Ouvistes o que foi dito... Eu, porém vos digo - Raul de Amorim

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10/06/2016 - 00:15

Mt. 5, 27-32

Nas comunidades para as quais Mateus escreve o seu Evangelho havia opiniões diferentes a respeito da Lei de Moisés. Para alguns, ela não tinha mais sentido. Para outros, ela devia ser observada nos mínimos detalhes. Por isso, havia muitos conflitos. Mateus tenta ajudar a entender melhor o verdadeiro sentido da Lei e traz alguns conselhos de Jesus para ajudar a superar os conflitos que surgem nas comunidades.

Mt. 5,27-28: “Vocês ouviram o que foi dito... Eu, porém vos digo...” Por cinco vezes Jesus repete essa frase apresentando-se como autoridade soberana. Aqui existe alguém maior que Moisés. Jesus tem uma atitude de ruptura e de continuidade. “Todo aquele que olha para uma mulher cobiçando-a, já cometeu adultério com ela no coração...” Jesus vai mais a fundo na Lei radicalizando até a atitude interior, o desejo consentido que induz ao ato. No segundo livro de Samuel temos o caso do rei Davi com Betsabeia que era esposa de Urias que exemplifica bem essas palavras de Jesus (2Sam 11,2).

Ele rompe com as interpretações erradas que se fechavam na prisão da letra, mas reafirma categoricamente o objetivo ultimo da lei: alcançar a justiça maior que é o amor. A exigência de fidelidade no amor não fica na superfície, deve ter sua base no interior de cada um e atingir todos os sentimentos e ações. A fidelidade só será possível, se os dois souberem chegar a uma total transparência entre si.

Mt. 5,29-30: “Se seu olho direito é motivo de escândalo para você, arranque-o e jogue-o fora. Porque é melhor para você perder um de seus membros do que todo seu corpo ser jogado no inferno...” O mesmo Ele afirma com relação à mão direita. São palavras duras que Ele também usou em outra ocasião quando tratava do escândalo aos pequenos (Mt.18,9). Estas afirmações não podem ser tomadas ao pé da letra. Elas indicam a radicalidade e a seriedade com que Jesus explica o mandamento.

Mt. 5, 31-32: “Foi dito também: Quem mandar embora sua esposa... Aqui Jesus  se dirige aos homens, os únicos que, conforme a Lei podiam decretar o divórcio. É preciso amadurecer as decisões, considerando os compromissos assumidos e os efeitos que provocam na vida de todas as pessoas envolvidas. Jesus com a releitura que faz  dos mandamentos quer nos apontar para um ideal que deve estar sempre diante de nós:  “Sejam perfeitos como é perfeito o Pai celeste de vocês” (Mt.5,48).

Este ideal vale para todos os preceitos revistos por Jesus. No caso do adultério, se traduz na transparência e honestidade entre marido e mulher. Meditando o evangelho e olhando a realidade podemos afirmar que ninguém pode dizer: “Sou perfeito como o Pai do céu é perfeito”. O que importa é manter-se na caminhada. Podemos começar a seguir esse ideal esforçando-nos em aceitar as pessoas com a mesma misericórdia com que Jesus aceitava e as orientava no verdadeiro caminho.