Ir ao encontro do necessitado é ir ao encontro do próprio Cristo

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16/03/2016 - 08:45

Durante todo o ano, em suas celebrações, seja pela leitura e proclamação da Palavra de Deus, seja por suas orações, a Igreja insiste na necessidade contínua de conversão do Povo de Deus. A palavra conversão parece antiga, mas ao mesmo tempo bem atual, porque o ser humano é o que é: carente da misericórdia de Deus; vive a tensão entre querer fazer o bem e realizar o mal, prejudicando-se a si mesmo e aos outros; dessa realidade se explica essa insistência. Não é fácil mudar de vida e, muitas vezes, o mal se apodera de nós de tal modo que passa a fazer parte da nossa vida e dele nem mais nos damos conta.

No tempo da Quaresma, a Igreja com mais insistência reforça o apelo à conversão, à oração, à esmola e à penitência, para que todos os fiéis, por meio do arrependimento de seus pecados, se preparem para a solenidade da Páscoa.

A Quaresma deste ano tem um aspecto particular, porque se insere no Jubileu extraordinário da Misericórdia, que nos convida não só a colocar a própria vida em ordem perante Deus pelo sacramento da Reconciliação, mas pede, também, que por meio da prática das várias obras de misericórdia, alcancemos a remissão dos pecados.

A remissão dos pecados é a reparação do mal praticado. Pelo sacramento da Reconciliação, obtemos o perdão de nossos pecados, mas é pela prática do bem e das obras de misericórdia que alcançamos a reparação pelo mal realizado. Muitas vezes, não podemos mais reparar o mal que fizemos a alguém. Esse mal prejudicou alguém e feriu o corpo de Cristo, que é a Igreja.

Para reparar o mal, a Igreja propõe nesta Quaresma e no Ano Santo extraordinário da Misericórdia que se intensifique a prática das boas obras e especificamente das obras de misericórdia corporais: dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, acolher os estrangeiros, visitar os doentes e os presos (Mt 25,40); acrescenta-se a essas obras a que provém do ensinamento explícito de Jesus Cristo, a obra de sepultar os mortos, costume antiquíssimo em todo o Antigo Testamento. Além dessas, existem também as obras de misericórdia espirituais: dar bom conselho, ensinar os ignorantes, corrigir aqueles que erram, consolar os aflitos, perdoar as injúrias, suportar com paciência as fraquezas do nosso próximo e rezar pelos vivos e mortos. Essas obras são uma compilação das atitudes de Jesus em seus três anos de vida pública.

Jesus se identifica com os necessitados: "o que fizestes a um desses pequeninos foi a mim que o fizestes" (Mt 25,40). Os necessitados são sacramento, sinal da presença de Cristo no meio de nós. As obras de misericórdia propostas pela Igreja são a forma de se obter a remissão dos pecados, mesmo que esquecidas por nós.

Podemos nos encontrar com Cristo nos pobres. A misericórdia consiste em se encontrar com Ele na pessoa de quem sofre. A misericórdia não é, em primeiro lugar, uma questão moral, mas de fé, encontro e seguimento de Jesus Cristo. Aproveitemos essa Quaresma, tempo de graça e salvação, para viver a misericórdia divina, para nos encontrarmos com Deus rico em misericórdia, pronto para nos salvar.

Fonte: Edição 3091 do Jornal O SÃO PAULO – página 05