O Cardeal Gerhard Ludwig Müller, Prefeito Emérito da Congregação para a Doutrina da Fé, visitou a Arquidiocese de São Paulo entre os dias 26 e 28 de abril para o lançamento do primeiro volume da coletânea das “Obras Completas” (“Opera Omnia”) do teólogo Joseph Ratzinger, o Papa Emérito Bento XVI.
Publicado pelas Edições CNBB, o volume tem como título “Teologia da Liturgia – O Fundamento Sacramental da Existência Cristã”. Esse também foi o tema das conferências que o Cardeal realizou na Faculdade de Teologia da PUC-SP, no Ipiranga, na sexta-feira, 26, e no Mosteiro de São Bento, no centro, no sábado, 27.
O Cardeal Müller foi acolhido pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo e Presidente da Sociedade Ratzinger do Brasil, criada em 2017 pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasl (CNBB), com a finalidade de traduzir e divulgar as obras de Bento XVI e promover atividades de estudo e pesquisa sobre seu pensamento teológico. Editor responsável pela tradução e organização da coleção dos escritos teológicos de Ratzinger em Língua Alemã, Dom Gerhard também realizou conferências em Porto Alegre (RS) e no Rio de Janeiro.
A LITURGIA
Nas conferências, o Cardeal Müller explicou que, ao longo de sua vida acadêmica, o Papa Bento XVI sempre se esforçou por alcançar uma compreensão adequada da Liturgia. “O que está em debate não é a forma, o exterior do rito e alguns de seus detalhes, senão sua compreensão cristológica e a participação ativa na Liturgia no espírito teocêntrico”, afirmou.
“A congregação da Igreja em torno de Cristo, Palavra e sacramento, sobre o altar, é expressão da atualização do sacrifício de Cristo ao Pai, que inclui, também, a entrega de todos os membros deste corpo ao Pai. Dessa maneira, realiza-se a comunhão mais íntima do homem com Deus e com os seus semelhantes, em Cristo, a Palavra de Deus feita carne, e Senhor crucificado com seus braços estendidos, clamando ao Pai. A Liturgia sempre é teocêntrica, ou seja, Deus é o centro”, afirmou o Cardeal.
CORPO DE CRISTO
Ainda segundo o pensamento de Ratzinger, a Liturgia deve ser compreendida como expressão total e objetiva da vida da Igreja e um instrumento para a formação de um senso eclesial. “Na Liturgia, acontecem a união com Jesus Cristo, a impressão da Palavra de Deus na ação do homem e o direcionamento da vontade do coração humano pelo poder do Espírito Santo, o seguimento de Cristo, a experiência da comunidade dos fiéis, a manifestação da comunhão de vida com Cristo e com todos os membros do seu corpo”, ressaltou Müller.
A Igreja é, portanto, a comunhão com Deus e com os demais fiéis como membros de seu corpo. “Não somos membros de uma mesma associação, mas de um mesmo corpo, que é Cristo. A Igreja oferece a si mesma ao ser oferecida por Cristo ao Pai”, continuou o Purpurado.
REFORMA
Ao tratar da reforma litúrgica proposta pelo Concílio Vaticano II, o Cardeal Müller ressaltou que tal reforma não deve ser entendida como “uma ruptura com a Tradição”.
“A contraposição da Teologia e Liturgia pré-conciliares e pós-conciliares é contrária à vida da Igreja e demonstra ser cada vez mais um instrumento ideológico que faz romper a unidade da Igreja na continuidade da sua tradição apostólica e a mediação histórica da Igreja na Revelação”, disse.
Por essa razão, a Liturgia não deve ser transformada em “campo de experimentos e hipóteses teológicas”, pois possui a sua grandeza naquilo que ela mesma é e não naquilo que se realiza com ela. “A liturgia não é expressão da consciência da comunidade, é a Revelação acolhida na fé e, portanto, a sua medida é a fé da Igreja, o recipiente da Revelação”.
VALOR DE DOMINGO
Ao comentar a apresentação do Cardeal Müller, Dom Odilo recordou as palavras de Bento XVI no discurso inaugural da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, em 2007, no qual o Papa Emérito falou sobre a missa dominical como centro da vida cristã.
“A participação dos pais com seus filhos na celebração eucarística dominical é uma pedagogia eficaz para comunicar a fé e um estreito vínculo que mantém a unidade entre eles”, diz o texto citado pelo Arcebispo.
No discurso, Bento XVI reforça, ainda, a necessidade de os cristãos sentirem “que não seguem um personagem da história passada, mas Cristo vivo, presente no hoje e no agora de suas vidas”.