‘Este é o tempo da graça para nos aventurarmos no mar da evangelização e da missão’

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Disse o Papa Francisco na celebração das vésperas, em Lisboa
Publicado em: 04/08/2023 - 18:00
Créditos: Redação

Na tarde da quarta-feira, 2, primeiro dia da viagem apostólica do Papa Francisco a Portugal, onde participará da Jornada Mundial da Juventude, o Pontífice presidiu a oração das vésperas no tradicional Mosteiro dos Jerônimos, em Lisboa.

“Estou feliz por me encontrar no meio de vós não só para viver, juntamente com muitos jovens, a Jornada Mundial da Juventude, mas também para partilhar o vosso caminho eclesial com as seus cansaços e esperanças”, disse o Pontífice no começo da homilia, ao saudar os bispos, sacerdotes, diáconos, consagrados, seminaristas e agentes de pastoral, convidando-os a abraçarem, assim como fazem os jovens na JMJ, “o sonho de Deus e encontrar caminhos para uma participação alegre, generosa e transformadora para o bem da Igreja e da humanidade”.

CRISTO SE FAZ SEMPRE PRÓXIMO

Ao destacar que Portugal é uma terra de passagem entre o passado e o futuro, “local de antigas tradições e de grandes mudanças”, envolto pelo oceano, o Papa recordou o chamado que Jesus fez aos primeiros discípulos às margens do Mar da Galileia, quando mudou a vida daqueles pescadores, que já estavam desistindo do dia de pesca sem sucesso.

“O Mestre quer que saiam de novo para o mar a fim de pescar. Em primeiro lugar, temos os pescadores que descem do barco para lavar as redes. Esta é a cena que se apresenta aos olhos de Jesus, e Ele para ali mesmo. Pouco antes quisera começar a sua pregação na sinagoga de Nazaré, mas os seus conterrâneos expulsaram-No da cidade e tentaram até matá-Lo (cf. Lc 4,28-30). Então Jesus sai do lugar sagrado e começa a pregar a Palavra no meio da gente, pelas estradas onde labutam dia a dia as mulheres e os homens do seu tempo. Cristo está interessado em fazer sentir a proximidade de Deus precisamente nos lugares e situações onde as pessoas vivem, lutam, esperam, às vezes colecionando nas suas mãos fracassos e insucessos, precisamente como aqueles pescadores que não tinham pescado nada durante a noite”, ressaltou o Pontífice.

Francisco lembrou que assim como aqueles pescadores que haviam desisitido da pesca, por vezes na vida eclesial as pessoas podem sentir semelhante cansaço, a sensação de ter nas mãos as “redes vazias”.

“Trata-se de um sentimento bastante difundido nos países de antiga tradição cristã, atravessados por muitas mudanças sociais e culturais e cada vez mais marcados pelo secularismo, pela indiferença para com Deus, por um progressivo afastamento da prática da fé”, afirmou.

A NECESSIDADE DE UMA CONSTANTE PURIFICAÇÃO

Francisco lembrou que, por vezes, algumas pessoas se mostrar desiludidas e avessas à Igreja, motivados pelo “nosso mau testemunho e aos escândalos que desfiguraram o seu rosto e que nos chamam a uma humilde e constante purificação, partindo do grito de sofrimento das vítimas que sempre se devem acolher e escutar. O risco, porém, quando nos sentimos desanimados, é descer do barco, acabando presos nas redes da resignação e do pessimismo”, observou.

Diante disso, lembrou o Papa, sempre é importante que quem está na vida eclesial confie em Jesus, que sempre toma as pessoas pelas mãos e levanta sua Igreja: “Por isso, levemos ao Senhor as nossas canseiras e as nossas lágrimas, para poder enfrentar as situações pastorais e espirituais, dialogando entre nós com abertura de coração para experimentar novos caminhos a seguir”.

Fotos: Vatican Media

DESPERTAR A ÂNSIA PELO EVANGELHO

O Papa destacou que a todo tempo, Jesus continua a passar pelas margens da existência humana a insistir para que se continue a lançar as redes.

“Irmãos e irmãs, vivemos certamente um tempo difícil, mas a interpelação que o Senhor dirige hoje à Igreja é esta: ‘Queres descer do barco e afundar na desilusão, ou fazer-Me subir permitindo que seja mais uma vez a novidade da minha Palavra a tomar na mão o leme? Queres apenas conservar o passado que ficou para trás ou lançar de novo e com entusiasmo as redes para a pesca?’. Eis o que nos pede o Senhor: despertar a ânsia pelo Evangelho”, ressaltou.

“Somos chamados a lançar de novo as redes e a abraçar o mundo com a esperança do Evangelho. Não é momento de parar e desistir, de atracar o barco à margem nem de olhar para trás; não devemos escapar deste tempo, só porque nos mete medo, para nos refugiarmos em formas e estilos do passado. Não! Este é o tempo da graça que o Senhor nos concede para nos aventurarmos no mar da evangelização e da missão”, prosseguiu.

OUVIR O SENHOR E LANÇAR AS REDES

E para o bom êxito na evangelização e missão, o Papa fez três recomendações, inspiradas no Evangelho.

A primeira é a de sair da margem das desilusões e do imobilismo para lançar as redes ao mar, ou seja, “afastar-se daquela tristeza melosa e daquele cinismo irônico que nos assaltam à vista das dificuldades. Temos de o fazer para passar do derrotismo à fé, como Simão que, apesar de ter trabalhado em vão toda a noite, conclui: ‘Porque Tu o dizes, lançarei as redes’” (Lc5, 5).

