Para quê Deus se revela? Que importância isso tem para nós?

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25/09/2014 - 00:00

Para quê Deus se revela? Que importância isso tem para nós?

Dom Julio Endi Akamine

Caro amigo, cara amiga.


Para quê Deus se revela? Que importância isso tem para nós? Se Deus Se revela, isso muda alguma coisa na nossa vida?
Para responder a essas perguntas, leiamos o parágrafo 52 do Catecismo: “Deus, que «habita numa luz inacessível» (1Tm 6,16), quer comunicar a sua própria vida divina aos homens que livremente criou, para fazer deles, no seu Filho único, filhos adotivos. Revelando-Se a Si mesmo, Deus quer tornar os homens capazes de Lhe responderem, de O conhecerem e de O amarem, muito além de tudo o que seriam capazes por si próprios”.
Caro(a) amigo(a), note como é significativa a Revelação divina, que não é mera comunicação de proposições e mensagens. Se fosse só isso, bastaria para Deus usar o e-mail ou o facebook para se comunicar conosco. A revelação divina é muito mais do que isso: ela é sobretudo a comunicação da própria vida de Deus. Ao se revelar, Deus Se comunica a Si mesmo ao homem. O que Deus dá na sua revelação é a Si mesmo. Por isso podemos dizer que a revelação é autodoação.
Entenda bem isso: a revelação é uma verdade e também uma realidade salvadora. Revelação divina não é simplesmente comunicação de informações. É comunicação de um desejo de salvação que se realiza pelo próprio ato de comunicar tal desejo. 
Deus Se distingue de nós nesse fato: nós, muitas vezes, podemos falar uma coisa e fazer outra; podemos desejar uma coisa, mas fazer outra totalmente contrária. Mas Deus quando fala, quando deseja e revela esse desejo, realiza realmente o que fala, o que deseja e o que revela. Assim, se Ele comunica o seu desígnio de salvação, realiza essa salvação de fato. Para Deus, falar e agir, realizar e desejar é a mesma coisa. Por isso a manifestação do desígnio de salvação por parte de Deus constitui, ao mesmo tempo, a nossa salvação. 
A revelação divina é a ação de Deus que se dirige ao homem num diálogo de amor, que procede do amor de Deus e persegue também uma obra de amor: Deus quer que o homem se introduza na sociedade de amor que é a Trindade.
Nesse diálogo de amor, Deus vence a distância infinita que separa o Criador da criatura. O Altíssimo, o Transcendente se torna próximo, o Emanuel. Deus sai de seu mistério, condescende e se torna presente ao homem para estabelecer com este uma relação de salvação e de amizade. 
O plano da salvação de Deus consiste em fazer com que a pessoa humana participe da natureza divina e receba a filiação divina. O ser “capaz de Deus” alcança assim a uma nova ordem do ser: ele é chamado por Deus a ser mais do que ele é.
A intenção de amor da Revelação divina se manifesta não só no fato da revelação, mas também no próprio objeto. O objeto da comunicação divina não são apenas verdades religiosas, mas principalmente o segredo da própria vida divina, principalmente o mistério da Trindade. Esse segredo é o segredo divino por excelência é o segredo da intimidade divina, conhecido somente das Pessoas divinas. “Ninguém conhece o Filho senão o Pai, nem ninguém conhece o Pai senão o Filho” (Mt 11,27); “ninguém conhece os segredos de Deus, senão o Espírito de Deus”(1Cor 2,11). 
Revelando esse segredo, Deus inicia o homem no que há de mais íntimo em si mesmo: o mistério de sua vida, o coração de sua subsistência pessoal. E Deus não pode revelar esse segredo de sua vida a não ser a alguém que lhe esteja unido pela amizade, ou a alguém a quem ele se queira unir pela amizade. Convidando-nos a mais surpreendente amizade, a revelação da Trindade se nos apresenta como um começo de participação na vida divina e constitui uma doação de Deus ao homem. A revelação é, de fato, uma autodoação.
Neste mês da Bíblia, abramos nosso coração e nossa vida a doação que Deus faz de si mesmo em sua Palavra.