Obra de Santa Paulina tem continuidade 112 anos depois

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Conheça o trabalho das Obras de Santa Paulina que completam 112 anos de fundação.
Publicado em: 29/09/2015 - 11:00
Créditos: Elis Facchini

Quem passa em frente à Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição (CIIC), no bairro Ipiranga, em São Paulo, não tem dimensão do trabalho que já foi desenvolvido ali, desde o ano de 1903, há exatos 112 anos. Amábile Lúcia Visintainer, hoje Santa Paulina, com a ajuda de mais duas Irmãs e uma postulante, iniciaram um trabalho de fé, com o intuito de cuidar de idosos ex-escravos e de crianças órfãs.

As jovens moças receberam convite para migrar de Santa Catarina para São Paulo, através do Padre Luiz Maria Rossi, a pedido de José Vicente de Azevedo (mais tarde Conde Romano), que precisava de pessoas habilitadas a lidar com doentes e necessitados. Amábile e suas companheiras já desenvolviam este tipo de trabalho no pequeno município de Nova Trento (SC), onde adquiriram experiência cuidando de pessoas acamadas, fundando assim a Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição.

Com a vinda de Amábile e demais Irmãzinhas, o próprio Conde Azevedo providenciou a construção de um espaço para abriga-las. Elas chegaram em agosto de 1903, mas apenas em 7 de dezembro daquele mesmo ano, as jovens fixaram moradia onde hoje a Congregação tem sua casa geral.

Após 112 anos, a CIIC prossegue com o acolhimento de crianças e adolescentes (com idade entre 6 e 15 anos) em situação de vulnerabilidade social. É onde hoje funciona o Educandário Sagrada Família, que atende 286 crianças todos os dias (período matutino e vespertino), e que tem o objetivo de oferecer serviço de convivência e fortalecimento de vínculos.

“Nossa proposta é acolher estas crianças e adolescentes no contra turno escolar. Aqui eles participam de oficinas, como capoeira, dança, esporte, arte, música, sempre visando fortalecer o protagonismo, a autonomia e a cidadania, fazendo com que cresçam como pessoas e sejam multiplicadores”, explica a Gerente de Serviços do Educandário Sagrada Família, Sheila Cereja.

Acolher com amor

Para que estas crianças e adolescentes cheguem até o Educandário Sagrada Família, há um trabalho de parcerias envolvido. Primeiramente, o próprio Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) faz o direcionamento de famílias que necessitam, principalmente aquelas que vivem próximas do Educandário, nos bairros Ipiranga, Sacomã e Cursino. Há também famílias que procuram o serviço espontaneamente. Outras, o próprio serviço de assistência social do Educandário e as Irmãzinhas da Imaculada Conceição encontram através de visitas a espaços de risco social na própria Região Ipiranga.

“Realizamos uma inscrição, com avaliação socioassistencial, através das assistentes sociais, e a criança fica numa lista de espera. Damos prioridade às crianças que sofrem com violência doméstica, trabalho infantil, olhando também a situação financeira da família”, conta Sheila.

Durante o tempo em que a criança fica no Educandário, ela faz todas as refeições, desde o lanche, até o almoço. O custo do projeto fica a cargo da própria Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, bem como da Prefeitura Municipal de São Paulo, através da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, com a qual mantêm convênio. Além disso, a Congregação tem convênio e parceria com a Fundação Nossa Senhora Auxiliadora do Ipiranga (FUNSAI), instituição que foi fundada pelo Conde José Vicente de Azevedo. 

Foco é na família

Duas assistentes sociais realizam o trabalho diretamente com as famílias dessas crianças e adolescentes: Luciene Pimenta e Thais Santos Lima. Através de projetos desenvolvidos pelo próprio Educandário Sagrada Família, é possível conhecer um pouco mais a realidade.

Um dos projetos consiste no Diagnóstico Social. No contato com as famílias, as assistentes sociais fazem os encaminhamentos para a rede socioassistencial. Por exemplo, algum caso de necessidade pelo benefício Bolsa Família; encaminhamentos para a rede de saúde local, como psicólogo, médico; além de casos com violência doméstica, em que é feito o encaminhamento para o Centro de Defesa da Mulher.

Além deste projeto, o Educandário desenvolve um trabalho de apoio alimentar para famílias em situação de extrema pobreza que habitam em áreas de risco. São realizadas reuniões e encontros de formação para orientação e encaminhamentos para os diversos serviços de políticas públicas, inclusive a questão da moradia.

Projeto Caminhando para o Futuro

Este projeto “Caminhando para o Futuro”, visa atender crianças em extrema vulnerabilidade social. “O nível de vulnerabilidade é tão alto, que perdem a referência do que é educação, do que é saúde, dos direitos como cidadãos”, reflete a Assistente Social, Luciene Pimenta.

O papel do Educandário Sagrada Família, através de serviço de convivência e fortalecimento de vínculos, é resgatar e construir com as próprias crianças e adolescentes o seu protagonismo juvenil e dignidade social. Um exemplo foi o acolhimento de 30 crianças da comunidade Barão de Rezende, há cerca de um ano, onde o Educandário buscou parcerias e, através de recursos da própria Congregação das Irmãzinhas, viabilizou a inclusão dessas crianças no projeto, facilitando o transporte delas até o Educandário.

Segundo a Gerente de Serviços do Educandário Sagrada Família, Sheila Cereja, foi um desafio, que trouxe às crianças novos conhecimentos, novas possibilidades e vivências pessoais e comunitárias.