‘Tu és o Cristo de Deus’ (Lc 9, 18-24)

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22/06/2016 - 15:45

Depois de ouvir a resposta dos discípulos acerca da opinião das pessoas sobre a sua identidade, Jesus se volta para os discípulos e lhes pergunta: “E vocês, quem vocês dizem que eu sou?” (cf. Lc 9,20). A resposta de Pedro é profunda: “Tu és o Cristo de Deus”.

A nosso ver, responder hoje que Jesus é o Cristo de Deus, o Messias prometido, pode parecer simples, óbvio, o que certamente não foi para os seus discípulos e, até hoje, continua não sendo para nós, novos cristãos.

Jesus revela sua identidade como ungido do Pai (cf. Lc 4,18) em suas palavras e ações: “os pobres são evangelizados, os cativos são libertos, os cegos recuperam a vista, os oprimidos são libertos e a todos é anunciada a Boa-Notícia do Evangelho” (cf. Lc 4, 18-19). Com sua vida inteiramente voltada para Deus, Jesus revela a face misericordiosa de Deus e seu projeto de vida e liberdade para todas as pessoas. A profissão de fé de Pedro, “Tu és o Cristo de Deus”, nos ensina o caminho a seguir, Jesus Cristo, filho do Deus vivo, enviado ao mundo para nos salvar. Professar a fé em Jesus como Cristo, filho de Deus, é assumir o caminho da cruz, como Ele o fez, caminho percorrido por inúmeros homens e mulheres, por amor a Jesus e a sua Palavra. As condições para tal seguimento são bem explícitas: “Se alguém quiser me seguir, renuncie a si mesmo a cada dia, tome sua cruz e siga-me” (cf. Lc 9,23). Essas condições postas aos discípulos e a nós, seus seguidores, são como provas de fidelidade a Jesus, que para fazer a vontade do Pai, teve que enfrentar as estruturas de morte, renunciando à própria vida, para com a sua morte, destruir a morte.

Nesse sentido, renunciar a si mesmo significava para Jesus e, também para aquele que o quer seguir nos dias de hoje, se desfazer de toda ambição pessoal, seja de sucesso, de poder financeiro e de controle da verdade. É ser pobre de espírito (cf. Mt 5,3), capaz de nunca fazer aliança com o mal, com tudo o que ameaça ou possa ameaçar a vida das pessoas e sua liberdade de filhos de Deus. Nessa trajetória, tomar a cruz é o mesmo que admitir sofrer pela verdade, admitir ser criticado, rotulado, perseguido, em muitos casos, diariamente, pois não é fácil lutar contra os projetos de discriminação, de exclusão e de morte que se instalam nas sociedades. Seguir Jesus é estar consciente dos nossos compromissos de cristãos, é aceitar ser tratado como malfeitor, como marginal, assim como Jesus foi tratado. É aceitar ser morto, violentado nos seus direitos, ser banido da sociedade injusta, que com seu comportamento egoísta, ambicioso e dominador, segue matando pobres, crianças, jovens, homens e mulheres inocentes e indefesos, para garantir seus privilégios e interesses. Professar a fé como Pedro, que Jesus é o “Cristo de Deus”, é aceitar se comprometer com a causa dos mais pobres e injustiçados, assumindo suas dores e sofrimentos, suas lutas e derrotas, certos de que a Ressurreição de Jesus é a nossa força, que a sua vitória sobre o pecado e o mal é a nossa vitória e de todos quantos resistem e enfrentam os mecanismos de morte para salvar suas vidas e de seus semelhantes.

Dom Eduardo Vieira dos Santos

Bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Sé

Artigo publicado no Jornal O SÃO PAULO - Ed. 3107/ 22 a 28 de junho de 2016