Jovens dialogam sobre nova economia global proposta pelo Papa Francisco

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Organizado pela Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas, evento reuniu participantes do encontro “Economia de Francisco”, que acontecerá em novembro, na cidade de Assis.
Publicado em: 11/03/2020 - 10:15
Créditos: Redação

Com o objetivo de apresentar aos empresários a iniciativa do Papa Francisco de reunir jovens economistas e empreendedores de todo o mundo para refletirem sobre um novo modelo de economia global, a Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE) realizou na noite da segunda-feira, 9, um diálogo com jovens que irão participar do evento intitulado “Economia de Francisco”, em novembro, na cidade de Assis, na Itália.

Com o título “Uma Nova Economia Global: jovens em Assis atendendo ao chamado do Papa”, o evento, realizado em São Paulo, contou com a participação dos três jovens que irão participar do encontro internacional apoiados pela ADCE e pela União Internacional Cristã dos Dirigentes de Empresas (UNIAPAC) Brasil. O diálogo foi mediado pelo jornalista Milton Jung, âncora da rádio CBN.   

Esses jovens são: Matheus Machado, advogado, empresário, professor e palestrante de finanças pessoais; Lucas Galhardo, estudante de Engenharia Mecânica, com experiências com Pastoral Juvenil no Brasil e América Latina e auditor do Sínodo dos Bispos sobre os jovens, em 2018; e Franchesco Lopez, trader internacional de negócios, empreendedor e jornalista.

TROCA DE IDEIAS

“O Papa está provocando os jovens estudantes, pessoas da academia, economistas em início de carreira, empreendedores de todo o mundo em um evento inter-religioso e intercultural para que apresentem novas ideias em vista de uma economia mais humanizada, que leve em conta a dignidade da pessoa, mais inclusiva e que respeite o meio ambiente, o que também tem a ver com a vida do ser humano na Terra”, explicou ao O SÃO PAULO o presidente da ADCE Brasil, Sérgio Cavalieri.

Aos 32 anos, Matheus Machado se candidatou para participar do evento atraído pela proposta do Papa de repensar as relações econômicas, mudando sua mentalidade do foco absoluto no lucro financeiro para o bem do ser humano.

“Se não promovermos um salário digno, um trabalho justo, uma relação profissional mais saudável, uma mente mais saudável, a pessoa não produz. Infelizmente, boa parte das empresas ainda veem as pessoas apenas como números. Portanto, esse chamado do Papa Francisco para rever essa mentalidade começou a mexer com minha comigo”, relatou o educador financeiro.

PENSAR A LONGO PRAZO

Para Matheus, a expectativa do evento em Assis é grande. “É um movimento forte e esperamos muitos frutos”, disse, destacando, ainda, a capacidade o Papa de dialogar com várias culturas e religiões em busca dessa nova economia mais humana.

“Nós temos que pensar a longo prazo porque estamos destruindo o meio ambiente, degradando o ser humano e implementando uma cultura de descarte muito pesada, em que tudo literalmente é descartável. Se o funcionário não produz, ele é trocado, se alguém acabou de tomar um refrigerante, joga a latinha fora”, ressaltou Matheus, recordando que para combater essa cultura de descarte o Santo Padre propõe uma “ecologia integral”, que seja a revista a forma que a sociedade trata o ser humano, os materiais e o ambiente onde vive.

RESPONSABILIDADE DE TODOS

Boliviano e com 33 anos Franchesco Lopez vive no Brasil desde 2013, quando descobriu sua vocação para o comércio exterior. Ao falar sobre os temas que serão trados em Assis, ele chamou a atenção para a tomada de consciência da responsabilidade de todos os atores da sociedade no desenvolvimento econômico de um país e de todo o mundo, tendo o ser humano e a sua dignidade como centro de seus objetivos.

“Por isso, o Papa convidou pesquisadores, influenciadores e, sobretudo, jovens economistas e empreendedores, pois são esses que daqui 50 anos estarão à frente das empresas com essa nova visão econômica”, ressaltou.

Mesmo não sendo diretamente da área da economia, Lucas Galhardo, 27, reconhece que essa nova visão econômica que será debatida no evento internacional deve ser de interesse de dos profissionais de todas as áreas.

MUDANÇA CULTURAL

“Será, antes de tudo, uma grande oportunidade de aprendizado. Espero poder levar um pouco da minha experiência da Pastoral Juvenil, do ambiente universitário e do processo do Sínodo dos Bispos de 2018, das boas práticas empresariais que aprendemos aqui na ADCE”, disse, ressaltando, ainda a expectativa de se encontrar com outras pessoas que também estão empenhar nesses objetivos.

Lucas enfatizou, ainda, que os jovens de sua geração têm cada vez mais demonstrado interesse pelas questões ambientais, sociais e pelo desenvolvimento sustentável. “Isso me alegra e me motiva muito. Faz-me acreditar que conseguiremos dar passos significativos nessa mudança cultural, pensando nos valores que uma empresa pode gerar, sobre o impacto gerado na vida das pessoas e sua contribuição para a humanidade”, acrescentou, reconhecendo que esse processo, embora exija tempo e discernimento, já existem os primeiros passos para a mudança.

FRANCISCO DE ASSIS

Na carta-convite dirigida aos jovens empresários e empresárias, economistas e game changers do mundo inteiro com até 35 anos, divulgada em 11 de maio de 2019, o Papa Francisco explica que Assis é o lugar apropriado para inspirar uma nova economia, pois foi ali que São Francisco se despojou de todo mundanismo para escolher Deus como bússola da sua vida, tornando-se pobre com os pobres e irmão de todos. Sua decisão de abraçar a pobreza também deu origem a uma visão econômica que permanece atual.

O Pontífice convida os jovens a firmarem um pacto, no espírito de São Francisco e de Santa Clara, a fim de que a economia de hoje e de amanhã seja mais justa, fraterna, sustentável e com um novo protagonismo de quem hoje é excluído.

Além dos jovens o evento contará com a participação de alguns especialistas convidados pelo Papa para assessorar o encontro, entre os quais, o economista e filósofo indiano Amartya Sen, Prêmio Nobel para a Economia 1998; o economista e ensaísta norte-americano Jeffrey Sachs; e o economista e banqueiro bengalês, Prêmio Nobel da Paz 2006, Muhammad Yunus, também conhecido como o “banqueiro dos pobres”.

BRASILEIROS

O Brasil terá a segunda maior delegação no evento, cerca de 100 jovens de diferentes regiões do País. Desde novembro de 2019, eles se encontram de forma presencial para preparar ações e reflexões para serem compartilhadas no encontro.

A expectativa de Matheus não é apenas para o que será debatido no encontro em Assis, como também o processo que antecede o encontro. “São aqueles que conseguiremos mobilizar, a quantidade pessoas que alcançaremos e fazê-las não só refletir, mas se comprometer concretamente por meio da assinatura de um novo pacto entre empresários, universidades, cidadãos, igrejas pelo bem comum”, afirmou, reforçando que a “Economia de Francisco” não é uma proposta partidária ou ideológica, mas humana.