Rádio 9 de Julho: no coração do povo e com qualidade de programação

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<p>Padre José Renato Ferreira fala ao O SÃO PAULO sobre os desafios de ser diretor da Rádio 9 de Julho</p>
Publicado em: 29/10/2014 - 10:00
Créditos: Edição nº 3025 do Jornal O SÃO PAULO – página 11

Em 23 de outubro de 1999, após ficar 26 anos fora do ar por ter tido seus transmissores lacrados pelo Regime Militar, em 1973, a rádio 9 de Julho, da Arquidiocese de São Paulo, foi solenemente reinaugurada. Passados 15 anos, comunicadores, funcionários e ouvintes festejaram o aniversário da rádio com uma missa na Catedral da Sé no dia 9 de outubro, às 11h, e em um evento, no dia 1º, sobre o futuro das rádios católicas.

Nesta entrevista ao O SÃO PAULO, Padre José Renato Ferreira, 51, diretor geral da rádio desde 2011, comenta o panorama atual da emissora, os desafios do rádio diante das novas tecnologias e os trâmites para que a 9 de Julho opere também em FM. “Estamos fazendo os melhores esforços para que a rádio fique ainda mais no coração do povo e tenha qualidade na sua programação”, garante.

O SÃO PAULO – 15 anos após ser reaberta, a rádio 9 de Julho é tão reconhecida quanto foi entre 1956 e 1973, quando funcionou de forma ininterrupta?

Padre José Renato Ferreira – O carinho pela rádio é bastante perceptível tanto que alguns ouvintes daquela época sempre se manifestam. Também hoje há um reconhecimento. As pessoas têm trânsito aqui, vão ao Mosteiro da Luz para a missa dos amigos da rádio, conversam com os comunicadores, então, existe um carinho, um reconhecimento, um compromisso e até uma fidelização dos nossos ouvintes.

Qual a missão da 9 de Julho, especialmente enquanto rádio da Arquidiocese de São Paulo?

A missão fundamental da rádio 9 de Julho é a mesma da Igreja: evangelizar. Nosso arcebispo, Dom Odilo Pedro Scherer, costuma dizer que ela é a voz da Igreja de São Paulo. Muito conscientes dessa verdade, temos procurado evangelizar a partir da Igreja de São Paulo, que, por sua vez, está em profunda sintonia e comunhão com a Igreja no Brasil, as diretrizes da CNBB, a Igreja na América Latina, que tem o grande compromisso, assumido desde 2007, de ser de discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que nele nossos povos tenham vida. Isso só se faz se tivermos em comunhão com nossa Igreja, com o papa, com as orientações que saem de Roma. Nós anunciamos em nome da Igreja, e os comunicadores têm o desafio de apresentar, por mais específico que sejam seus programas, a missão da Igreja no mundo.

Qual o perfil do ouvinte da rádio 9 de Julho?

São pessoas a partir dos 40 anos, a maioria mulheres, embora o público masculino não seja pequeno. Atingimos principalmente as classes C e D, mas temos ouvintes de todas as classes. Na nossa programação há a participação de crianças, e sendo o microfone da Arquidiocese, os movimentos organizados, pastorais, têm a possibilidade de ocupar esse espaço, porque a meta é a mesma: a evangelização.

Algo tem sido feito para alcançar outros públicos?

Esse é o desafio permanente, inclusive porque o rádio, como meio de comunicação, tem que se adaptar às novas tecnologias. No momento em que o rádio precisa se reinventar, porque não vai deixar de existir, precisamos saber como pensar isso em um mundo em que a participação é cada vez mais exigida. Claro que esbarramos nos limites: há propostas interessantes, mas nem sempre existe gente suficiente para poder concretizá-las. Sempre analisamos a programação para atingir outros grupos.

Em termos de audiência, qual a posição da rádio 9 de Julho?

