Santa Ifigênia: paróquia histórica para devoção eucarística na cidade tem novo pároco

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Uma das igrejas mais antigas da capital paulista, a Basílica Menor de Nossa Senhora da Conceição, no bairro de Santa Ifigênia, é patrimônio religioso, artístico e cultural de São Paulo
Publicado em: 21/09/2023 - 15:15
Créditos: Redação

Patrimônio religioso, artístico e cultural da cidade de São Paulo, a Basílica Menor de Nossa Senhora da Conceição, matriz da Paróquia de mesmo nome, no bairro de Santa Ifigênia, começa uma nova etapa de sua história. Após 85 anos sob a responsabilidade dos sacerdotes da Congregação do Santíssimo Sacramento (Sacramentinos), esta matriz paroquial volta novamente aos cuidados de um sacerdote do clero secular da Arquidiocese de São Paulo.

No dia 28 de agosto, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, nomeou o Padre João Paulo Gelailete Rizek como Pároco da Paróquia e Reitor da Basílica popularmente conhecida como Santa Ifigênia. Sua posse canônica no ofício ocorrerá no domingo, 24, às 15h.

Aos 44 anos de idade, Padre João Paulo, que está prestes a completar dez anos de sacerdócio, foi transferido da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na Vila Arapuá, na Região Ipiranga. “Acolho com grande alegria pela confiança a mim depositada pela Arquidiocese de São Paulo, de cuidar não somente deste povo, de um território paroquial bem extenso, mas também desta linda Basílica. Pretendo, com o tempo e com a ajuda de Deus e dos amigos, assim como dos comerciantes e moradores locais, que essa comunidade volte a ter o brilho que ela sempre teve”, afirmou o novo Pároco, em entrevista ao O SÃO PAULO.

PATRIMÔNIO

De fato, essa é uma das igrejas mais antigas da cidade, pois remonta ao século XVIII, quando duas irmandades de escravizados alforriados construíram a Capela de Santo Elesbão e Santa Ifigênia, dois santos negros. No início do século XIX, em 1809, Dom João VI, ainda príncipe regente, criou a Paróquia Nossa Senhora da Conceição, tendo como primeira sede essa capela. A igreja colonial foi demolida no início do século XX para a construção de uma nova matriz, cujo projeto foi elaborado pelo arquiteto austríaco Johann Lorenz Madein. A construção da atual igreja começou em 1904, sendo inaugurada, ainda inacabada, em 1910. As obras terminaram por volta de 1914. O interior foi ricamente decorado com pinturas, vitrais, púlpitos e um órgão.

Entre 1930 e 1954, em razão da construção da Catedral da Sé, a “Igreja de Santa Ifigênia” foi pró-catedral da Arquidiocese. Em 1958, foi elevada à dignidade de basílica menor pelo Papa Pio XII. Foi tombada pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) em 1992.

Com um rico acervo artístico, a Basílica possui obras dos renomados pintores Benedito Calixto (1853-1927), do pintor italiano e naturalizado brasileiro Carlos Oswald (1882 – 1971) e do também italiano Gino Catani (1879-1944). Sua arquitetura é neorromânica com detalhes neogóticos, inspiração em igrejas medievais do norte da Europa. Essa manifestação arquitetônica apresenta-se em outras igrejas de São Paulo como a Igreja da Consolação (que possui obras do pintor Oscar Pereira Silva) e a Catedral da Sé. Abaixo de cada uma das rosáceas da nave há uma pintura de autoria de Henri Bernard (1868-1941), uma representando a Sagrada Família e a outra as Bodas de Caná.

A nave tem dois púlpitos neogóticos, esculpidos em madeira, importados da França, em 1920. Um traz um relevo representando São Pedro e o outro, São Paulo. Em 1924, foi inaugurado o órgão, trazido da Alemanha.

LOCALIZAÇÃO

A Basílica do Santíssimo Sacramento foi construída ao lado da Rua Santa Ifigênia, em uma época em que predominavam no bairro residências, fábricas, alfaiatarias, lojas de comércio de roupas e de artigos para formatura. Hotéis, pensões e cortiços eram atraídos para a região em virtude da existência das estações ferroviárias da São Paulo Railway e Sorocabana.

Na primeira década do século XX, começaram a ser construídas grandes avenidas no centro da cidade, com o projeto de implantação do viaduto Santa Ifigênia, ligando o “Triângulo histórico” ao bairro de Santa Ifigênia e o replanejamento do Vale do Anhangabaú.

Atualmente, o bairro é famoso pelas lojas de produtos eletrônicos e elétricos, como acessórios e materiais de informática e computadores, som e instrumentos musicais, além de máquinas fotográficas etc. A igreja está localizada entre três grandes estações do metrô (República, São Bento e Luz).

