Caminhos da Iniciação à Vida Cristã (8) - Dom Tarcísio Scaramussa, SDB

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Publicado em: 08/07/2014 - 10:30
Créditos: jornal O São Paulo - ed. n. 3009

Dando continuidade à reflexão sobre caminhos de Iniciação à Vida Cristã, à luz da exortação apostólica do papa Francisco, Evangelii Gaudium, destacaremos hoje a dimensão social e política da caridade. A iniciação deve conduzir também à vivência desta dimensão.

A caridade transcende o aspecto das relações pessoais, e tem também uma dimensão social e política, que o Papa chama de solidariedade social que leva à transformação das estruturas. Também nesta ação é necessário o critério evangélico da caridade, para que as mudanças nas estruturas sejam sustentadas por esta convicção, e não por briga de poder, que as tornariam viciadas, corruptas e pesadas: “A solidariedade é uma reação espontânea de quem reconhece a função social da propriedade e o destino universal dos bens como realidades anteriores à propriedade privada. A posse privada dos bens justifica-se para cuidar deles e aumentá-los de modo a servirem melhor o bem comum, pelo que a solidariedade deve ser vivida como a decisão de devolver ao pobre o que lhe corresponde. Estas convicções e práticas de solidariedade, quando se fazem carne, abrem caminho a outras transformações estruturais e tornam-nas possíveis. Uma mudança nas estruturas, sem se gerar novas convicções e atitudes, fará com que essas mesmas estruturas, mais cedo ou mais tarde, se tornem corruptas, pesadas e ineficazes” (E.G., n. 189).

A transformação visa a construção de uma sociedade justa e fraterna, superando, portanto, o grande fosso existente entre ricos e pobres, buscando a inclusão social. Na base do compromisso social deve estar o amor aos pobres e a decorrente opção pelos pobres. A esse respeito o Papa lembra que “no coração de Deus, ocupam lugar preferencial aos pobres, tanto que até Ele mesmo ‘Se fez pobre’ (2 Cor 8, 9). Todo o caminho da nossa redenção está assinalado pelos pobres” (E.G. n. 197).

As atitudes de fé a serem cultivadas na relação com os pobres são apontadas pelo Papa como um caminho de libertação movido pelo Espírito: “O nosso compromisso não consiste exclusivamente em ações ou em programas de promoção e assistência; aquilo que o Espírito põe em movimento não é um excesso de ativismo, mas primariamente uma atenção prestada ao outro ‘considerando-o como um só consigo mesmo’. Esta atenção amiga é início duma verdadeira preocupação pela sua pessoa e, a partir dela, desejo procurar efetivamente o seu bem. Isto implica apreciar o pobre na sua bondade própria, com o seu modo de ser, com a sua cultura, com a sua forma de viver a fé. O amor autêntico é sempre contemplativo, permitindo-nos servir o outro não por necessidade ou vaidade, mas porque ele é belo, independentemente da sua aparência... Quando amado, o pobre ‘é estimado como de alto valor’, e isto diferencia a autêntica opção pelos pobres de qualquer ideologia, de qualquer tentativa de utilizar os pobres ao serviço de interesses pessoais ou políticos... Não seria, este estilo, a maior e mais eficaz apresentação da boa nova do Reino?” (E.G., n. 199).

Dom Tarcísio Scaramussa, SDB
Bispo Auxiliar de São Paulo
Vigário Episcopal da Região Sé

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