ZELO PELA TUA CASA... - Raul Amorim

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23/11/2018 - 00:00

(Jo. 2,13-22)

Hoje, celebramos a Dedicação da Igreja de Latrão, por ser a primeira igreja construída em Roma. É chamada, por isso, a mães de todas as igrejas do mundo. Por motivo de antiguidade, a Igreja mantém a tradição de uma festa litúrgica. Não estamos comemorando a construção daquela igreja, mas vamos nos servir dela para refletir sobre a Igreja que é formada por pedras vivas, que é o Povo de Deus.

Jo. 2, 13-14: A Páscoa dos judeus estava próxima, e Jesus subiu para Jerusalém. No Templo, Jesus encontrou os vendedores de bois, ovelhas e pombas e os cambistas sentados.

Na festa da Páscoa o povo romeiro vinha caminhando dos lugares mais distantes para encontrar-se com Deus no Templo. O Templo ficava no alto de um morro na zona norte-nordeste de Jerusalém. Era chamado Monte Sião. Observando a beleza do Templo, a firmeza das muralhas e a grandeza das montanhas ao redor faziam o povo refletir a respeito da proteção de Deus.

Por isso o povo rezava: “Aqueles que confiam no Senhor são como o monte Sião: ele nunca se abala, está firme para sempre. Jerusalém é rodeada de montanhas, assim o Senhor envolve o seu povo, desde agora e para sempre.” (Sl. 125,1-2)

No Templo, que deveria ser o lugar do culto ao Deus verdadeiro de Israel, o Deus de libertação, o Deus dos pobres e sofridos, Jesus encontra um verdadeiro mercado, onde, no pátio externo era possível comprar animais para os sacrifícios, e trocar a moeda, uma vez que amoeda corrente do país na era aceita no Templo.

Jo. 2,15-18: Fez então um chicote de cordas e expulsou todos do Templo, e também as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e virou as mesas dos cambistas. E disse aos que vendiam pombas: “Tirem isso daqui! Não façam da casa do meu Pai uma casa de negócios”. Seus discípulos se lembraram do que está escrito: “O zelo pela tua casa me consumirá”.

Quando ataca esse comércio, Jesus estava indo além da mera condenação de um abuso. O agir severo de Jesus mostra sua consciência de como as atividades religiosas podem ser corrompidas pelos interesses econômicos e políticos do grupo dominante.

Para legitimar sua ação Jesus faz memória do profeta Jeremias: “Este Templo, onde meu nome é invocado, será por acaso abrigo de ladrões? Estejam atentos, porque eu estou vendo tudo isso - oráculo de Javé

Jo. 2,19-20: Os judeus responderam dizendo a Jesus: “Que sinal nos mostras para fazeres tais coisas?” Jesus respondeu dizendo-lhes: “Destruam esse santuário, e em três dias eu o levantarei”. Os judeus então disseram: “Há quarenta e seis anos vem sendo construído este santuário, e tu o levantarás em três dias?”

Tocando no templo, Jesus tocou no fundamento da religião do seu povo. Os judeus, isto é, os líderes, perceberam que ele tinha agido com muita autoridade. Por isso pedem explicação. Estes versículos mostram que o corpo ressuscitado de Jesus é o Templo que efetivamente importa. Para uma comunidade que vive após a destruição de Jerusalém e do seu Templo pelos romanos que é o público alvo do evangelista é uma oportunidade de se convencer de que o culto que agrada a Deus não é aquele que se define por lugares e ritos, mas o que acontece na vida como nos diz no capítulo quatro: “Mas vai chegar a hora, e é agora, em que os verdadeiros adoradores vão adorar o Pai em espírito e verdade”. (Jo. 4,23)

Jo. 2, 21-22: Jesus porém falava do santuário do seu corpo. Quando ele foi ressuscitado dentre os mortos, seus discípulos se lembraram do que ele havia dito, e creram na Escritura e na palavra que Jesus tinha dito.

Os discípulos também não entenderam o significado destas palavras de Jesus. Foi só depois da ressurreição que compreenderam que ele estava falando do templo do seu corpo. A compreensão das coisas de Deus só acontece aos poucos, em etapas.

A expulsão dos comerciantes do Templo tinha ajudado a compreender as profecias do Antigo Testamento. Agora, é a luz da ressurreição que ajuda a entender as palavras do próprio Jesus. Jesus ressuscitado é o novo Templo, onde Deus se faz presente no meio da comunidade.

Na festa da Dedicação da Basílica de Latrão aproveitemos para reavaliar a nossa prática religiosa, para que não caiamos na desgraça do Templo- bonito atraente e emocionante, mas vazio de sentido.

P/ CEBI (Centro Estudos Bíblicos) Raul de Amorim Pires > raul4ap@gmail.com