Quaresma: tempo favorável para a conversão e o encontro com Deus e Sua misericórdia

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Afirmou o Cardeal Odilo Scherer, na missa da Quarta-feira de Cinzas, na Catedral da Sé
Publicado em: 15/02/2024 - 15:45
Créditos: Redação

O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, presidiu na tarde da Quarta-feira de Cinzas, 14, a missa com o rito de imposição das cinzas, que marca o início do tempo da Quaresma. Na mesma ocasião, a Igreja no Brasil também abre a Campanha da Fraternidade que, em 2024, convida à reflexão sobre a “Amizade Social”. 

Na homilia, Dom Odilo recordou que a Quaresma é o “tempo favorável para o encontro com Deus e aconversão”, mediante os exercícios penitenciais vivenciados pelos cristãos ao longo dos séculos: a oração, o jejum e a esmola. Tais práticas exprimem a conversão, em relação a si mesmo, a Deus e aos outros.

PRÁTICA AUTÊNTICA

No Evangelho proclamado na missa da Quarta-feira de Cinzas, Jesus coloca em evidência uma tentação comum nessas três obras penitenciais, que podem ser resumidas justamente na hipocrisia.

“‘Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles… Quando deres esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas… Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar em pé, nas sinagogas e nas esquinas das praças, para serem vistos pelos homens… E, quando jejuardes, não fiqueis com o rosto triste como os hipócritas” (Mt 6,1.2.5.16)’”, destaca o texto bíblico.

“A Quaresma é para nós este tempo de revisão, de avaliação. Como estamos vivendo a nossa religiosidade, a nossa fé cristã? É apenas um rito exterior ou isso brota do coração, da fé sincera, da humidade?”, indagou o Cardeal Scherer, sublinhando que a Quaresma ajuda na busca da conversão para uma religiosidade sincera, que verdadeiramente agrade a Deus. 

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 

Sobre a Campanha da Fraternidade, Dom Odilo explicou que essa iniciativa, que comemora 60 anos na Igreja do Brasil, acompanha a Quaresma, porém, não preenche todo o tempo quaresmal. “É um dos exercícios da Quaresma na linha da esmola, da caridade. A campanha nos chama a rever nossas relações com o próximo, a nossa caridade fraterna sobre diferentes pontos de vista”, acrescentou. (leia mais na página 10)

No fim da missa, foi feito um envio simbólico para a realização da CF, com a entrega de exemplares do texto-base da campanha a representantes das regiões e vicariatos episcopais da Arquidiocese.

CONVERSÃO E RECONCILIAÇÃO 

O nome desse tempo litúrgico deriva da palavra latina quadragesima. A exemplo de Jesus, que se retirou no deserto por 40 dias para orar e jejuar antes de iniciar sua vida pública, os cristãos são convidados a um “retiro e recolhimento”, em vista das celebrações dos mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. 

Pelo rito penitencial da imposição das cinzas no início da Quaresma, os cristãos manifestam o desejo pessoal de conversão a Deus. Enquanto impõe as cinzas sobre a cabeça do fiel, o sacerdote diz: “Lembra-te de que és pó e ao pó voltarás” (Gn 3,19) ou “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15).

O caminho de conversão proposto pela Quaresma também incentiva o fiel a intensificar sua participação nos sacramentos da Reconciliação (Confissão) e da Eucaristia, bem como o cultivo de maior familiaridade com a Palavra de Deus. Nesse sentido, o itinerário das leituras bíblicas, proposto pela liturgia da Igreja, auxilia no caminho de recolhimento e conversão, preparando o fiel para a celebração do mistério pascal. 

JEJUM

É chamada de jejum a privação voluntária de alimento, durante algum tempo, por motivo religioso, como ato de culto perante Deus. Embora seja uma prática exterior, o jejum impele a pessoa à oração, à escuta de Deus ao exercitar a virtude da temperança, do espírito de sacrifício, do equilíbrio do corpo e da mente, que leva a uma conversão interior.

Tanto na Quarta-feira de Cinzas quanto na Sexta-feira da Paixão, a Igreja prescreve o jejum e a abstinência de carne como um sacrifício em memória da Paixão de Cristo, que entregou a sua carne para a salvação da humanidade. A abstinência de carne é prescrita a todos os maiores de 14 anos, enquanto o jejum, aos maiores de 18 anos até os 59 anos. As pessoas doentes ou que estão muito debilitadas não estão obrigadas a cumprir esse preceito.  

ESMOLA

A esmola é uma manifestação concreta das obras de misericórdia, isto é, as ações caritativas pelas quais o cristão socorre o próximo em suas necessidades corporais e espirituais. “Entre esses gestos de misericórdia, a esmola dada aos pobres é um dos principais testemunhos da caridade fraterna. E também uma prática de justiça que agrada a Deus”, destaca o Catecismo da Igreja Católica (2462).

As obras de misericórdia corporais são: dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, dar moradia aos desabrigados, vestir os maltrapilhos, visitar os doentes e prisioneiros, sepultar os mortos. Já instruir, aconselhar, consolar, confortar são obras de misericórdia espirituais, assim como perdoar e suportar com paciência.

ORAÇÃO

A oração está no centro da vida cristã e, no tempo quaresmal, adquire um destaque maior. Entre as muitas definições, a de São João Damasceno é uma das que mais abrangem seu sentido, sendo, inclusive, usada pelo Catecismo da Igreja Católica: “A oração é a elevação da alma para Deus ou o pedido feito a Deus de bens convenientes” (2559).

“Seja qual for a linguagem da oração (gestos e palavras), é o homem todo que ora. Mas, para designar o lugar de onde brota a oração, as Escrituras falam às vezes da alma ou do espírito, ou, com mais frequência, do coração (mais de mil vezes). É o coração que ora. Se ele estiver longe de Deus, a expressão da oração será vã”, acrescenta o Catecismo.

Exemplos de penitências e práticas quaresmais

• Comer menos daquilo de que mais gosta e mais daquilo de que não gosta;

• Não utilizar açúcar ou adoçante nas bebidas; 

• Intensificar as práticas cotidianas de oração, como o Rosário e a Via-Sacra; 

• Aumentar a frequência à missa;

• Confessar-se com maior frequência;

• Exercitar a humildade nas pequenas coisas; 

• Não conversar mais que o necessário;

• Ouvir mais do que falar;  

• Evitar intrigas;  

• Evitar se queixar ou murmurar;

• Exercitar a paciência em todas as coisas; 

• Falar a verdade em todas as circunstâncias; 

• Diminuir o uso do telefone e acesso às redes sociais; 

• Optar por leituras espirituais no lugar de entretenimentos;  

• Ser sensível às necessidades do próximo;

• Visitar alguém que está doente;

• Fazer o trabalho que precisa ser feito sem que alguém lhe peça; 

• Levar uma vida mais regrada e organizada;

• Evitar a ociosidade.