Para tal, também é indispensável a oração, algo que – conforme ressaltou o Papa – muitos sacerdotes, consagrados e leigos têm deixado de realizar bem de modo cotidiano: “Apenas na adoração, só diante do Senhor, é que encontramos o gosto e a paixão pela evangelização. Então, vencemos a tentação de continuar com uma ‘pastoral nostálgica feita de lamentações’ e ganhamos coragem para nos fazermos ao largo, sem ideologias nem mundanismos, animados por um único desejo: que chegue a todos o Evangelho”.

AÇÃO PASTORAL EM CONJUNTO

A segunda recomendação feita pelo Papa é que todos na Igreja se engajem para levar adiante, em conjunto, a pastoral.

“A Igreja é sinodal, é comunhão, ajuda mútua, caminho comum. E a isto tende o Sínodo em curso, que terá o seu primeiro período de assembleia geral no próximo mês de outubro. Na barca da Igreja, deve haver lugar para todos: todos os batizados são chamados a subir para ela e lançar as redes, empenhando-se pessoalmente no anúncio do Evangelho”, disse o Papa, ponderando, que isso tem sido desafiador especialmente nos contextos em que os sacerdotes e os consagrados estão cansados, pois eles são cada vez menos e as necessidades pastorais aumentam cada vez mais.

“Mas podemos olhar para esta situação como uma ocasião para, com fraterno entusiasmo e sã criatividade pastoral, envolver os leigos. Assim as redes dos primeiros discípulos tornam-se uma imagem da Igreja, que é uma ‘rede de relações’ humanas, espirituais e pastorais. Se não houver diálogo, corresponsabilidade e participação, a Igreja envelhece”.

“Nunca um Bispo sem o próprio presbitério e o Povo de Deus; nunca um padre sem os seus irmãos sacerdotes; e todos juntos – sacerdotes, religiosas, religiosos e fiéis leigos – como Igreja, nunca sem os outros, sem o mundo. Sem mundanismo, mas não sem o mundo. Na Igreja, ajudamo-nos, apoiamo-nos reciprocamente e somos chamados a difundir, também fora dela, um clima de fraternidade construtiva”, exortou.

LEVAR JESUS E O EVANGELHO ÀS PESSOAS

Por fim, a terceira recomendação do Pontífice a todos na Igreja: tornar-se pescadores de homens.

“Jesus confia aos discípulos a missão de se fazerem ao largo no mar do mundo. Muitas vezes, na Sagrada Escritura, o mar simboliza o lugar do mal e das forças adversas que os homens não conseguem dominar. Por isso pescar as pessoas e tirá-las para fora da água significa ajudá-las a voltar a subir de onde afundaram, salvá-las do mal que ameaça afogá-las, ressuscitá-las de todas as formas de morte”, destacou.

O Pontífice ponderou que não faltam trevas nas sociedade atual, como se faz perceber pela diminuição do entusiasmo pelas coisas, da coragem de sonhar, da força para enfrentar os desafios, da confiança no futuro.

“A nós, como Igreja, cabe a tarefa de nos fazermos ao largo nas águas deste mar, lançando a rede do Evangelho, sem acusar ninguém, mas levando às pessoas do nosso tempo uma proposta de vida nova, que é a de Jesus: levar o acolhimento do Evangelho a uma sociedade multicultural; levar a proximidade do Pai às situações de precariedade e pobreza, que crescem sobretudo entre os jovens; levar o amor de Cristo onde é frágil a família e se encontram feridas as relações; transmitir a alegria do Espírito onde reinam o desânimo e o fatalismo”, exortou o Papa, antes de concluir a homilia com uma frase do famoso escritor português Fernando Pessoa: “‘Para se chegar ao infinito, e julgo que se pode lá chegar, é preciso termos um porto, um só, firme, e partir dali para Indefinido’ (Livro do Desassossego, Lisboa 1998, 247). Queremos sonhar a Igreja Portuguesa como um ‘porto seguro’ para quem enfrenta as travessias, os naufrágios e as tempestades da vida”.

Ao agradecer a acolhida que recebeu, o Papa a todos confiou à proteção de Nossa Senhora de Fátima e à intercessão de Santo Antônio de Lisboa.

PRÓXIMAS ATIVIDADES DO PAPA FRANCISCO EM PORTUGAL – JMJ LISBOA 2023
*Conforme o horário de Brasília

Quinta-feira – 03/08
Pela manhã, terá encontro com jovens universitários na Universidade Católica Portuguesa (5h) e depois irá à sede das ‘Scholas Occurentes’ (6h40). À tarde, haverá a cerimônia de acolhida do Pontífice na JMJ (13h45), quando ele terá o primeiro encontro com os peregrinos no Parque Eduardo VII.

Sexta-feira – 04/08
Pela manhã, conferirá o sacramento da Penitência a alguns jovens (5h); Depois, terá encontro com representantes de centros de assistência social e caritativa no Centro Paroquial de Serafina, em Lisboa (5h45). Depois, almoçará com jovens na Nunciatura Apostólica (8h), e à tarde participará da Via-Sacra da Juventude no Parque Eduardo VII (14h), com reflexões escritas por jovens dos cinco continentes.

Sábado – 05/08
Pela manhã, irá ao Santuário de Fátima (4h50), onde rezará o Terço na Cova da Iria. À noite, já de volta a Lisboa, participará da vigília de oração com os jovens no Parque Tejo (16h45).

Domingo – 06/08
Pela manhã, no Parque Tejo, presidirá a Missa de Envio da JMJ (5h), seguida da recitação do Angelus. No meio da tarde, terá breve encontro com os voluntários da Jornada (12h30); após o qual haverá a cerimônia de despedida (13h50).

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