“Espiritualidade Cristã é ser discípulo missionário de Jesus”

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Em aula magna do curso de Fé e Política, Dom Angélico refletiu sobre os principais conflitos na cidade e disse: a Igreja que não se preocupa com esses problemas é uma Igreja alienada
Publicado em: 03/03/2016 - 14:45
Créditos: Texto e fotos: Peterson Prates

No dia 22 de fevereiro, a Escola de Fé e Política Waldemar Rossi promoveu, no Centro Pastoral São José, a aula magna com dom Angélico Bernardino Sândalo, com o tema “Espiritualidade do Conflito na Cidade de São Paulo”.

Dom Angélico, bispo emérito de Blumenau, exerceu seu ministério episcopal na Arquidiocese de São Paulo, nas regiões São Miguel (hoje diocese), Belém e Brasilândia. “Quando cheguei dei de repórter”, disse dom Angélico, que antes de ser padre foi jornalista em Ribeirão Preto. Ele relatou a existência de oito pneus em um terreno baldio, vizinho do Centro Pastoral. Contou ainda que andou todo o quarteirão à procura do proprietário do terreno que chamou de “lixo cercado”.

“Faça uma procissão neste ano da misericórdia, levem uma grande cruz, convidem o prefeito e o governador, e entrem pela porta santa do murro arrebentado”, sugeriu dom Angélico, como ação do Centro Pastoral nesta Campanha da Fraternidade, que chama a atenção para a questão do saneamento básico. “Isso é conflito, meus irmãos”, completou.

Dom Angélico elogiou a iniciativa do curso de Fé e Política e do curso de Teologia que também acontece no Centro Pastoral, no empenho da formação do laicato. “A Igreja investe na formação dos padres, das religiosas, dos diáconos permanentes e dá migalhas para formação adequada dos leigos.”

O Bispo de 83 anos, ainda no início de sua fala, contou uma experiência própria, da situação do metrô, que utilizou para ir ao Centro Pastoral. “Que conflito”, expressou dom Angélico sobre a situação do transporte.

“Espiritualidade Cristã é ser discípulo missionário de Jesus, se comprometer com aquilo que Jesus se comprometeu, é ser um encantado por Jesus.”, exortou dom Angélico. “Espiritualidade Cristã e compromisso de amor” e completou “o único sinal que Jesus deixou, e pelo qual seremos reconhecidos como discípulos de Jesus é o amor”. E citando dom Oscar Romero, disse “uma religião de Missa Dominical, mas de semanas injustas, não agrada o Deus da vida. Uma religião de muita reza, mas de hipocrisias no coração, não é cristã. Uma Igreja que se instala só para estar bem, para ter muito dinheiro, muita comodidade, porém que não ouve o clamor dos injustiçados, não é a verdadeira Igreja do nosso Divino Redentor”.

Lembrou que os principais conflitos hoje na cidade são a saúde, a educação, o transporte e a moradia. “A Igreja que não se preocupa com esses problemas é uma Igreja alienada”, e sugeriu quatro degraus da caridade fraterna que nossa espiritualidade deve subir, “amar o próximo como assim mesmo; amar o próximo como amamos a Jesus; amar o próximo como Jesus nos ama e o último degrau, devemos amar o próximo a exemplo da Santíssima trindade que une os irmãos”.

Como jornalista, dom Angélico não deixou de falar sobre a grande imprensa brasileira, a quem chamou de “prostituida”, e lembrou que no tempo de Jesus a união do poder econômico com o poder político já enganava o povo. Não deixou de tecer críticas ao jornal O São Paulo, que na edição 3.087, divulgou marchinhas de carnaval, em que zombava de autoridades do país, como a presidente da República e o presidente da Câmara dos Deputados. “Isso é conflito” relatou, e prosseguiu “como é que um jornal católico veicula um negócio desse tipo, e dá um espaço de duas páginas?”

A aula de Dom Angélico lotou a sala dom Paulo Evaristo Arns, e terminou motivando as pastorais sociais e respondendo a perguntas. Por fim, recordou que “ser católico é viver em penca, em comunidade”.

Aula magna da Escola de Fé e Política Waldemar Rossi com Dom Angélico