Missão da Igreja e Educação no Magistério Recente

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15/08/2014 - 00:00

No dia 28 de Outubro de 1965, o Concílio Vaticano II promulgou a Declaração Gravissimum educationis, um documento conciliar que delineia o pensamento da Igreja sobre a Educação Cristã: “todos os homens, de qualquer raça, condição e idade, por força da dignidade de pessoa, têm direito inalienável à educação, correspondente ao próprio fim, acomodada à própria índole, sexo, cultura e tradições pátrias, e, ao mesmo tempo, aberta ao consórcio fraterno com os outros povos para favorecer a verdadeira unidade e paz na terra. A verdadeira educação, porém, pretende a formação da pessoa humana em ordem ao seu fim último e, ao mesmo tempo, ao bem das sociedades de que o homem é membro e em cujas responsabilidades, uma vez adulto, tomará parte.”
“...De igual modo, o sagrado Concílio declara que as crianças e os adolescentes têm o direito de ser estimulados a apreciar justamente os valores morais e a cultivá-los pessoalmente, bem como a conhecer e a amar Deus com maior perfeição.” (cfr. Declaração Gravissimum educationis, n. 1, in Documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965), Paulus, 1997).

Mais adiante, o documento conciliar reitera que “pertence à Igreja o dever de educar... porque tem o dever de anunciar a todos os homens o caminho da salvação, de comunicar aos crentes a vida de Cristo e ajudálos, com a sua contínua solicitude, a conseguir a plenitude desta vida... ao mesmo tempo, porém, colabora com todos os povos na promoção da perfeição integral da pessoa humana, no bem da sociedade terrestre e na edificação de um mundo configurado mais humanamente.” (cfr. ibidem, n. 3)

É missão primária da Igreja anunciar o Evangelho a toda criatura e em todos os ambientes. Como decorrência de sua solicitude em dilatar o Reino de Deus, também deseja estender o seu influxo evangelizador aos âmbitos da educação em todos os níveis: fundamental, médio e superior. Nesse sentido, os centros de ensino ligados à Igreja têm um papel fundamental na evangelização. Além deles, a Igreja também deseja fazer-se presente nas demais instituições de ensino, particulares e públicas, através do testemunho pessoal dos fiéis leigos – professores, alunos e funcionários – atuantes nesses estabelecimentos.

Os Bispos reunidos na V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, realizada em Aparecida de 13 a 31 de maio de 2007, manifestaram um claro sinal de alerta sobre a situação da educação em nosso continente sulamericano:

“A América latina e o Caribe vivem uma particular e delicada emergência educativa. Na verdade, as novas formas educacionais de nosso continente... aparecem centradas prioritariamente na aquisição de conhecimentos e habilidades e denotam um claro reducionismo antropológico, visto que concebem a educação em função da produção, da competitividade e do mercado” (Documento de Aparecida, Edições CNBB, Paulus e Paulinas, 2007, n. 328).

Por esse motivo, o Documento de Aparecida proclama a necessidade de uma profunda renovação na escola católica: “Devemos resgatar a identidade católica de nossos centros educativos por meio de um impulso missionário corajoso e audaz, de modo que chegue a ser uma opção profética plasmada em uma pastoral da educação participativa. Tais projetos devem promover a formação integral da pessoa, tendo seu fundamento em Cristo, com identidade eclesial e cultural, e com excelência acadêmica” (cfr. Ibidem, n. 337).

Ao se referir especificamente à missão das escolas católicas, o Documento de Aparecida propõe que “a educação na fé seja integral e transversal em todo o currículo, levando em consideração o processo de formação para se viver como discípulos e missionários de Jesus Cristo e inserindo nela verdadeiros processos de iniciação cristã.” (cfr. Idem, n. 338)

Em relação às universidades católicas, os bispos lançam um desafio: “terão que desenvolver com fidelidade sua especificidade cristã. Entre elas, encontra-se, sobretudo, o diálogo fé e razão, fé e cultura e a formação de professores, alunos e pessoal administrativo através da Doutrina Social e Moral da Igreja...” (cfr. Idem, n. 342).

Desde a sua eleição ao ministério petrino, o Papa Francisco, na esteira do Documento de Aparecida, deseja ver a Igreja “em permanente estado de missão”, para abrir-se, procurar as pessoas onde estão. É o que nos diz na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium: “Fiel ao modelo do Mestre, é vital hoje que a Igreja saia para anunciar o Evangelho a todos, em todos os lugares, em todas as ocasiões...”. (Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho), 2013, n. 23.

Com o objetivo de atender de maneira mais adequada os desafios da ação evangelizadora da Igreja nos âmbitos da educação e da universidade, no dia 27 de junho de 2014 foi criado na Arquidiocese de São Paulo o Vicariato Episcopal para a Educação e a Universidade.

Com este novo organismo pastoral, a Arquidiocese de São Paulo quer dedicar particular atenção e interesse ao mundo juvenil, que se encontra, sobretudo, nos âmbitos da educação e da universidade; neles, a Igreja não pode estar ausente nem desinteressada, pois tem muito a contribuir.

São Paulo, 15 de Agosto de 2014

Dom Carlos Lema Garcia
Bispo Auxiliar de São Paulo
Vigário Episcopal para a Educação e a Universidade