O nome dele é João - Raul de Amorim

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24/06/2016 - 00:15

Lc.1,57-66.80

O termo “festa junina” está associado a tradições de países cristãos europeus que prestam homenagem a São João no dia 24 de junho. Um dos grandes símbolos das festas juninas é a fogueira de São João. Segundo a lenda, ela surgiu na noite do nascimento do santo, quando sua mãe, Isabel, teria mandado acender uma fogueira nas montanhas da Judeia para anunciar a chegada do filho. A leitura de hoje nos fala do nascimento de João. Vamos meditar.

Lc.1,57-58: Quando se completou o tempo de Isabel dar à luz, ela teve um menino. Os vizinhos e parentes ouviram dizer que o Senhor havia tido grande misericórdia para com Isabel e se alegraram com ela... Deus ama seu povo e descobre formas humanas de vir ao encontro das pessoas, de fazer chegar a Sua Palavra. João nasceu numa aldeia chamada Ain Karem. Os parentes e vizinhos souberam da notícia e vieram se alegrar com o casal. Neste ambiente em que todos se envolvem com a vida dos outros, tanto na alegria como na dor, João nasceu.

Lc.1,59: E queriam dar-lhe o nome de seu pai... É interessante observar o envolvimento dos parentes e vizinhos na vida familiar de Zacarias a ponto de quererem interferir até na escolha do nome da criança. Por tradição o nome era importante, indicava a pessoa, as qualidades... Querem dar ao menino o nome do pai: Zacarias. O nome Zacarias significa: “Deus se lembrou”. Talvez quisessem expressar a gratidão a Deus por Ele ter se lembrado de Isabel e de Zacarias e por ter-lhes dado um filho na velhice.

Lc.1,60-63: Mas a mãe disse: “Não, ele se chamará João... Isabel intervém e não permite que os parentes tomem a dianteira na questão do nome. Lembrando o anúncio do nome pelo anjo a Zacarias (Lc.1,13), ela diz: “Não ele se chamará João”. Isabel não seguiu os costumes tradicionais do lugar e escolheu um nome fora dos padrões normais. Por isso, os parentes e vizinhos reclamam: “Entre seus parentes não há ninguém com esse nome”.  

O pessoal não se dá por vencido e fazem sinais ao pai para saber dele como o menino seria chamado. Zacarias pediu uma tabuinha, e escreveu: “O nome dele é João”. A imposição do nome reservado ao pai é expressão da sua autoridade sobre o filho. Zacarias renuncia a este direito. Todos ficaram admirados... Com a atitude de Zacarias podemos aprender o processo de conversão e de mudança. Não ser obstáculo ao projeto de Deus.

O nascimento de João (que significa: “Deus se mostrou misericordioso”) é um presente a seus pais e motivo de alegria para os vizinhos. Mas principalmente, é razão de esperança: de uma criança sempre se espera algo novo!

Lc.1,64-66.80: No mesmo instante a boca e a língua de Zacarias se soltaram e ele começou a falar, louvando a Deus... Todos os vizinhos ficaram com medo e a notícia se espalhou por toda a região. Todos que ouviam a notícia ficavam pensando: “O que esse menino vai ser?” “De fato a mão do Senhor estava com ele...” Essa expressão faz memória do Antigo Testamento onde serve para exprimir ação de Deus sobre os profetas: No primeiro livro de Reis encontramos: “A mão de Javé veio sobre Elias... (1Rs.18,46). No segundo livro de Reis temos a mesma expressão com relação a Eliseu (2Rs8,3).

O evangelho de hoje quer nos explicar que João tem a proteção de Deus e que Deus age nele. Toda a existência de João se compreende à luz da iniciativa divina. Lucas mostra que o Novo Testamento realiza o que o Antigo anunciava. Nas figuras de Isabel e Zacarias e depois Maria e José, o evangelista apresenta um modelo de como se converter e acreditar no Novo que está chegando. Sentir a mão de Deus não significa não ter nada para fazer, ou ter tudo claro, mas sim caminhar com Ele, na busca contínua de crescimento.