Um olhar mais demorado, uma reflexão mais profunda, um pensamento mais aguçado, dão-nos conta de que nossa Casa Comum - a terra - inspira cuidados cada vez maiores. Dentre tantos exemplos, basta lembrar a histórica seca de 1915, no nordeste brasileiro, sentir o aumento das temperaturas em nossas ruas ou observar a recente escassez de água nos reservatórios paulistanos para comprovar a certeza de que a Terra precisa de proteção
O esforço do Papa Francisco em sua Carta Encíclica Laudato Si e/ou as decisões da COP 21, ocorrida em Paris só serão sentidos à medida que cada habitante da imensa Terra for capaz de zelar do pequeno universo em que vive. A quaresma que celebramos como preparação para páscoa é, oportunamente, um momento que nos convoca à oração, a conversão e, por que não, ao Cuidado com a Casa Comum.
No Brasil, historicamente, associou-se a Campanha da Fraternidade à Quaresma. Este ano o apelo de conversão dirigido aos cristãos caminha pelo viés da preocupação com Casa Comum: a Terra. Somos exortados ao cuidado e ao cultivo de ações que reflitam a consciência de que o planeta “geme como que em dores de parto”.
De maneira específica, a Campanha da fraternidade quer voltar nossos olhares para a certeza de que “Justiça ambiental” é parte integrante da “Justiça Social”. Convida-nos, essa campanha, a reclamar às autoridades constituídas preocupações humanitárias: abastecimento de água potável a todos, destinação correta do esgoto sanitário, um eficaz manejo dos resíduos sólidos, entre outras. Propostas tão eloquentes que não podem ficar circunscritas aos umbrais da Igreja Católica. Por isso, a CF-2016 será também de cunho ecumênico, dirigida a todos os homens e mulheres de boa vontade.
Do ponto de vista bíblico, um texto de Amós é a fonte iluminadora dessa campanha. Diz o profeta: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5,24). Garantir os direitos essenciais para a vida humana e cuidar bem do planeta, são partes fundamentais da justiça exigida por Deus. Quando isso não acontece, diz outro profeta, as feras, as aves do céu e até os peixes do mar tendem a desparecer (Oséias 4,1-3).
O que Deus quer de nós é que sejamos como jardineiros que cuidam da natureza com carinho. E, também, o cuidado uns dos outros, como quem cuida de plantas as quais ama. É esta imagem que está presente na descrição do livro do Gênesis, que relata a criação do mundo. Deus tomou Adão e o colocou no Jardim do Éden para que o cultivasse e guardasse (cf. Gênesis 2,15).
Assim, torna-se claro que, além dos habituais gestos quaresmais de penitência, jejum e caridade, deveríamos, explicitamente, acrescentar o CUIDADO. Cuidado manifesto no zelo concreto e consciente do planeta; Na postura critica em relação àqueles que têm a missão de gerir o patrimônio comum e na educação cada vez mais solidária e respeitosa com a natureza dirigida às novas gerações.Que a Quaresma seja, portanto, momento de oração, conversão e cuidado!
*Reuberson Ferreira. Religioso Missioonário do Sagrado Coração. Mestrando em Teologia/ PUC-SP e Vigário na Paroquia São Miguel. Ex-editor da Revista de Nossa Senhora do Sagrado Coração.