Como nos Dias de Noé... - Raul de Amorim

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11/11/2016 - 00:15

Lc. 17,26-37

“Contudo, queridos, já uma coisa que vocês não deveriam esquecer: para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos como um dia” (2Pd.3,8) Este versículo da segunda carta de Pedro nos introduz na meditação do evangelho de hoje que continua a reflexão sobre a chegada do fim dos tempos. O que fazer para não ser pego de surpresa?

Lc. 17,26-29: E como aconteceu no tempo de Noé, também acontecerá nos dias do Filho do Homem. Eles comiam, bebiam, casavam, e davam-se em casamento...

A vida corre normalmente: comer, beber, casar, comprar, vender, plantar, colher... A rotina pode envolver-nos de tal modo que já não conseguimos pensar em outra coisa. O consumismo contribui para aumentar em muitos a desatenção à dimensão mais profunda da vida.

Como também aconteceu nos tempos de Ló. Eles comiam, bebiam, compravam vendiam, plantavam e construíam. Mas o dia em que Ló saiu de Sodoma choveu fogo...

Com exemplos da história antiga do povo de Deus, Jesus alerta seus seguidores para que estejam atentos e se mantenham vigilantes. Não podemos interferir no tempo, mas devemos estar preparados para o momento e que a hora de Deus se fizer presente dentro do nosso tempo. Pode ser hoje, pode ser daqui mil anos.

A referência à destruição de Sodoma como símbolo do que vai acontecer no fim dos tempos, é uma alusão à destruição de Jerusalém ocorrida nos ano 70 dC pelos romanos (cf. Mc.13,14).

Lc. 17,30-32: O mesmo acontecerá no dia em que o Filho do Homem for revelado. Nesse dia, quem estiver no terraço e tiver utensílios em casa, não desça para os recolher...

Difícil para nós imaginar o sofrimento e o trauma que a destruição de Jerusalém causou nas comunidades, tanto dos judeus como dos cristãos. Para ajudá-las a entender e a enfrentar a situação, Jesus usa comparações tiradas do cotidiano. A destruição virá com tal rapidez que não vale a pena descer para casa para buscar alguma coisa.

Lembrem-se da mulher de Ló! (Gn. 19,26) Jesus quer dizer em outras palavras: não olhem para trás, não percam tempo e vão em frente porque é uma questão de vida ou de morte.

Lc. 17,33: Quem procurar salvar a vida vai perdê-la, e quem perder a vida vai salvá-la...

Só se sente realizada na vida a pessoa que for capaz de doar-se pelos outros. Perde o sentido da vida quem quiser conservá-la só para si. Este conselho de Jesus é a confirmação da mais profunda experiência humana: o sentido da vida está na doação da vida. É dando que se recebe! O mundo passará, mas a palavra de Jesus jamais passará (Is.40,7-8)

Dizendo que ninguém é capaz de conservar a vida com seu próprio esforço, Jesus faz memória do salmo onde se diz que ninguém é capaz de pagar o preço do resgate da vida: “Irmão, ninguém pode pagar pelo seu próprio resgate, homem nenhum pode pagar seu preço a Deus. É tão alto o preço do resgate da vida, que seria sempre insuficiente para o homem viver eternamente sem nunca ver o túmulo”. (Sl. 49,8-10) Viver a vida como dom e oportunidade que não se deve desperdiçar.

Lc. 17,34-36: Eu lhes digo: Naquela noite, dois estarão na mesma cama; um será tomado e outro deixado. Duas mulheres estarão moendo juntas; uma será tomada e a outra deixada.

Estes versículos lembram a parábola das dez virgens (Mt.25,1-11). Cinco eram prudentes e cinco sem juízo. O momento da vinda de Jesus no fim dos tempos é desconhecido. É preciso que todos estejam preparados para Ele mediante a prática dos valores do Reino, na busca da justiça de Deus.

Diante das preocupações quanto ao fim dos tempos, Jesus destaca que o mais importante é a firmeza permanente em relação aos compromissos do discipulado, baseados na oferta da vida a serviço dos demais. O que dá segurança não é saber a hora do fim dos tempos, mas sim a Palavra de Jesus presente na vida.

Lc. 17,37: “Onde estiver o corpo, ai também se ajuntarão os urubus”.

Resposta enigmática. Alguns acham que Jesus lembra a profecia de Ezequiel, retomada no livro do Apocalipse, na qual o profeta se refere à batalha final contra os poderes do mal. As aves de rapina ou os urubus serão convidados para comer a carnes dos cadáveres (Ez. 39,4. 17-20) e (Ap.19,17-18).

Outros acham que se trata simplesmente de um provérbio popular que significava mais ou menos o que diz o nosso povo: “Onde tem fumaça, tem fogo”. Rezemos: “FELIZES OS QUE TÊM CONDUTA PERFEITA, OS QUE ANDAM NA LEI DO SENHOR. FELIZES OS QUE OBSERVAM SEUS PRECEITOS E O PROCURAM DE TODO CORAÇÃO” (Sl.119,1-2)