Sínodo dos Bispos: É hora de ouvir os jovens

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Após o Sínodo da Família, começa a reflexão sobre “Fé e Discernimento” da Juventude, tema escolhido pelo Papa para 2018.
Publicado em: 24/01/2017 - 14:45
Créditos: Edição 3134, do Jornal O SÃO PAULO, p. 15.

O Vaticano começou a preparar a próxima Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, prevista para outubro de 2018. O tema, escolhido pelo Papa Francisco, será “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, após duas assembleias com a temática da família. Em todo o mundo, dioceses e comunidades organizarão debates e reflexões sobre a realidade dos jovens, categoria que, para a Secretaria do Sínodo, envolve rapazes e moças entre 16 e 29 anos de idade, mas que pode variar conforme a realidade local. Liderada pelo cardeal italiano Dom Lorenzo Baldisseri, a Secretaria acaba de divulgar um “Documento Preparatório”, para estimular e recolher reações. Todos poderão participar, mas o objetivo é ouvir especialmente os próprios jovens.

“O Santo Padre exorta os jovens a participarem ativamente do caminho sinodal, porque o Sínodo é para eles e porque toda a Igreja se coloca à escuta da voz, da sensibilidade, da fé dos jovens, assim como de suas dúvidas e críticas”, explicou o Cardeal, em coletiva de imprensa na sexta-feira, 13 de janeiro de 2017, no Vaticano. “O Sínodo é dos Bispos, como sempre, mas os jovens são convidados a colaborar. As perguntas do questionário são sobre escolhas de vida, projetos, e sobre a pessoa de Jesus, a experiência de Jesus”, acrescentou.

O Documento se divide em três partes: “Os jovens no mundo de hoje”; “Fé, discernimento, vocação” e “A Ação pastoral”. Na última parte, há um questionário com perguntas direcionadas por continente.

A primeira parte é a mais crítica da realidade atual. “Oferece elementos úteis para contextualizar a situação dos jovens”, disse o secretário. Entre os desafios estão: a multiculturalidade, especialmente quando filhos de migrantes crescem em uma cultura diferente daquela dos pais; a difusão de jovens que nem estudam nem trabalham, o que os deixa sem perspectivas de vida; a falta de confiança dos jovens nas instituições e autoridades, o que pode se refletir também nas relações pessoais; as dificuldades na formação de identidade pessoal, entre outros.

A segunda parte se concentra no discernimento vocacional. Dom Lorenzo esclareceu que “o termo vocação deve ser entendido em sentido amplo, e diz respeito a toda a vasta gama de possibilidades de realização concreta da própria vida, na alegria do amor e na plenitude do dom de si a Deus e aos outros”. A terceira parte, por sua vez, questiona: “O que significa para a Igreja acompanhar os jovens a acolher o chamado à alegria do Evangelho, sobretudo em um tempo marcado pela incerteza, pela precariedade e pela insegurança?”

Entre os lugares a serem evangelizados estão as novas mídias, que, segundo o Documento, oferecem “oportunidades inéditas, especialmente quanto ao acesso à informação e à construção de laços à distância”, mas também apresentam riscos, como o cyberbullying (ataques pessoais contínuos na internet), a pornografia e a manipulação ideológica, diz o Documento.

 

‘Escutar o Espírito não é fuga, é vocação’, diz o Papa

 O Papa Francisco convidou os jovens a ouvirem o chamado de Jesus Cristo, que “se volta para vocês e os chama a se aproximarem”. Em carta divulgada no dia da apresentação do “Documento Preparatório” do Sínodo dos Bispos, o Pontífice alertou a juventude para que esteja atenta à vocação, um chamado do Espírito Santo. “Quando Deus disse a Abraão ‘Sai!’, não mandou fugir dos seus ou do mundo. Fez um forte convite, uma vocação, para que deixasse tudo e fosse em direção a uma terra nova”, refletiu. “Qual é para nós essa terra nova, se não uma sociedade mais justa e fraterna?”

Na mensagem, o Papa questionou: “Caríssimos jovens, vocês encontraram esse olhar [de Jesus]? Vocês ouviram essa voz? Vocês sentiram esse impulso para se colocarem a caminho? Convidando-os a seguir a própria vocação, “até as periferias do mundo”, ele completou: “Tenho a certeza de que, apesar da confusão e do atordoamento que parecem reinar no mundo, esse chamado continua ressoando no vosso espírito, para abri-lo à alegria plena”.

Segundo o Papa, com a ajuda de um acompanhamento espiritual, os jovens serão capazes de iniciar um “itinerário de discernimento para descobrir o projeto de Deus” em suas vidas. “Mesmo quando o vosso caminho é marcado pela precariedade e pela queda, Deus, rico em misericórdia, estende a sua mão para levantá-los”.

 

Filipe Domingues

Especial para  O SÃO PAULO na Cidade do Vaticano.

Fonte: Edição 3134, do Jornal O SÃO PAULO, p. 15.

 

Fonte da imagem: http://www.agencia.ecclesia.pt/noticias/vaticano/italia-visita-do-papa-a...