‘Nunca afastes de algum pobre o teu olhar’

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Celebrado anualmente no 33º Domingo do Tempo Comum, o Dia Mundial dos Pobres foi instituído pelo Papa Francisco em 2016
Publicado em: 16/11/2023 - 15:30
Créditos: Redação

Celebrado anualmente no 33º Domingo do Tempo Comum, o Dia Mundial dos Pobres foi instituído pelo Papa Francisco em 2016 para que “as comunidades cristãs se tornem, em todo o mundo, cada vez mais e melhor sinal concreto da caridade de Cristo pelos últimos e os mais carentes”, explica o Pontífice na mensagem da primeira edição, em 2017.

“Este dia pretende estimular, em primeiro lugar, os crentes, para que reajam à cultura do descarte e do desperdício, assumindo a cultura do encontro. Ao mesmo tempo, o convite é dirigido a todos, independentemente da sua pertença religiosa, para que se abram à partilha com os pobres em todas as formas de solidariedade, como sinal concreto de fraternidade”, escreveu o Papa na mesma mensagem.

Em 2023, o VII Dia Mundial dos Pobres, a ser celebrado no domingo, 19, tem como tema “Nunca afastes de algum pobre o teu olhar” (Tb 4,7), uma recomendação do ancião Tobit a seu filho Tobias que permanece atual.

O QUE APRENDER DE TOBIT

Francisco apresenta Tobit, que ficou cego ao acaso, como um bom exemplo de quem se dedicou aos mais pobres, mesmo diante das adversidades. “A cegueira de Tobit tornar-se-á a sua força para reconhecer ainda melhor tantas formas de pobreza ao seu redor. E, mais tarde, o Senhor providenciará a devolver ao velho pai a vista e a alegria de rever o filho Tobias (…) Deus não poupa as provações a quem pratica o bem. E por quê? Não o faz para nos humilhar, mas para tornar firme a nossa fé Nele”, afirma o Pontífice.

“As palavras que [Tobit] dirige ao filho Tobias constituem a sua verdadeira herança: ‘Nunca afastes de algum pobre o teu olhar’ (Tb 4,7). Enfim, quando nos deparamos com um pobre, não podemos virar o olhar para o lado oposto, porque impediríamos a nós próprios de encontrar o rosto do Senhor Jesus. E notemos bem aquela expressão ‘de algum pobre’, de todo o pobre. Cada um deles é nosso próximo. Não importa a cor da pele, a condição social, a proveniência”, prossegue o Papa.

ENVOLVER-SE PESSOALMENTE

Francisco recorda que o atual momento histórico não favorece a atenção aos mais pobres, dado o crescente apelo social para que cada pessoa pense em seu próprio bem-estar: “Os pobres tornam-se imagens que até podem comover por alguns momentos, mas quando os encontramos em carne e osso pela estrada, sobrevêm o fastídio e a marginalização. A pressa, companheira diária da vida, impede de parar, socorrer e cuidar do outro”, alerta.

“Delegar a outros é fácil; oferecer dinheiro para que outros pratiquem a caridade é um gesto generoso; envolver-se pessoalmente é a vocação de todo o cristão”, enfatiza o Pontífice, rendendo graças a Deus aos que se dedicam aos pobres e excluídos.

A POLÍTICA E A DIGNIDADE HUMANA

Ao recordar o 60º aniversário da encíclica Pacem in terris, de São João XXIII, Francisco recorda apontamentos deste documento acerca dos direitos de todo ser humano à própria existência, à integridade física e a um padrão de vida digno, com acesso a nutrição, vestuário, moradia, repouso, assistência sanitária e serviços sociais indispensáveis. Diante disso, o atual Pontífice pede um “sério e eficaz empenho político e legislativo”, solidariedade e subsidiariedade dos cidadãos, os quais também devem “fazer pressão para que as instituições públicas cumpram do melhor modo possível o seu dever”.

O Papa lista ainda novas formas de pobreza, como as populações em cenários de guerra e as pessoas que recebem salário insuficiente para arcar com os custos de subsistência: “Se, numa família, se tem de escolher entre o alimento para se nutrir e os remédios para se curar, então deve-se fazer ouvir a voz de quem clama pelo direito a ambos os bens, em nome da dignidade da pessoa humana”.

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MAIS DO QUE ESTATÍSTICA E NÚMEROS, IRMÃOS

Francisco alerta, ainda, para a “tentação insidiosa” de olhar para os pobres apenas nas estatísticas e nos números. “Os pobres são pessoas, têm rosto, uma história, coração e alma. São irmãos e irmãs com os seus valores e defeitos, como todos, e é importante estabelecer uma relação pessoal com cada um deles”.

Nessa perspectiva, “interessar-se pelos pobres não se esgota em esmolas apressadas”, mas envolve “restabelecer as justas relações interpessoais que foram afetadas pela pobreza”, diz o Pontífice, exortando que a solicitude pelos pobres seja marcada por um realismo evangélico: “Não esqueçamos: ‘Somos chamados a descobrir Cristo neles: não só a emprestar-lhes a nossa voz nas suas causas, mas também a ser seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar por meio deles’ (Evangelii gaudium 198)”.

A mensagem do VII Dia Mundial dos Pobres é concluída com uma citação de Santa Teresinha do Menino Jesus acerca da verdadeira caridade, após a qual pede o Pontífice: “Nesta casa que é o mundo, todos têm direito de ser iluminados pela caridade, ninguém pode ser privado dela. Possa a tenacidade do amor de Santa Teresinha inspirar os nossos corações neste Dia Mundial, ajudar-nos a ‘nunca afastar de algum pobre o olhar’ e a mantê-lo sempre fixo no rosto humano e divino do Senhor Jesus Cristo”.

UMA OCASIÃO PARA ESTAR COM OS EXCLUÍDOS E PENSAR SOBRE SUA CONDIÇÃO

Na coluna “Encontro com o Pastor”, publicada no O SÃO PAULO em 8 de novembro, o Cardeal Odilo Pedro Scherer falou sobre a celebração do VII Dia Mundial dos Pobres e, ao recordar que um dos propósitos do 1° sínodo arquidiocesano é o testemunho à caridade, exortou: “Que em todas as paróquias, comunidades e outras expressões e organizações da Igreja Católica existam iniciativas de caridade organizada, além do incentivo à prática pessoal da caridade e das obras de misericórdia”.

O Arcebispo lembrou que também é preciso ir às raízes da pobreza e do sofrimento das pessoas, e fez votos de que o Dia Mundial dos Pobres estimule a consciência e a sensibilidade social. “Seria muito bom se em vez de ser uma ocasião, apenas, para uma esmola, nós fizéssemos uma movimentação envolvente com o povo das paróquias e comunidades, desde as crianças e os adolescentes, até os aposentados, para trazer os pobres ao meio das nossas comunidades, das quais eles não devem ficar excluídos”.

Na mensagem para o I Dia Mundial dos Pobres, em 2017, o Papa Francisco apresentou indicativos sobre ações a serem feitas:

Fixar o olhar e se aproximar cada vez mais de todos que pedem ajuda;
Realizar momentos de oração com os pobres;
Na semana anterior ao Dia Mundial dos Pobres, que as comunidades cristãs viabilizem momentos de encontro e amizade, de solidariedade e de ajuda concreta;
Que se convide os pobres e os voluntários para participarem, juntos, da missa no Dia Mundial dos Pobres.