No último dia no México, Papa celebra diante da fronteira com os EUA

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Durante missa campal em Ciudad Juárez, Francisco afirmou: "nenhuma fronteira pode nos separar"
Publicado em: 18/02/2016 - 09:15
Créditos: Redação com Rádio Vaticano

 “É o momento de dar graças a Nosso Senhor por me ter permitido esta visita ao México”, disse o Papa Francisco, em seu último pronunciamento no México, na tarde desta quarta-feira, 17, no final na missa presidida em Ciudad Juárez, na fronteira com o EUA.

“Não quero partir sem agradecer o esforço de quantos tornaram possível esta peregrinação... a todos aqueles que colaboraram, de várias maneiras, para esta visita pastoral. A tantos servidores anônimos que, no silêncio, deram o seu melhor para que estes dias fossem uma festa de família, obrigado!”, acrescentou o Pontífice.

Mais de 200 mil pessoas participaram da celebração em Ciudad Juárez. Outras 30 mil também puderam acompanhar a missa por meio de uma transmissão ao vivo projetada no Estádio da Universidade do Texas, no lado norte-americano da fronteira, em El Paso. “Graças à ajuda da tecnologia, podemos rezar, cantar e celebrar juntos este amor misericordioso que o Senhor nos dá, e que nenhuma fronteira poderá nos impedir de compartilhar. Obrigado irmãos e irmãs de El Paso, por nos fazer sentir uma só família e uma mesma comunidade cristã”, afirmou o Papa na homilia.

Antes da celebração, o Papa abençoou, às margens do Rio Bravo - que delimita a fronteira -, cruzes que lembram os que perderam a vida na tentativa de atravessar a fronteira entre os dois países. Do outro lado, junto da cerca que divide o México dos EUA, inúmeros fiéis se concentravam para saudar o Santo Padre à distância.

Ao abordar o fenômeno global das migrações forçadas, no fim da homilia, Francisco condenou as graves injustiças perpetradas contra milhares de migrantes que fogem da pobreza e violência e, com frequência, acabam nas mãos de traficantes de seres humanos. “Aqui em Ciudad Juárez concentram-se milhares de migrantes da América Central e de outros países, sem esquecer tantos mexicanos que procuram também passar para ‘o outro lado’. Uma passagem, um caminho carregado de injustiças terríveis: escravizados, sequestrados, objetos de extorsão, muitos irmãos nossos acabam vítimas do tráfico humano”, recordou Francisco.

Entre os detentos

Pela manhã, o Santo Padre visitou um Centro de Readaptação Social de  Ciudad Juárez. Em seu discurso, Francisco sublinhou que celebrar o Jubileu da Misericórdia com os detentos “é o caminho que devemos urgentemente empreender para romper o ciclo vicioso da violência e da delinquência”.

“A misericórdia divina lembra-nos que as prisões são um sintoma de como estamos na sociedade; em muitos casos são um sintoma de silêncios e omissões provocadas pela cultura do descarte. São sintoma duma cultura que deixou de apostar na vida, duma sociedade que foi abandonando os seus filhos”, disse ainda o Papa.

Com os trabalhadores

Em seguida, o Papa se encontrou com o os trabalhadores no Colégio Bachilleres, onde afirmou que o México precisa construir verdadeiras e concretas oportunidades de trabalho para os jovens e recordou que “sempre que a integridade de uma pessoa é violada, de certa forma, a sociedade inteira começa a deteriorar-se”.

O Pontífice ressaltou, ainda, que a falta de trabalho gera situações de pobreza. "E esta pobreza torna-se o terreno favorável para cair na espiral do narcotráfico e da violência. Um luxo que ninguém se pode conceder é deixar só e abandonado o presente e o futuro do México", advertiu.  “Deus pedirá contas aos escravagistas dos nossos dias, e nós devemos fazer todo o possível para que estas situações não ocorram mais. O fluxo do capital não pode determinar o fluxo e a vida das pessoas”, continuou.

Ao destacar o papel da Igreja, que “há de ser uma voz profética que ajuda a não nos perdermos no mar sedutor da ambição”, Francisco afirmou que “a única pretensão da Doutrina Social da Igreja é velar pela integridade das pessoas e das estruturas sociais”.

“Todos devemos lutar para que o trabalho seja uma instância de humanização e de futuro; seja um espaço para construir sociedade e cidadania”, exortou o Pontífice.

Por fim, ao instar o México a fazer escolhas que permitam as futuras gerações “ter na memória  a cultura de um trabalho digno”, em um mundo cujo destino não seja determinado pela competição, Francisco concluiu:

“O lucro e o capital não são um bem superior ao homem, mas estão ao serviço do bem comum. E, quando o bem comum é forçado a estar ao serviço do lucro e o único a ganhar é o capital, a isto chama-se exclusão”.