Na Eucaristia Jesus se doa por inteiro

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08/07/2014 - 00:00

Querido leitor do JORNAL O SÃO PAULO, nossa vida é uma mistura de seriedade e de jogo. Certas palavras e certos gestos são realizados e proferidos às vezes com seriedade, às vezes por diversão. Digo mistura, poderia dizer mais corretamente tensão, pois precisamos manter esta tensão durante toda nossa existência. Nossa vida está em permanente tensão entre o jogo e a seriedade, o trabalho e o descanso, o lúdico e o produtivo, a gratuidade e a eficiência. Existem momentos em que um destes dois pólos predomina sobre o outro. Numa festa, num jogo ninguém deseja tratar de assuntos sérios. Quem o fizer se torna um desmancha prazer. Numa reunião de trabalho ninguém tolera uma pessoa que só faz piadas.  O momento de maior seriedade de nossa existência é o momento da morte.  Quem já acompanhou uma pessoa prestes a morrer sabe que diante da morte todos nós assumimos uma atitude de extrema seriedade. Todas as palavras, as promessas, as recomendações, os conselhos, os pedidos e os gestos se revestem da mais absoluta gravidade. Com a morte ninguém brinca: trata-se do momento em que toda nossa caminhada neste mundo se concentra; momento em que todos os gestos e palavras deixam de ser provisórios e reformáveis, tudo se torna definitivo. A iminência da morte torna nossas atitudes urgentes: se temos algo a dizer ou fazer devemos fazer logo, não nos resta muito tempo. Jesus atingiu o extremo do amor, chegou até o fim (fim-finalidade) de uma vida inteiramente dedicada a amar. Por amor ele se fez servo, assumindo nossa condição humana na encarnação. Por amor ele pregou o evangelho aos pobres dizendo serem eles os prediletos de Deu.  Por amor ele curou inúmeros doentes, até o ponto de não ter tempo sequer para comer. Por amor aos pecadores ele os perdoou, sentou-se à mesa com eles, entrou em suas casas. Jesus não viveu para si, viveu para os outros; não quis ser servido, foi o servidor de todos. Toda a vida de Jesus pode se definir como doação de si aos outros. Jesus não teve nada para si: nem sua sabedoria, nem sua força, nem seu tempo, tampouco sua vida. Sua vida foi consumida, foi gasta, foi dada aos outros. E ele não se contentou em se doar em parte ou durante certo tempo. Ele não coloca limites na doação. Ele quis se doar inteiramente, e, para tornar definitiva esta doação, instituiu um sacramento como memorial perpétuo de seu sacrifício na cruz. Assim a doação total de Jesus não se dá somente num momento limitado de nossa história, mas se universaliza e se eterniza com a instituição deste sacramento. Na Eucaristia, Jesus continua se doando todo inteiro em todos os lugares e em todos os tempos. Jesus deseja que nos preocupemos com uma coisa apenas: receber o seu amor para a nossa alegria e para a glória de Deus, para o nosso bem e das pessoas que nos são próximas. É preciso reconhecer que Deus nos amou muito, amou até o fim senão não seremos capazes de nos amar uns aos outros.

Artigo publicado no Jornal O São Paulo 08/07/2014