fizer presente dentro do nosso tempo. Pode ser hoje, pode ser daqui mil anos.

Muitos cristãos das primeiras comunidades, não vendo realizar-se sua esperança, corriam o risco de levar uma vida sem compromisso, acomodada, como se tivessem perdido o sentido de viver. O evangelista chama a atenção para o risco desta atitude pessimista. Em nossos dias muitas pessoas entraram nessa onda. É preciso manter viva a chama da Esperança!

Lc. 17,30-32: “O mesmo acontecerá no dia em que o Filho do Homem for revelado. Nesse dia, quem estiver no terraço e tiver utensílios em casa, não desça para os recolher. Assim também, quem estiver no campo, não volte atrás. Lembrem-se da mulher de Ló! ”

Para enfrentar a crise e a perturbação é necessário saber resistir aos temores e a tantos projetos enganadores, e manter o testemunho.  Jesus usa comparações tiradas do cotidiano. A destruição virá com tal rapidez que não vale a pena descer para casa para buscar alguma coisa. Para os cristãos do tempo de Lucas este ensinamento foi muito importante para resistir à destruição de Jerusalém pelos romanos no ano 70 dC.

Lembrem-se da mulher de Ló! (Gn. 19,26) Jesus quer dizer em outras palavras: não olhem para trás, não percam tempo e vão em frente porque é uma questão de vida ou de morte.

Lc. 17,33-35: “ Quem procurar salvar a vida vai perdê-la, e quem perder a vida vai salvá-la. Eu lhes digo: Naquela noite, dois estarão na mesma cama; um será tomado e o outro será deixado. Duas mulheres estarão moendo juntas; uma será tomada e a outra deixada”.

Só se sente realizada na vida a pessoa que for capaz de doar-se pelos outros. Perde o sentido da vida quem quiser conservá-la só para si. Este conselho de Jesus é a confirmação da mais profunda experiência humana: o sentido da vida está na doação da vida. É dando que se recebe! O mundo passará, mas a palavra de Jesus jamais passará (Is.40,7-8)

Diante das preocupações quanto ao fim dos tempos, Jesus destaca que o mais importante é a firmeza permanente em relação aos compromissos do discipulado, baseados na oferta da vida a serviço dos demais. O que dá segurança não é saber a hora do fim dos tempos, mas sim a Palavra de Jesus presente na vida.

Lc. 17,37: Então os discípulos lhe perguntaram: “Onde Senhor? ” Ele respondeu-lhes: “Onde estiver o corpo, aí também se ajuntarão os urubus”.

Resposta enigmática. Alguns acham que Jesus lembra a profecia de Ezequiel, retomada no livro do Apocalipse, na qual o profeta se refere à batalha final contra os poderes do mal. As aves de rapina ou os urubus serão convidados para comer a carnes dos cadáveres (Ez. 39,4. 17-20) e (Ap.19,17-18).

Outros acham que se trata simplesmente de um provérbio popular que significava mais ou menos o que diz o nosso povo: “Onde tem fumaça, tem fogo”.

Para refletir: Sou dos tempos de Noé e de Ló?

P/ CEBI (Centro Estudos Bíblicos) Raul de Amorim Pires>raul4ap@gmail