Celebramos no início de novembro a Solenidade de Todos os Santos e proclamamos que o número de santos e santas é, muito maior do que aqueles que são reconhecidos e fazem parte oficialmente do calendário litúrgico. Existiu e existe muita gente boa que, na simplicidade da vida, vive os valores do Evangelho e se santifica. Essa solenidade nos recorda a comunhão dos santos, um dos artigos de nossa fé, que é pouco comentado na Liturgia e na Catequese.

Para falar de comunhão, nós partimos da comunhão trinitária, na qual a perfeição divina é comum às três pessoas divinas. Como na Trindade tudo é partilhado, também para nós que somos imagem da Trindade, se apresenta o modelo de partilha. Mas o que partilhamos? Apenas os bens da terra? Não. Partilhamos o amor e o perdão.

À medida que nos deixamos transformar por Cristo, descobrimos que Cristo partilhou tudo conosco e aprendemos também a partilhar com os outros com mais naturalidade e constância, mesmo que no princípio nos custe amor, paciência, tolerância e, principalmente, o perdão. Devagarzinho, vamos participando dos mesmos sentimentos de amor e serviço de Jesus Cristo, os quais se resumem em comunhão e perdão.

Deus partilha conosco seu amor e perdoa nossos pecados, porque o pecado é a negação do amor. Se não houvesse o perdão dos pecados, seria impossível a santidade e a comunhão dos santos.

Entre nós e Deus se interpôs o pecado, é verdade, mas o amor misericordioso de Deus supera a negação do amor, que tem origem no homem. O amor de Deus não poderia desmoronar pela indiferença e desamor do homem. Na cruz, o pecado foi definitivamente vencido, porque nela se manifestou o amor misericordioso de Deus. Na cruz aconteceu o choque entre o amor e o desamor, e Cristo venceu com seu amor todo o desamor do homem.

Deus vence o desamor pelo perdão e reorienta nossa vida. Essa é a grande mensagem do Evangelho. O rosto de Deus é amor e misericórdia. Nós não devemos nos preparar apenas para acolher o amor misericordioso de Deus, mas para sermos aos nossos irmãos e irmãs amor e perdão. A comunhão dos santos se dá na misericórdia e no perdão de Deus para conosco e, de nossa parte, para com nossos irmãos e irmãs.

Fonte: Edição 3080 do Jornal O SÃO PAULO – página 05