‘Estive doente e vieste me visitar’

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A equipe de reportagem do Portal Arquisp, acompanhou na sexta-feira, (8), o grupo de seminaristas que fizeram missão junto a Capelania Hospitalar do Hospital Emílio Ribas.
Publicado em: 13/07/2016 - 10:30
Créditos: Fábio Augusto e Millena Guimarães

Por Fábio Augusto e Millena Guimarães

Entre os dias 4 e 11 de julho, os Seminaristas da Arquidiocese de São Paulo participaram da Missão de Férias 2016, que é um trabalho pastoral de Missão Popular, que os ajudam a conhecer e aprofundar mais e melhor a experiência pastoral missionaria que realizam nos finais de semana junto das paróquias e outras frentes pastorais da Arquidiocese.

A equipe de reportagem do Portal Arquisp, acompanhou na sexta-feira, (8), o grupo de seminaristas que fizeram missão junto a Capelania Hospitalar do Hospital Emílio Ribas. Arley da Silva, 23, terceiro ano de Filosofia; Eldino José Pereira, 29, primeiro ano de Teologia. Douglas da Silva Gonzaga, 18, Seminário Propedeutico e Luiz Carlos Tose, 27, segundo ano de Teologia. A experiência foi coordenada pelo Padre João Mildner, Capelão no hospital há 24 anos.

A Capelânia foi criada no final do ano de 1994 por Dom Paulo, como uma Capelânia pessoal do Arcebispo, quando houve uma grande epidemia da AIDS. “ Naquela época que havia uma média de 18 mortes por dia, considerado um número assustador”, conta o Padre João. O sacerdote recorda saudoso que durante este tempo a frente do trabalho de visita aos doentes há quase 25 anos, ele continua aprendendo a cada dia, com os pacientes. E aconselha os seminaristas a lidarem como visitantes aos doentes “Sejamos Jesus na vida dos doentes, não falemos de Jesus, sejamos Jesus, sejamos esse rosto misericordioso com quem sofre. Esse é o grande desafio da igreja, é muito fácil falar de Jesus, o difícil é ser Jesus para com o outro”.

Douglas, o mais jovem seminarista do grupo, contou que já ansiava fazer visita pastoral em hospitais, antes mesmo de ser convidado para a missão, porém se preocupava em como ia interagir com os pacientes. “Eu percebi que não precisamos falar nada e sim escutar os pacientes”. E assimilou o gesto da visita aos doentes, com o ato de rezar em uma capela.

“Me deparei com a realidade de que toda vez que entramos em uma capela e ficamos diante do Santíssimo, ele está ali em silencio só para nos escutar, ele quer que nós desabafamos e contamos tudo que tenhamos para falar, e é isso que eu faço com os pacientes”. E completou que mais aprendeu do que ensinou nesta missão com os enfermos.

Arley vivenciou a experiência como uma forma de Jesus falar por meio dos doentes. “Encontrar-se com o outro é poder reconhecer a graça de Deus no irmão”, refletiu Arley.“Eu não me encontrei com doentes, encontrei com o próprio Jesus Cristo nesses dias”.

Para Luiz Carlos que já está em sua sétima missão, é sempre um novo encontro com os irmãos e com as realidades de sofrimento “Conseguimos tocar a vida das pessoas e ser tocado pela vida delas, é uma experiência muito positiva”.

Eldino José descreveu que para atuar bem como missionário é necessária uma vida de fé. “É a partir dessa realidade humana que como vocacionados por Deus, somos chamados a ser continuadores da obra da misericórdia, ou seja partindo do sofrimento do outro para gerar vida”.

A missão também é um momento de conforto espiritual para os doentes que recebem as visitas dos futuros sacerdotes. Regina Gonçalves dos Santos,43, internada desde o dia 1º de julho, por conta de um fungo falou da experiência da visita dos jovens seminaristas. “Apesar de estar internada, a companhia deles nos ajuda a passar o tempo. Os seminaristas trouxeram para nós um ar muito bom, pois conversamos bastante com eles e partilhamos nossas histórias”.

No mesmo quarto, ao leito ao lado estava Mariana Priscila de Fraga, 32, internada por conta de infecção ocular. Em entrevista ao Portal Arquisp contou a visita é uma forma de distração, pois a sua família não pode estar sempre com ela, “Meu marido não pode vir todos os dias, ele trabalha o dia inteiro. Com essas visitas além de passar rápido o tempo, a presença dos seminaristas nos acalmam nos momentos de desespero e solidão”.

Frutos da missão

Há 21 anos, Padre Michelino Roberto, pároco da Nossa Senhora do Brasil e diretor do O SÃO PAULO, também fez a experiência da missão. O sacerdote participou da primeira turma de missionários no Hospital Emílio Ribas.

Em entrevista ao Portal Arquisp, Padre Michelino expressou que esta foi uma das melhores experiências como missionário, em que aprendeu a vencer os preconceitos com a ajuda dos médicos e do próprio Padre João Mildner.

“Passávamos a tarde toda visitando pacientes, tínhamos total acesso aos leitos. Conversávamos com os pacientes, cada um com sua história de vida. Chorei com muitos deles, rezei com seus familiares. Sentia uma grande necessidade de lhes transmitir conforto, alívio e a verdade de que eram amados por Deus”

O religioso lembrou de uma história que viveu neste período missionário. “Me recordo de um paciente especial por quem rezo até hoje, seu nome era Marcelo. Ele estava tão fraco e com tantas feridas. Perguntei-lhe se ele tinha medo de morrer e respondeu-me que não queria deixar a mãe sozinha. Eu lhe confortei dizendo que Deus a amava mais do que ele poderia amá-la e que ela ia ficar bem. Ele sorriu e duas horas depois entregou sua vida a Deus”.

A experiência missionária e pastoral no Hospital Emílio Ribas trouxe aprendizado para sua vida sacerdotal. “ Nos ensinou a amar os doentes, a nos aproximarmos deles e a rezar com eles. E nos fez descobrir o quão importante é a presença do sacerdote junto aos doentes, em um momento em que o ser humano experimenta o ápice da dor, da solidão, da humilhação e de suas próprias fragilidades”, encerrou Padre Michelino.