Em encontro com Dom Odilo, padres novos partilham suas alegrias e dificuldades

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Padres com até oito anos de ministério presbiteral participam de encontro com o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, realizado na segunda-feira, dia 23
Publicado em: 26/10/2023 - 13:30
Créditos: Redação

Na segunda-feira, 23, na Abadia de Santa Maria, das monjas da Ordem Beneditina, no Tucuruvi, zona Norte da capital paulista, os padres novos atuantes na Arquidiocese se reuniram com Dom Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano.

Trata-se de um encontro anual entre os padres que têm até oito anos de ministério presbiteral e o Cardeal, uma oportunidade tanto para tratar de assuntos relevantes para a vida sacerdotal desta porção do clero quanto para manifestar maior proximidade entre os sacerdotes e o Prelado, rezar e celebrar juntos e, também, partilhar e confraternizar.

Com a participação de 38 padres (outros cinco não estavam presentes devido aos estudos em Roma e à missão no Maranhão), a atividade foi iniciada com a oração da Hora Média, no dia em que a Igreja recordava a memória de São João de Capistrano, considerado exímio pregador e chamado de apóstolo da Europa.

Ao mencioná-lo, Dom Odilo lembrou que o exemplo deixado pelos santos deve basear-se em seu testemunho de vida e sua contribuição para a vivência da fé.

“Mais do que aquilo que a piedade popular costuma, muitas vezes, atribuir aos santos, é preciso perceber a relevância de seus ensinamentos. Eles foram capazes, por meio de exemplos concretos, de levar uma vida de abandono em Deus, deixando-nos um patrimônio, isto é, o legado do que é verdadeiramente ter fé”, afirmou o Arcebispo.

PARTILHA

Este ano, como primeira atividade, Dom Odilo propôs que os padres se dividissem em grupos, cada um deles com integrantes que tivessem tempos de sacerdócio distintos, para partilhar sobre quais têm sido as maiores alegrias e as maiores dificuldades inerentes à vivência do ministério presbiteral.

De maneira unânime, os sacerdotes revelaram que as maiores alegrias se encontram na oportunidade de ministrar os sacramentos, celebrar com o povo de Deus e estar próximo dele, fazer-se presente. Isso se traduz na Eucaristia, na Confissão, no Batismo ou no Matrimônio, mas também na Unção dos Enfermos levada aos hospitais, aos asilos e às residências dos doentes, nas Exéquias, na direção espiritual, nos aconselhamentos, nas visitas aos paroquianos, no contato fraterno com os fiéis, entre outras coisas, todas elas ocasiões em que se sentem uma extensão das mãos de Deus, servidores de Seus bens aos irmãos.

Por outro lado, as maiores dificuldades residem na gestão administrativa das paróquias, seja no tocante a questões de ordem financeira, manutenção de equipamentos, reformas, regularização de documentações em órgãos públicos, excesso de burocracia, escassez de recursos, entre outras, que demandam esforço e tempo, impedindo que os padres se dediquem mais e melhor às atividades pastorais e ao povo.

Dom Odilo lembrou que a administração das paróquias não é algo com que se deva lidar sozinho. É preciso contar com a ajuda dos leigos, não somente para os eventos e festas, mas, sobretudo, por meio dos conselhos, tanto pastoral quanto administrativo, partilhar as tarefas e responsabilidades. Os irmãos padres mais experimentados também devem colaborar. O Arcebispo salientou que os párocos que possuem vigários não devem deixar que estes fiquem alheios às questões administrativo-financeiras das paróquias, pois aprender na prática é a melhor maneira de se administrar.

“É importante que os padres mais experientes permitam que os padres novatos tenham a oportunidade de conhecer detalhes sobre a gestão administrativa e financeira das paróquias, e possam, assim, transmitir o que sabem, preparando os mais novos para bem desempenhar este papel no futuro”, assegurou.

Os padres também alegaram que o dia a dia que se leva na paróquia é muito diferente daquele vivido no seminário. Antes da ordenação, havia a vivência comunitária e o ambiente seminarístico permitia, além do cultivo de uma vida de oração mais intensa, o contato com a família de modo mais frequente. Já nas paróquias, o dia a dia é mais solitário e, dada a agenda repleta de compromissos, manter a regularidade dos momentos de intimidade com Deus e o cultivo das relações familiares não são tarefas das mais simples.

CELIBATO

Em outro momento, o Cardeal Scherer enfatizou que a reta conduta moral é um aspecto fundamental da vida dos ministros ordenados. Nesse sentido, ele explicou que todos são chamados a observar o celibato, pois se trata de uma consagração ao Reino de Deus, como fez Jesus Cristo, uma promessa assumida por todos os clérigos.

“A vivência do celibato deve ser para nós parte da nossa mística cotidiana. Se não se cuida disso, a vida se perde. Não se trata apenas de não se casar, como se todo o restante estivesse liberado. É algo muito mais amplo, é preciso saber se governar! O celibato não é a vivência de um não, mas de um sim, de um amor por inteiro, com o coração indiviso. Viver o celibato é cultivar a virtude da castidade, cultivar a própria afetividade, de modo sadio, sem tendências desviantes. Para tanto, é preciso buscar ajuda na direção espiritual, na Confissão e até mesmo em profissionais habilitados”, afirmou o Arcebispo.

PROTEÇÃO DE MENORES

Nesse contexto, Dom Odilo ampliou a reflexão e mostrou que tudo o que acontece nos espaços eclesiais também é da responsabilidade dos clérigos. Se houver um abuso, um estupro ou qualquer ato libidinoso na paróquia, a responsabilidade recai sobre o ministro ordenado ali atuante. Assim, o Arcebispo trouxe à discussão, como aconteceu recentemente no Curso de Atualização Teológico-Pastoral do Clero Arquidiocesano em setembro, em Itaici, um documento que foi apresentado à Arquidiocese no fim de setembro: as Diretrizes para a Proteção de Menores e dos Adultos Vulneráveis contra Abusos Sexuais.

Conforme explicou o Prelado, com essa publicação, a Arquidiocese de São Paulo se une aos esforços de toda a Igreja Católica, em sintonia com as determinações do Papa Francisco, por meio do motu proprio Vos estis lux mundi, e com os procedimentos adotados pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na proteção dos menores e dos adultos vulneráveis contra abusos sexuais e todo tipo de abuso e violência, promovendo ambientes seguros contra tais delitos.

O documento explica que, conforme a legislação canônica, se considera menor “toda pessoa com idade inferior a 18 anos” e acrescenta que “é equiparada ao menor a pessoa que, habitualmente, tem o uso imperfeito da razão”.

Quanto ao conceito de adulto vulnerável, a norma considera “toda pessoa em estado de enfermidade, deficiência física ou psíquica, ou de privação da liberdade pessoal que, de fato, mesmo ocasionalmente, limite a sua capacidade de entender ou querer e, em todo o caso, de resistir à ofensa”.

Dom Odilo explicou que a Igreja preconiza total solidariedade com as vítimas de abusos sexuais e sempre estará à disposição delas para apurar os fatos e tomar todas as providências cabíveis. Concluiu dizendo que a melhor política de prevenção a tais delitos é a vivência da lei moral, ou seja, a observância da virtude da castidade.