‘A identidade e a missão da Igreja não é outra que evangelizar, ser sacramento de salvação do mundo’

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Com um número recorde de partici­pantes, 442 dos atuais 486 bispos do País, a 61ª Assembleia Geral da Conferên­cia Nacional dos Bispos do Brasil acontece até a sexta-feira, 19
Publicado em: 17/04/2024 - 12:15
Créditos: Redação

Com um número recorde de partici­pantes, 442 dos atuais 486 bispos do País, a 61ª Assembleia Geral da Conferên­cia Nacional dos Bispos do Brasil (AG CNBB) acontece até a sexta-feira, 19, em Aparecida (SP). Entre os diversos temas abordados pelo episcopado brasileiro, destaca-se o processo de elaboração das novas Diretrizes Gerais da Ação Evange­lizadora da Igreja no Brasil.

O processo de construção do docu­mento, antes previsto para ser concluído em 2023, foi prorrogado para ser finaliza­do em 2025, a fim de que sejam aprofun­dados os desafios atuais da evangelização e contemplados os frutos do caminho si­nodal proposto pelo Papa Francisco.

“A identidade e a missão da Igreja não é outra que evangelizar, ser sacra­mento de salvação no mundo. Conta­mos com uma tradição belíssima capaz de assegurar que a oportunidade que nos apresenta não pode ser desperdiçada e, ao mesmo tempo, somos convidados a avaliar e talvez renovar com critérios evangélicos as estruturas para estarem verdadeiramente a serviço do Evangelho e da evangelização”, afirmou Dom Jai­me Spengler, Arcebispo de Porto Alegre (RS) e Presidente da CNBB, na sessão de abertura da Assembleia, no dia 10.

Victória Holzbach

‘CONVERSA NO ESPÍRITO’

Para a reflexão do tema central, foi adotada pela primeira vez na Assembleia Geral a metodologia do discernimento comunitário conhecida como “Conversa no Espírito”, utilizada na etapa continen­tal do Sínodo (2021-2024) e pelos padres sinodais na primeira sessão da XVI As­sembleia Geral Ordinária do Sínodo dosBispos, em outubro de 2023, em Roma.

Os bispos brasileiros refletiram a par­tir do Instrumento de Trabalho elabora­do para a Assembleia, distribuídos em 45 mesas sinodais, organizadas como pe­quenas comunidades, sendo aproxima­damente dez prelados em cada uma delas.

O método previu três rodadas, sem­pre precedidas de um momento de ora­ção e silêncio. Na primeira, todos parti­lharam seus pensamentos e sentimentos em relação à questão apresentada. O convite era para focar a escuta do outro. Na segunda, cada um falou sobre o que mais chamou a atenção na escuta reali­zada. O convite era enfatizar o que mais tocou e desafiou cada um. Na terceira rodada, identificaram-se os pontos-cha­ve e construiu-se um consenso sobre os elementos centrais que surgiram a partir do discernimento em grupo iluminado pelo Espírito.

Dom Leomar Brustolin, Arcebispo de Santa Maria (RS) e Coordenador da Comissão do Tema Central, explicou à imprensa que o texto trabalhado pelos bispos foi estruturado a partir de três as­pectos fundamentais: escutar os sinais dos tempos, discernir em vista da conversão pastoral e, por fim, propor caminhos para a missão.

Sobre o aspecto missionário, Dom Leomar sublinhou que, na nova propos­ta de diretrizes, a missão não é abordada apenas como uma das várias dimensões da Igreja, mas uma realidade transversal urgente de todas as diretrizes.

Em entrevista ao O SÃO PAULO, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, ressaltou que essa metodo­logia permite que se busque ouvir mais o que o Espírito Santo tem a dizer do que simplesmente uma argumentação a par­tir dos próprios gostos e opiniões.

Comunicação CNBB

DEMAIS TEMAS

Outros temas e informes permearam a intensa programação da Assem­bleia, tais como: inteligência artificial; Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (Celam); Comissão Co­munhão e Partilha; Pontifício Colégio Pio Brasileiro; Comissão Episcopal para a Ação Missionária e Cooperação Intereclesial e o projeto Igrejas Irmãs; Ministérios Laicais; Estatuto e Regi­mento da CNBB; Comissão para a Cau­sa dos Santos; Comissão Especial para a Amazônia; Congresso Missionário Nacional; Acordo Brasil-Santa Sé; COP 30; Comissão Especial para os Bispos Eméritos; Eleições Municipais; Cam­panhas e Organismos do Povo de Deus.

Jaison Alves da Silva

RETIRO

Nos primeiros dois dias de Assem­bleia, os bispos realizaram seu retiro espiritual, que, este ano, teve como pregador o Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano. O Purpurado meditou sobre o tema da sinodalidade, destacando as três di­retrizes propostas pelo Papa Francisco: comunhão, participação e missão, convidando o episcopado a “contem­plar em silêncio e saborear nas pro­fundezas do nosso espírito a beleza da Igreja sinodal, como manifestação da própria vida trinitária”.

O Cardeal Parolin ressaltou que a “Igreja, concebida independentemente de Cristo, perde todo o seu significado, perde a sua própria identidade”.

Em entrevista ao Vatican News, o Purpurado disse estar impressionado com o número de bispos no Brasil e como se empenham na evangelização, um desafio diante da crescente secu­larização na América Latina, com um número crescente de pessoas que vi­vem como se Deus não existisse.

SERVIR A CRISTO E SEU EVANGELHO

“Os trabalhos aos quais nos de­dicamos nestes dias de Assembleia, como bispos no Brasil, associam-se à missão que o Senhor e a Igreja nos confiaram: pastores nas dioceses para servir ao Senhor e ao seu Evangelho”, afirmou Dom João Justino, Arcebispo de Goiânia (GO) e 1º Vice-presidente da CNBB, na homilia da missa da ter­ça-feira, 16. “Tudo que fazemos aqui e nas nossas dioceses é porque nós O encontramos, nós O amamos e nós O servimos. Nossa vida se sustenta Nele, o Pão descido do céu, o Pão da vida, Jesus Cristo, Pão partido para um mundo novo”, ressaltou.

Ainda sobre os trabalhos da Assem­bleia, o Arcebispo de Goiânia acrescen­tou: “Nada estamos fazendo diferente do que fizeram os apóstolos de Jesus, isto é, eles consideraram os desafios de seu tempo e encontraram as respostas, na escuta do Espírito, para levar adiante o projeto do Reino de Deus”.