‘Fez-se sempre assim’?

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14/09/2016 - 15:00

O Papa Francisco, quando publicou a Exortação Evangelii Gaudium, pediu a todos nós determinação e abertura de coração para uma profunda renovação na pastoral de toda a Igreja, a partir de nossas comunidades paroquiais. Para iniciar o processo de renovação pastoral, ele pediu que abandonássemos um critério pastoral que utilizamos com frequência: “Fez-se sempre assim” (EG 33). Quando permanecemos amarrados a esse critério, a pastoral não caminha e impedimos que novas ideias possam trazer luz nos processos pastorais. Ao insistirmos que sempre se fez assim, sem percebermos, colamos dificuldades para que novos discípulos missionários possam se integrar na comunidade como novas sementes de trigo a vencer o joio. Pior ainda, podemos perder a esperança e a alegria de evangelizar, porque nos tornamos incapazes de perceber a ação do Espírito Santo no cotidiano da pastoral. Como sempre se fez assim, sempre é a mesma coisa, são sempre as mesmas reuniões, as mesmas palavras e vamos mantendo algumas atividades para cumprir com a obrigação, mas não vemos o Senhor agindo no meio de nós.

Devemos agradecer as coisas bonitas que realizamos no passado, os belos encontros, as atividades nas mais diversas áreas de ação, as pessoas que se dedicaram aos projetos pastorais, mas não podemos pretender viver do passado, porque o grande profeta Isaías alertou o povo de Israel sobre esse perigo, e nos alerta: “Não fiqueis a lembrar coisas passadas, não vos preocupeis com acontecimentos antigos. Eis que farei uma coisa nova, ela já está despontando: não a percebeis?” (Is 43,18).

Fixar o pensamento, o coração e os olhos no passado nos impede de perceber a ação do Deus vivo hoje, impede-nos de ver que agora em nossa comunidade paroquial Jesus realiza maravilhas ainda maiores do que no passado. Precisamos adotar um novo critério pastoral que nos dê audácia, alegria e renove a pastoral, nos abra a novos caminhos de evangelização: a pastoral missionária de integrar.

O critério da pastoral missionária de integração nos tornará criativos, nos dará vigor para repensar os objetivos, as estruturas, o estilo e os métodos de evangelização de nossas comunidades, e nos abrirá os olhos para ver o Deus presente, o Deus que salva e está ao nosso lado na missão. Integrar a todos os que estão a caminho, e no caminho está a base do Evangelho: todos nós temos necessidade de misericórdia (cf. Mc 10, 46-52). Não percebeis a necessidade de mudar o critério pastoral?

Para auxiliar a todos nós, termino com as palavras do Papa Francisco na Exortação Amoris Laetitia: “Trata-se de integrar a todos, deve-se ajudar cada um a encontrar a sua própria maneira de participar na comunidade eclesial, para que se sinta objeto de uma misericórdia ‘imerecida, incondicional e gratuita’. Ninguém pode ser condenado para sempre, porque essa não é a lógica do Evangelho! Não me refiro só aos divorciados que vivem numa nova união, mas a todos, seja qual for a situação em que se encontrem” (AL 297).

Dom Sergio de Deus Borges

Bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Santana

Artigo publicado no Jornal O SÃO PAULO - Ed. 3119/ 14 a 20 de setembro de 2016