A oração, força de Deus em nós

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10/03/2016 - 14:30

Estamos percorrendo o tempo da Quaresma em direção à paixão, morte e ressurreição do Senhor Jesus, sua Páscoa e nossa Páscoa. O tempo da Quaresma é um tempo dedicado ao jejum, à caridade e à oração, como vimos na liturgia da Quarta-feira de Cinzas.

Neste tempo, somos iluminados pela riqueza dos textos litúrgicos, mas dois momentos da caminhada do Senhor, presentes na liturgia do 1º Domingo da Quaresma e o outro na sagrada liturgia da Sexta-feira Santa, são testemunhos do vigor e do poder da oração no meio das tentações e das dificuldades da vida: os 40 dias no deserto, onde o Senhor foi tentado pelo diabo, e a agonia do Senhor no Monte das Oliveiras, quando rezando suou sangue.

Por meio da oração, o Senhor Jesus reconheceu o dissimulado, o tentador, o mal disfarçado em proposta atraente de bem; na oração, Ele derrotou Satanás e nos fez ver que a oração é a primeira e a principal arma para enfrentarmos vitoriosamente o combate contra o tentador, o mal e suas armadilhas.

A oração, além da força e sustento para vencer o mal, é também caminho de purificação interior. E o tempo da Quaresma é especial para se vivenciar essa dimensão da oração. O papa emérito Bento XVI nos ensina esse processo por meio de um ilustrativo exemplo tirado de Santo Agostinho: “Supõe que Deus queira encher-te de mel (símbolo da ternura de Deus e da sua bondade). Se tu, porém, estás cheio de vinagre, onde vais pôr o mel? O vaso, ou seja, o coração, deve primeiro ser dilatado e depois limpo: livre do vinagre e do seu sabor. Isso requer trabalho, faz sofrer, mas só assim se realiza o ajustamento àquilo para que somos destinados” (Spe Salvi, 33).

A oração é o caminho que se apresenta para “dilatar”, abrir o coração, pelo qual o fiel deixa-se tocar por Deus. É um trabalho lento que exige perseverança e firmeza, mesmo quando é difícil rezar, porque falta concentração pela falta do hábito de rezar ou porque a oração é superficial, ou ainda porque o tentador oferece muitas distrações sugestivas, como o consumismo (o pão), o viver da aparência (poder) e a autossuficiência (pensamento de viver sem Deus).

Mesmo em meio às dificuldades para rezar, é preciso ter claro que não há outro caminho, não há outro método para a pessoa ser forte diante do tentador. Jesus foi forte e nesta Quaresma continua nos convidando para retornar, para olharmos o seu exemplo de confiança no Pai e de vitória na oração.

O tempo está correndo. A Páscoa vai chegar. Não deixe passar o tempo em vão com vinagre no coração. Neste tempo que resta, fortaleça seus joelhos em oração e peça ao Senhor, vivo, ressuscitado, que limpe o coração e o preencha com o mel de sua misericórdia e de sua ternura.

Dom Sergio de Deus Borges

Bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Santana

Artigo publicado no Jornal O SÃO PAULO - Ed. 3192/ 10 a 15 de março de 2016