Temos oscilado e hoje estamos em sexto lugar, o que é muito bom, estamos entre as 10 AMs mais ouvidas de São Paulo! Nosso público fiel nos estimula a procurar outras respostas, a qualificar melhor os nossos programas para chegarmos a mais gente. E é confortador saber que entre as emissoras religiosas, somos a mais ouvida na Arquidiocese de São Paulo e na maioria das dioceses irmãs, como Guarulhos, Osasco, São Miguel Paulista e Mogi das Cruzes. Aliás, uma das coisas novas que a gente tem feito depois de percorrer, em um de nossos programas, as paróquias da Arquidiocese de São Paulo, é também falar da história, da arte e da pastoral das paróquias dessas dioceses, nada mais justo.

Como a rádio se mantém financeiramente?

Temos a Família dos Amigos, com cerca de 4.200 colaboradores. É uma ajuda muito importante, significa em torno de 24% de tudo que mensalmente é arrecadado. Temos ainda a cessão de espaço na programação, que fazemos com parceiros, e nesse sentido, devo lembrar que houve um aumento significativo das congregações religiosas na programação. Inclusive, um dos prêmios que ganhamos [Microfone de Prata da CNBB, categoria religioso, em 2014], foi com o programa Sala Franciscana, no qual os Franciscanos mostram o trabalho que têm. Outra fonte de recursos nossos vem da publicidade e há, ainda, donativos esporádicos.

Qual a opinião do senhor sobre o Projeto de Lei de Iniciativa Popular da Comunicação Social Eletrônica, que em seu artigo 13 vedaria as outorgas de rádio e televisão para Igrejas ou instituições religiosas?

Isso não vai conseguir ser concretizado. Numa sociedade democrática, não se pode impedir que as várias confissões existentes se manifestem e tenham seus meios. Mobilizaremo-nos para garantir a livre expressão. O fato de o Estado ser laico não significa que as religiões não se manifestem. Eu acredito que as várias confissões religiosas continuarão a ter seu espaço nos meios de comunicação.

Voltando ao aniversário da rádio, que atividades estão programadas para comemorar os 15 anos da reinauguração?

Teremos dois momentos. Um convocatório e aberto à participação de todos, que é a missa em ação de graças no dia 9 de novembro, às 11h, na Catedral da Sé. Para este dia, estamos fazendo um apelo aos ouvintes para que levem a doação de um quilo de café ou de sabonete líquido infantil, que serão destinados ao Amparo Maternal. Além disso, em 1º de novembro, no Colégio São Bento, em uma atividade mais restrita, nós vamos discutir sobre o futuro da rádio católica. Vai ser um momento de reflexão, um painel aberto com pessoas que atuam no ramo, para saber para aonde vamos. Queremos ter perspectivas em relação a migração para a FM, as tecnologias, a manutenção das emissoras.

A propósito da migração para a FM, desde 2013, o decreto 8.139, do Ministério das Comunicações, autoriza as emissoras AMs a pedirem essa migração. A rádio 9 de Julho estará na FM?

A 9 de Julho já fez inscrição nesse processo de migração. Estar na FM é um projeto desde que a rádio voltar suas atividades, mas não conseguiu porque não havia mais espaço no dial. Quando surgiu a possibilidade dessa migração, nos inscrevemos e estamos esperando uma melhor orientação do Ministério das Comunicações. Ainda não está tudo claro. Eu penso que até o primeiro semestre do ano que vem, tenhamos uma coisa bem mais definida.

E para quem vão os agradecimentos pelos 15 anos?

Agradeço a todos que, de um modo ou de outro, se empenharam para que esta rádio estivesse a serviço da Arquidiocese e do Evangelho: a Dom Paulo Evaristo Arns e seus esforços, e a Dom Cláudio Hummes, que era o arcebispo de São Paulo quando a rádio voltou a funcionar. Agradecemos nossos ouvintes e ainda nossos parceiros comerciais, comunicadores e os funcionários. Também agradeço a Dom Odilo, sempre presente, sempre nos orientando, animando, aos bispos auxiliares, que sempre que solicitados participam com alegria da nossa programação. Há uma corresponsabilidade, uma pertença real, que deixa a gente muito feliz. Nossa palavra é de gratidão, a Deus e a toda essa estrutura. Juntos, estamos fazendo os melhores esforços para que a rádio fique ainda mais no coração do povo e tenha qualidade na sua programação.

Daniel Gomes