“A família deve experimentar o bálsamo da misericórdia” diz Bispo maltês

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"Um bálsamo de misericórdia para a família”: esse é o título da Carta Pastoral que o bispo da Diocese de Gozo, na República de Malta, Dom Mario Grech.
Publicado em: 21/08/2015 - 13:00
Créditos: Redação, com Rádio Vaticano.

Em primeiro lugar, o documento parte de uma constatação: a família fundada no matrimônio entre homem e mulher é ainda uma instituição muito apreciada, pelos benefícios que comporta a nível “humano, social e espiritual”, tanto que “o desejo de formar uma família permanece fortemente radicado na natureza humana”. E isso se dá apesar das numerosas situações difíceis provocadas por separações, divórcios, segunda união, relações adúlteras, “em contraste com os preceitos evangélicos”.

Crise da família induz à crise da fé

Além disso, Dom Grech cita “o tsunami cultural”, ou seja, “as rápidas e enormes transformações que colocam seriamente em discussão as convicções consolidadas” sobre a família e o matrimônio, cujos valores foram “reduzidos e enfraquecidos” por leis sobre o divórcio (introduzido em Malta em 2011, mediante referendum), uniões civis, teoria do gênero, procriação assistida.

Não somente, nota o prelado: muitas vezes, “a crise do matrimônio induz a uma crise da fé”, porque nos momentos de dificuldade “é fácil ceder à tentação de dar as costas para Deus”. Família fundada no matrimônio, sacramento indissolúvel entre homem e mulher

Daí, a reflexão que o bispo de Gozo faz em relação ao Sínodo geral ordinário que se realizará no Vaticano de 4 a 25 de outubro próximo, com o tema “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”.

Em primeiro lugar, Dom Grech assegura que “não existe nenhuma intenção, por parte da Igreja, de mudar a doutrina sobre o matrimônio e a família”: “o matrimônio é um sacramento”, escreve, e “o fundamento da família está nas núpcias entre homem e mulher, ligados por amor indissolúvel, fiel e aberto à vida”. Divorciados recasados não estão excomungados e fazem parte da Igreja.

Detendo-se, em seguida, sobre os divorciados que contraíram segunda união, o bispo de Gozo ressalta que, embora eles vivam uma situação contrária ao sacramento cristão, todavia, como diz o Papa Francisco, “não estão excomungados e fazem sempre parte da Igreja”.

Não a uma Igreja “de portas fechadas”, adverte o prelado – no signo do Papa Francisco –, porque “a Barca de Pedro é refúgio de todos os pecadores e enquanto houver vida, haverá esperança de conversão”.

O bispo maltês reitera que “na Igreja há lugar para todos aqueles que creem em Deus, porque “ninguém está excluído, nem irremediavelmente perdido ou descartado”.

A misericórdia não coloca em risco a doutrina sobre matrimônio e família.

Nessa ótica, Dom Grech dedica uma ampla parte de sua Carta Pastoral ao tema da misericórdia, “palavra-chave” da relação homem-mulher, lente com a qual olhar para o próximo Sínodo.

“As expectativas sobre as conclusões sinodais acerca da situação pastoral dos divorciados recasados não são um segredo”, escreve o prelado. E sobre essa questão o bispo maltês afirma:

“Quem propõe o abatimento de certas barreiras entre aqueles que se encontram numa relação irregular mas creem em Cristo Salvador, não está colocando em risco a doutrina sobre a indissolubilidade do matrimônio, mas sim, deseja tornar possível a experiência do bálsamo da misericórdia de Deus, segundo o chamado ‘caminho penitencial’.”

Misericórdia é verdade revelada, não contrasta o Evangelho

“Coração da doutrina cristã”, “verdade revelada”, a misericórdia de Deus “jamais poderá estar em contraste com o Evangelho” – observa o prelado –, porque Deus misericordioso “toca as feridas abertas e ensanguentadas da humanidade para curá-las”.

Nesse sentido, “a misericórdia pressupõe a justiça, mas, ao mesmo tempo, vai muito além” dela, porque “Deus dá ao homem muito mais do que ele merece”.

Os votos, então, são de que no próximo Sínodo a Igreja, “permanecendo fiel ao Evangelho da família e apoiando aquelas famílias que permanecem firmes, busque, ao mesmo tempo, ser fiel ao Evangelho da misericórdia e fazer de modo que aqueles que faliram em seu primeiro matrimônio possam esperar na misericórdia de Deus e experimentar a alegria de Seu amor.” Dar esperança aos casais que fracassaram na união matrimonial.

A referência, escreve o bispo de Gozo, pode ser o episódio evangélico das bodas de Caná que transmite “uma mensagem de esperança a todos aqueles casais que não têm mais vinho”, por causa “da pobreza, da doença ou porque não mais se amam”.

De fato, “Jesus escolhe dar o vinho melhor justamente àqueles que, por um motivo ou por outro, pensam que suas talhas estejam todas rompidas”, aliás: é propriamente nelas que Ele derrama “o seu amor e a sua misericórdia”.

Naturalmente, observa o bispo maltês, de um lado, é “preciso ser prudentes ao confiar esse tipo de vinho” aos outros, mas, de outro lado, “não se deve ser por demais rígidos”, porque “as talhas estão repletas” e são muitos os que querem experimentar a ternura e a generosidade de Deus”.

A Igreja olhe a humanidade ferida com olhos misericordiosos

Seguindo, portanto, o exemplo da Virgem Maria, “a Igreja, através do Sínodo, continue olhando com olhos misericordiosos para a humanidade profundamente ferida”, dissipando “a escuridão que contorna muitos corações”.