O poema escrito na areia - José de Anchieta fundador da cidade de São Paulo

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<p>Biografia do Fundador da cidade de São Paulo.</p>
Publicado em: 07/05/2014 - 14:00
Créditos: L´osservatore Romano

Foi missionário no Brasil, onde fundou a cidade de São Paulo, mas também poeta, letrado, dramaturgo, linguista, a ponto de ser considerado um dos padres nobres da cultura do país. Falamos de jesuíta José de Anchieta, grande evangelizador do Brasil e defensor dos direitos das populações indígenas.

Nasceu em 19 de Março de 1534 em São Cristóbal de La Laguna, na ilha de Tenerife. Seu pai, Juan de Anchieta, era um basco originário de Urrestilla, Azpeitia, terra de Santo Inácio de Loyola, com cuja família tinha vínculos de parentesco. A mãe, Mencia Díaz de Clavijo, era nativa de Las Palmas e descendente da nobreza canária.

Em 1548 José de Anchieta e seu irmão foram a Portugal para estudar na universidade de Coimbra, gerida pelos jesuítas, uma das universidades mais prestigiosas da época. Em 1550 o provincial de Portugal, Simón Rodrígues, um dos primeiros companheiros de santo Inácio, admitiu-o na Companhia de Jesus. Anchieta, animado pelas cartas que Francisco Saverio enviava da Índia, decidiu tornar-se missionário.

Terminou o noviciado com 19 anos e, não obstante os seus problemas de saúde, foi destinado à missão do Brasil. No dia 13 de Julho de 1553 chegou ao porto de Bahia. Começou assim para ele uma vida apostólica extraordinária e intensa, que compartilhou sobretudo com o jesuíta português Manuel da Nóbrega, provincial do Brasil, com o qual permaneceu ligado por uma amizade profunda.

O seu primeiro destino foi São Vicente, onde viviam a maior parte dos jesuítas no Brasil. Durante o percurso, a embarcação na qual viajavam sofreu alguns danos, portanto foram obrigados a refugiar-se na terra firme. Aqui entraram em contato com os índios e o jovem jesuíta, durante o tempo necessário para concertar o barco, aprendeu a língua tupi. Naqueles dias de paragem forçada, habituou-se também a comer os produtos locais, dedicou todas as suas energias para a aprendizagem da língua e dos costumes das populações indígenas, que foi fundamental para a sucessiva obra no Brasil.

Em 25 de Janeiro de 1554 fez parte do grupo de portugueses que em Piratininga fundaram a atual metrópole de São Paulo. Ali José de Anchieta construiu uma maloca, uma casa tradicional comunitária destinada a estar no centro missionário, que se tornou um lugar de assistência e de acolhimento para os indígenas. Nela aprendiam a profissão de carpinteiro e artesão, enquanto as crianças aprendiam a ler e a escrever. Por sua vez, Anchieta aprendeu dos indígenas técnicas curativas, noções de botânica e as propriedades das plantas, que começou a usar tanto para finalidades médicas como para obter fibras para a fabricação de calçado e de objetos de artesanato. Encorajou também a construção de casas de barro e tijolo.

Conseguiu em breve tempo dominar a língua indígena. Escreveu também a primeira gramática da língua tupi, que foi depois utilizada pelos seus companheiros. Esta grande obra fez dele um “missionário de missionários”. Foram-lhe atribuídas também a criação e a tradução de três catecismos e de outras obras sobre a realidade do Brasil e dos povos indígenas. Além disso, Anchieta foi poeta e dramaturgo, e escreveu em latim, espanhol, português e tupi. A academia brasileira das letras e o Instituto histórico e geográfico brasileiro consideram-no uma das grandes figuras de cultura do país.

Em Abril de 1563, juntamente com o provincial jesuíta Manuel da Nóbrega, empreendeu uma expedição para preservar a paz com a federação dos índios tamoios. Nóbrega e Anchieta penetraram no território dos índios e apresentaram-se em Iperui, onde vivia o mais importante cacique tamoio, Caoquira. Entre os tamoios os dois companheiros jesuítas viveram uma experiência feita de esforços, diálogos, perigos e ameaças, arrependimento e santidade. Todas as suas tentativas falharam, mas Anchieta conquistou a admiração e a amizade de alguns caciques mais importantes. E durante a sua estadia entre os tamoios compôs o Poema a la Virgem, escrito na areia da praia e, sucessivamente, por ele decorado. Foi um dos mais valentes chefes dos indígenas, Cuñanbebe, quem o levou de volta para São Vicente após diversos meses de prisão.

Pouco depois se transferiu para a baía da Guanabara onde os franceses, aliados dos tamoios, resistiam ao ataque dos portugueses. Durante as batalhas, assistiu os feridos de ambas as frentes.

José de Anchieta transformou-se assim num defensor dos direitos dos aborígenes e dos mestiços, e condenou a caça aos índios e o tráfico dos escravos. Em 1566 foi ordenado Sacerdote e regressou ao Rio, onde já tinha sido fundada a missão de São Sebastião. Aqui, juntamente com Nóbrega, já idoso, fundou um colégio.

Em 1577 foi nomeado provincial e por oito anos percorreu várias vezes o imenso território do seu país. Uma das suas preocupações principais era assistir e ajudar os doentes e os moribundos. Quando era provincial, enviou para o Paraguai os primeiros missionários, núcleo original das famosas reducciones.

Morreu em 9 de Junho de 1597, em Reritinga, que hoje se chama Anchieta precisamente em sua honra. O povo e a Igreja no Brasil sempre o consideraram seu grande evangelizador. No dia 22 de Junho de 1980 foi beatificado por João Paulo II.