FATOS HISTÓRICOS

As duas guerras mundiais, a epidemia de gripe espanhola e as grandes greves de 1917 são fatos históricos testemunhados pelos freis dessa igreja. Em 1924, houve a revolução tenentista na qual umas das batalhas ocorreu em frente ao templo, tanto que é possível ver as marcas de balas nas pedras da fachada. Passou, ainda, por revoluções como a 1932, entre outros acontecimentos políticos e sociais.

No âmbito religioso, a Basílica foi um dos locais de referência para as celebrações do Congresso Eucarístico de 1942, como catedral provisória da Arquidiocese, durante a construção da Catedral da Sé, sendo, inclusive, o local do funeral do segundo Arcebispo de São Paulo, Dom José Gaspar d’Afonseca e Silva, morto em 1943, vítima de um acidente aéreo.

EUCARISTIA

Sua relação com a devoção eucarística vem desde 1938, quando os cuidados pastorais da Paróquia e da Basílica foram confiados aos religiosos Sacramentinos, que introduziram a adoração perpétua ao Santíssimo Sacramento. Durante muitas décadas, a adoração eucarística acontecia ininterruptamente, inclusive durante a madrugada.

“Os comerciantes do interior, às vezes, não conseguiam tomar o trem da noite, na Estação da Luz. Então, eles passavam a noite rezando aqui para pegar o trem da manhã no dia seguinte” contou Padre João Paulo, informando, ainda, que os membros de movimentos como o dos Congregados Marianos faziam romarias para adorar o Santíssimo nas madrugadas. Também havia fiéis de diversas paróquias da cidade que se inscreviam para participar da escala de adoração noturna.

Com o passar dos anos, a degradação da região central e o aumento da insegurança, a adoração eucarística se restringiu ao período do expediente da igreja. Padre João Paulo, contudo, compartilhou a esperança de que um dia a adoração perpétua seja retomada na Basílica.

“Jesus Cristo é o centro da nossa fé, presente em corpo, sangue, alma e divindade na Sagrada Eucaristia. Essa é a fé dos católicos. Nossa Igreja não segue uma filosofia ou uma ideia. Nós seguimos uma pessoa, Jesus Cristo, que está realmente aqui e pode ser visitado e adorado durante todo o período em que a igreja estiver funcionando”, afirmou o Pároco, sublinhando que a Basílica é um lugar em que a dona de casa, o empresário ou o comerciante podem parar tudo o que estão fazendo, entrar e conversar com o próprio Deus presente na Sagrada Eucaristia, tanto que a porta principal do templo fica sempre aberta durante o dia, para que quem passe na rua consiga ver Jesus eucarístico e se sinta atraído para adorá-Lo.

“É minha obrigação, com a memória dos 85 anos que essa igreja teve de adoração eucarística, não interrompê-la, custe o que custar”, assegurou o Sacerdote.

PASTORAL

A Paróquia Nossa Senhora da Conceição e Santa Ifigênia enfrenta os mesmos desafios pastorais das demais paróquias do centro da cidade. “Este é um território paroquial em que moram 100 mil pessoas e, percebe-se que falta muito para haver um fluxo de fiéis à missa como deveria haver… Portanto, Santa Ifigênia não é apenas uma igreja da passagem, existe um povo”, enfatizou o Padre João Paulo, reforçando a necessidade de ir em busca desses fiéis.

Entre as pastorais e grupos atuantes na Paróquia, destacam-se a catequese para os sacramentos da iniciação cristã, os ministros extraordinários da Sagrada Comunhão e o movimento do Terço dos Homens. Também existem serviços como Alcoólicos Anônimos e Jogadores Anônimos, além da Pastoral da Moradia, uma vez que Santa Ifigênia é venerada como protetora da casa própria. Além disso, a Basílica acolhe atividades culturais como os ensaios semanais de uma orquestra sinfônica.

No âmbito sacramental, Padre João Paulo já introduziu mais um horário de missa durante a semana, às 7h30. Além disso, há missas às 12h e 18h. Nos períodos entre as missas, o Santíssimo Sacramento fica exposto para adoração no altar principal. Aos sábados, há missas às 7h30 e às 17h. Já aos domingos, a Eucaristia é celebrada às 9h, 11h e 17h.

Quanto ao sacramento da Reconciliação (Confissão), o Padre atende todos os dias no período entre as missas das 7h30 e das 12h.

Além do empenho pastoral, o novo Pároco tem pela frente o desafio do restauro da histórica Basílica, que demandará constante diálogo com os órgãos de preservação do patrimônio, captação de recursos e comprometimento de toda a comunidade. No entanto, o Sacerdote reconhece que deve ser dado um passo de cada vez, consciente de que a prioridade é pastorear a porção do povo de Deus a ele confiada.

Padre João Paulo assume a Paróquia em meio às comemorações da padroeira, com a celebração da novena preparatória, e a missa solene na sexta-feira, 22, às 18h, seguida de procissão pelas ruas do bairro. Além disso, de quinta-feira, 21, ao domingo, 24, haverá a festa de rua, com comidas típicas e música ao vivo, a partir das 12h.