Parábola do Guia Cego - Raul de Amorim

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09/09/2016 - 00:15

Lc. 6,39-42

O Ser humano tem uma enorme capacidade de ver os defeitos dos outros, mesmo os menores, mas tem dificuldades de enxergar os seus, por mais que sejam grandes. O evangelho traz mais alguns trechos do discurso que Jesus pronunciou. É um recado importante para os animadores de comunidade.

Lc. 6,39: “Por acaso um cego pode guiar outro cego? Os dois não cairão num buraco?”

Jesus continua nos advertir a respeito de uma vida de comunidade guiada pela justiça de Deus. Ela deverá basear-se na convicção da fragilidade e limitação de cada um. A pergunta nada tem a ver com a cegueira física e sim com a capacidade humana de liderar.

Lc. 6,40: “O discípulo não está acima do seu mestre. E todo discípulo bem preparado será como seu mestre”

Jesus é Mestre. Não é professor. Professor dá aula em várias matérias, mas não convive. Mestre não dá aula, mas convive. A sua matéria é ele mesmo, o seu testemunho de vida, a sua maneira de viver as coisas que ensina.

A convivência com o mestre tem três aspectos:

1- O mestre é o modelo ou o exemplo a ser imitado: “Eu lhes dei um exemplo, para que vocês façam do modo como eu fiz”. (Jo13, 15) O serviço aos irmãos não é algo que se possa escolher ou não; pelo contrário é memorial daquilo que o Mestre e Senhor veio fazendo em favor dos discípulos.

2- O discípulo não só contempla e imita, mas também se compromete com o destino do mestre, com suas tentações: “Foram vocês que ficaram comigo em minhas tentações” (Lc.22,28), nas perseguições e na morte: Então Tomé, chamado Gêmeo, disse aos outros discípulos: “Vamos nós também, para morrermos com ele”. (Jo.11,16)

3- Não só imita o modelo, não só assume o compromisso, mas chega a identificar-se: “E já não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim. E a vida que vivo agora na carne, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim. (Gl.2,,20) Este terceiro aspecto é a dimensão mística do seguimento de Jesus, fruto da ação do Espírito Santo.

Lc. 6,41-42: “Por que você repara no cisco que está no olho do teu irmão, e não percebe a trave que está no seu próprio olho”?...

O que Jesus está condenando é o espírito, a atitude que só consegue enxergar falhas nos outros ou que vendo um erro, logo julga a pessoa com severidade. “Costumamos ver nossa própria injustiça (nossos erros) com lente de redução enquanto a do outro com lente de aumento”.

Enquanto você tiver algo em seu olho, não estará qualificado para ajudar alguém com um cisco. Sua capacidade de enxergar estará comprometida, por conviver com um problema igual ou maior.

Quer ensinar? Então aprenda primeiro. Quer ser guia espiritual de alguém? Então se deixe guiar pelos ensinamentos de Jesus. Quer falar de perdão? Então exercite o perdão todos os dias. Quando repararmos o quanto existe para mudar em nós mesmos, vamos estar bem mais preparados para ajudar outros.

“Senhor, que meu coração saiba ser solidário e misericordioso com as fraquezas do meu próximo, sem cair na tentação de tornar-me juiz”. AMEM.