Natal, tempo de visita

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O primeiro a nos visitar é o próprio Deus.
Publicado em: 22/12/2016 - 13:30
Créditos: Edição 3132, Jornal O SÃO PAULO, p. 05

O primeiro a nos visitar é o próprio Deus. “Ele tinha a condição divina, mas não se apegou à sua igualdade com Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens. Assim, apresentou-se como simples homem, humilhando-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,6-8)

O Verbo faz uma ponte entre o céu e a terra. Faz-se carne, desce e arma sua tenda entre nós, para que possamos subir. Aparece como homem, para que nós possamos nos tornar mais divinos. Faz-se menino na gruta de Belém e na Família de Nazaré para que possamos descobrir o menino que existe em nós. Torna-se pobre para enriquecer-nos. A festa do nascimento de Jesus retoma temas calorosos da infância e da vida familiar.

Depois, vem a visita dos pastores e dos reis magos. De um lado, gente simples do campo que convive com os animais, pessoas com o coração aberto para reconhecer logo os “sinais dos tempos”, capazes de intuir que Deus irrompe na história para tomar as rédeas das mãos dos tiranos e abrir novos horizontes ao futuro. É Deus o Senhor da história, não aqueles que pretendem subjugar a explorar os demais.

Demonstra isso a visita dos reis magos, também estes de coração sensível para ler os “sinais dos tempos”. Nas terras do Oriente, são respeitados como reis, mas sabem que todos os reinados estão condenados a serem destruídos. Deles restarão apenas ruínas, escombros e cinzas. As formações políticas não passam de experimentos que, pouco a pouco, podem aperfeiçoar (ou retardar) o Reino de Deus. Aqui entramos no núcleo da mensagem do menino que veio e que virá. Cada vez que celebramos o Natal, anunciamos a segunda vinda do Salvador. “Vem, Senhor Jesus!” – conclui o Livro do Apocalipse.

Por fim, multiplicam-se as visitas, uns aos outros, entre familiares, parentes, amigos, vizinhos e conhecidos. A missa do galo e a ceia de Natal são sempre momentos privilegiados de encontro. Corações e almas se aquecem, como que transfigurados pelo calor da manjedoura. A singeleza, as luzes e as imagens do presépio não deixam de nos transmitir algo que, ao mesmo tempo, vem de muito longe e está muito perto.

Tudo isso nos chama à reconciliação, reencontro com Deus e com as pessoas com que convivemos. Deus, que habita o interior de nós mesmos, quer que nos aproximemos, formemos verdadeiras famílias, grupos e comunidades. Mas não basta. É também tempo de solidariedade, de estender a mão àqueles que, às vezes, nem sequer têm endereço fixo.

 

Pe. Alfredo José Gonçalves, CS

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